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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A Musicalidade (Portugal não é Brasil - XXX)

Quando estamos longe de nossa pátria, qualquer coisa que nos remete a ela, tem um forte impacto sobre nós.

E a música tem um especial impacto porque nos remete às nossas raízes mais profundas, de nossa terra, de nossa  cultura, e de momentos em família. 

E sempre estamos a ouvir alguma música brasileira, porque o português aprecia a nossa musicalidade. 

Para além da musicalidade, há um detalhe interessante a respeito do padrão moral-cultural. As palavras feias, parvas, os palavrões, mudam de cultura para cultura. Sendo assim, alguns funks que nos soam mal, profanos e agressivos, eles sabem do que se trata, penso eu, mas ao mesmo tempo eles não enxergam a mesma agressividade que atinge os nossos ouvidos. 

Digo isso, com alguma base? Sim, sim. Funks muito fortes aos brasileiros foram tocados nas Festinhas de Escola do Murilo, nosso filho de 07 anos, naquela altura. Fiquei "escandalizado", mas logo pensei: "Não há o mesmo peso com que os meus ouvidos recebem". 

A musicalidade brasileira é atraente aos portugueses, pois as nossas músicas estão nas "paradas do sucesso". São tocadas para animar os Parques Aquáticos, são ouvidas nos Centros Comerciais. Enfim, estamos por toda parte. 

E a musicalidade portuguesa aos brasileiros?

Aos ouvidos brasileiros é um misto de curiosidade e estranhamento. 

A música portuguesa mais tradicional, mais ouvidas entre os aldeões, ao som da viola portuguesa e da sanfona, é algo típico, que nos lembra aquelas canções caipiras dos interiores do Brasil. Não é o sertanejo. É aquele tipo de voz, que os mais antigos, chamam de "taquara rachada". Um estridente incómodo e interessante, ao mesmo tempo. 

O que é curioso é ver jovens envolvidos nesse estilo, e com grande audiência nos Programas de Domingo. 

E o Fado?

O Fado é uma mescla de atração e afastamento. O Fado serve a alguns momentos. Especialmente, aqueles em que estamos mais pensativos, e com saudades. O Fado é para sentar, ouvir, e chorar. 

Entretanto, sabemos que dá dança, com alguns mais caracteristicamente animados, num tom acima. Aliás, o "tom acima" é contraditório, porque pode dar à dança, bem como pode cortar mais, agudamente, a alma. 

Acho tão bom essa versatilidade cultural que nossas músicas propõem, sem contar que muito há de afro em ambas.

Enfim, há tempo de chorar e sorrir, tempo de abraçar e não o fazer, tempo de reflexões profundas e de extravasar a alma. E a nossa musicalidade, de todos nós, bem serve-nos a isto. 

Boa música.

FOTO: Música a entrada da Vila de Óbidos

Instagram: @vacilius.lima

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