Sinta-se Em Casa

Entre. Puxe a cadeira. Estique as pernas. Tome um café, e vamos dialogar com a alma.



sábado, 11 de dezembro de 2021

Nos Bastidores da Hospitalidade

Comer bem e dar boas risadas! Esta era a minha vivência ao redor da mesa. Foi assim em família e também no contexto de Comunidade Cristã brasileira.

A hospitalidade era oferecer o melhor, ainda que o melhor não fosse o que tínhamos. Eu preciso confessar: não havia simplicidade no sentido de oferecer só o que podíamos oferecer. O frugal não cabia no prato da Hospitalidade.

Eu vim de uma realidade onde comer era o mais importante quando o assunto era comer. Faz sentido? E um detalhe a mais: vivia eu na cultura Paulista onde, normalmente, era deselegante passar horas nas casas das pessoas, mesmo dos amigos (com raríssimas exceções). Havia um certo limite. Fazia parte do bom senso a certa altura pedir licença, e ouvir por educação: "não vai não, está cedo!" (Ainda que fosse tarde!)

Entretanto, tenho descoberto uma coisa linda na cultura portuguesa: o valor do convívio. Os portugueses passam horas ao redor da Mesa. Diga-se de passagem que "conviver" no Brasil aplica-se ao cotidiano, e cá em Portugal é "convívio", aquele encontro mais alargado ao redor da mesa.

O que acontece ao redor da mesa? Quais as implicações da Hospitalidade?

Edith Schaeffer em seu livro "L'Abri" partilha os bastidores da Hospitalidade desde o trabalho da decoração até o enfrentamento de situações bastante delicadas, e sobretudo um mergulhar profundo de alma e de tempo em aconselhamento, reflexão e oração.

É isto que temos vivido na Associação Evangélica Cascatas. A Hospitalidade traz desdobramentos mais profundos e a frugalidade encontra o seu espaço. Aliás, a simplicidade do prato único especial é algo da cultura portuguesa. A cultura do Banquete e do "self-service" com muitas opções de prato torna a Hospitalidade mais complexa.

E o que acontece num Centro onde as pessoas vêm para ficar? Fazer uma refeição e passar o dia é o menos comum. Normalmente, as pessoas ficam dias e até meses.

Então, floresce a oportunidade de Confissões, Sessões de Aconselhamento, Discipulado, Estudos Bíblicos, Reflexão, Trabalho manual e tempo de oração.

O que vivi em 19 anos de pastorado foram situações que demandavam atenção especial e depois cada um ia para casa, e então marcava-se alguns encontros mais. Num Centro de Hospitalidade há um aprofundamento quantitativo concentrado tanto no ouvir quanto nos temas estudados. Os encontros não são semanais, eles acontecem diariamente, e algumas vezes por algumas vezes no mesmo dia.

Enfim, as fotos ao redor da Mesa não revelam os bastidores da Hospitalidade. As fotos não contam as confissões e as curas, nem as melhores piadas e as lágrimas mais dolorosas, nem mesmo as privações e os milagres da multiplicação, nem ainda a abnegação aguda e as dádivas que algumas vezes são traduzidas em presentes e mimos.

A Mesa, a horta, as criações, a cozinha, o jardim de oração, a lareira, os filmes, os jogos e as brincadeiras, e até os passeios e as caminhadas, são instrumentos que nos tornam mais vulneráveis, e quando abrimos as Escrituras estamos mais receptivos.

Depois de mergulhar neste Ministério vejo que se não houvesse boa base familiar, boa teologia, conhecimento bíblico, vida com Deus e muita disposição e disponibilidade em servir como Cristo serviu aos discípulos, e ainda abertura em receber bem todo tipo de gente, este Centro não passaria de uma Guest House. 

Uma Guest House se safa com uma camareira, uma cozinheira e um manager, no entanto, um Centro de Hospitalidade - para além destes - ora requer um pastor, ora um professor, ora um psicólogo, ora um irmão, um pai ou uma mãe, ou um servo, ou simplesmente um igual, um ser humano, gente que precisa Deus, gente que precisa de gente.

Instagram: @vacilius.lima 

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Round 6 - Qual o seu número?

Aconselho? Não. Por quê? Porque não gosto de ver sangue e sinto-me desconfortável com algumas cenas, especialmente de suicídio. Por outro lado, se tivesse que definir em alguns adjetivos diria: eletrizante, inteligente, sagaz, inquietante e metafórico. Vi a cada jogo a realidade da vida estampada ali.

Vamos a algumas considerações bem pessoais: 

1. Por que tanto sucesso? É porque resgatou as memórias de infância com os jogos e as brincadeiras, as quais revelam os mesmos sentimentos que estavam em nós quando criança, no entanto, agora de maneira potencializada e desenvolvida no mal. Também ficávamos com raiva e queríamos vingança, mas logo passava. Já na série as mesmas brincadeiras e jogos estão lá, e com os mesmos sentimentos de antes. O que mudou é que a diversão assume a confissão da ganância, do poder e da necessidade.

2. Um ambiente lúdico não combina com atrocidades. Entretanto, não é isto que acontece em algumas escolas e lares? Lugares que deviam ser de proteção e diversão, acabam por se tornarem macabros. 

3. Em meio ao caos é possível encontrar gestos de graça e generosidade o que demonstra uma "fagulha" daquilo que foi perdido por causa do pecado. Foi perdido totalmente na perspectiva de que o homem em si mesmo não soluciona o problema, e não foi perdido totalmente porque a graça deixa algo lá, que nos remete ao original da nossa criação.

4. Quando a vida chega no nível do "não tenho nada a perder", aceita-se qualquer proposta, ainda que a própria morte venha no pacote. Aliás, há propostas nas quais a morte é o que há de mais certo. 

5. Quando se está no fundo do poço faz-se necessário enrijecer-se e conviver com o caos. Assumi-lo como parte da vida é uma maneira de reagir.

6. Vidas valem dinheiro. Não é o que fazemos quando sufocamos o que traz vida em nome daquilo que é transitório? Temos muitas dessas trocas no dia-a-dia. Qual é a sua?

7. No caos, o caos aumenta. E a desesperança assume dimensões "inescapáveis" em si mesma.

8. O embrulho da morte, um caixão envolto em fitas, revela que ela é um presente quando a vida já foi perdida - na perspectiva dos manipuladores e dos impiedosos.

9. Quem consegue manter a calma e raciocinar, vai mais longe. O desespero na hora do desespero diminui a ponta da esperança.

10. Triste. Muito triste é quando a vida precisa ser decidida entre duas vidas. Acontece todos os dias.

Quando olhamos o sistema de saúde não seria um jogo que envolve morte? Não foi exatamente isto que assistimos na Pandemia? Não é isto o que acontece todos os dias quando Hospitais limitados de capacidade atendem alguns em detrimento de outros? Aliás, os milhares que estão na fila de espera por um órgão, ou simplesmente para uma consulta ou tratamento, não estão dentro de um jogo de vida ou morte? 

11. Aquela "fagulha" de graça e misericórdia mesmo no caos, em situação de risco é capaz de dar lugar a atrocidades desumanas, quando a ganância toma o seu lugar.

12. O dinheiro não resolve os problemas mais essenciais, antes porém, a falta dele potencializa-os. 

13. Os poderosos em sua ganância não veem o seu próximo como gente, mas simplesmente como um número que pode ser eliminado a qualquer momento, enquanto eles assistem e se divertem. 

14. Um ponto à parte seria um positivo. Tem coisa boa? Sim, sim. Tem, tem. Esta série tem provocado um retorno às brincadeiras antigas. Meu filho Murilo não assistiu, mas brinca de Greenlight Redlight ou Batatinha Frita 1, 2, 3.  E nós entramos na brincadeira. É bem divertido. 

Vamos parar de demonizar o que é bom porque alguém usou mal. Brincar faz parte da essência do ser humano. Deus nos criou assim, com esta veia lúdica.

15. Outro ponto bastante positivo é que existe uma conexão fortíssima com a família. A família faz parte da espinha dorsal. Inúmeras vezes, os jogadores estão a buscar suas memórias, e aliás, os jogos acontecem porque os jogadores querem resolver, basicamente, problemas familiares. 

Ainda que a família esteja mal e destruída a vida sempre estará ligada a suas origens.

16. Mais um ponto positivo? Quanta sabedoria naquele velhinho simpático. Sabedoria que se demonstra, inclusive quando se abre a aprender, ou simplesmente a responder a partir do silêncio. Sabedoria que lhe foi acrescentada através dos anos, das vivências e da reflexão.  Fala sério, como o 001 (Oh Il-nam) é uma das melhores personagens.

Ah, não podia deixar de mencionar que há muitas cenas que a mentalidade Ocidental não consegue entender ou aceitar. Uma série feita na Coréia do Sul não tem nada a ver com Hollywood em termos de cosmovisão, e é por isso que nos desaponta algumas vezes. 

E termino com um agradecimento ao produtor e diretor Hwang Dong Hyuk, e também ao Apóstolo Paulo que disse: "Examinai tudo. Retende o que é bom." (1 Ts. 5.21)

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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Os Jardineiros Perdidos

Deus criou todas as coisas e viu que tudo era bom. Ao criar o homem, fê-lo para que fosse o jardineiro de sua criação. E o que somos agora?

Não temos dúvida de que a nossa missão hoje é a Grande Comissão – e faz parte dela pregar todos os desígnios de Deus.

Faz parte da mensagem do Evangelho que todo discípulo seja mordomo e, por isso, cuidar do Jardim.

A Grande Comissão existe porque a nossa primeira missão foi perdida, a de cuidar do jardim. O resgate da comunhão com o Criador implica o cuidado da Criação.

Qual é a problemática? É que pensamos resgatar apenas almas, como se fossem apenas exploradoras deste mundo a favor de um Reino Futuro.

De um lado, estão aqueles cujo mundo criado, caído, promove algum bem ou prazer, mas não passam de “vãos terrestres esplendores”, como eu cantava quando criança. E nesta direção também cantava: “No espaço sideral há um lar sem igual, para quem serve a Deus com alegria.” O que é isto? A criação não passa de um “carma” que precisamos superar?

Por outro lado, há uma tendência de exploradores da Criação a favor da Igreja e da obra missionária. A ordem é ganhar dinheiro, de alguma ou qualquer forma, e investir naquilo que é espiritual e eterno. As coisas criadas jamais fariam parte das coisas eternas, então só esperam o dia que serão queimadas pelo fogo, pensam alguns.

Erroneamente, interpretam 2 Pedro 3:12 como a mensagem final: tudo será queimado pelo fogo. Nem vale a pena agora entrar no mérito de que o “queimado” é “purificado”. O que importa é não parar no texto. Se seguimos, chegamos ao verso 14: “Por isso, amados, enquanto aguardais estes eventos, esforçai-vos para que sejais encontrados por Ele em plena paz, sem mácula e livres de culpas diante dele.”

Uma mácula e uma culpa que os discípulos não deveriam ter é afrontar a Deus ao destruir sua Criação ou simplesmente não cuidar dela.

Imagina um animal em extinção? Quanto do tempo e do amor de Deus foi dispensado no ato da Criação? Sem contar que Deus estabeleceu interdependência em sua Criação. Quando perdemos uma espécie, prejudicamos outras. Ou seja, é como se disséssemos a Deus: “Não precisaria ter investido tanta criatividade nisto.”

Bem disse Peter Harris, fundador de “A Rocha”, que o nosso chamado é para relacionamento com Deus, com as pessoas e com a Criação, e que a gratidão é uma das diferenças que demonstramos.

Como cultivar a gratidão sem o cuidado prévio? Sou muito grato a Deus pela  existência de movimentos nesta direção. Ouvi numa Palestra de Guilherme de Carvalho pela ABC²– Cristãos na Ciência – que estão trabalhando no Projeto Éden, um movimento que envolve a Aliança das Igrejas Evangélicas e outras frentes, gente responsável e visionária que trabalha para que tenhamos música, reflexão e projetos que enalteçam o Criador e que zelam por sua Criação.

A questão da responsabilidade ambiental precisa fazer parte da agenda daqueles que foram alcançados pela Grande Comissão e que agora podem resgatar a sua missão como jardineiros da Criação.

O que comemos? Quais produtos compramos? O que fazemos com os “restos”? Quanto investimos em projetos com estes?

Lembrei-me de minha filha Jamily ao comprar um cosmético. Ela preferiu o produto que não fazia testes em animais. São atitudes como essas que devem nos impulsionar.

E não podemos nos contentar apenas em fazer reciclagem. Precisamos avançar. Fazer compostagem. Comprar alimentos mais saudáveis e investir em projetos que, para além de missionários, dignificam a missão perdida.

Aliás, a começar dos missionários, deveríamos ser os primeiros a enxergar o campo, não apenas como um campo de batalha, mas também como um campo criado, a ser cultivado e cuidado. Os missionários são pessoas de influência que podem abençoar muito à sua volta.

É mais do que fazer alguma coisa para ganhar almas: é fazer da mordomia parte da missão de Deus.

Um alcançado que assume a sua jardinagem glorifica a Deus como mordomo.

E não para por aí, porque ao ser um bom mordomo, num relacionamento satisfatório com o Criador, não cairemos numa espécie de “panteísmo evangélico” que só fica na contemplação, mas que busca trazer um número maior de jardineiros perdidos.

Vamos missionar para resgatar mais do que almas?

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terça-feira, 3 de agosto de 2021

A Criação Adora

Podemos adorar no deserto ou em meio aos "arranha-céus", entretanto, quando estamos mergulhados na Criação há uma conexão diferente. 

Por quê? 

Porque a criação também adora. Sabe quando nos juntamos a pessoas que gostam e fazem as coisas que também gostamos? 

É mais do que nos sentirmos em casa. É abraçar juntos no mesmo propósito. 

O Salmo 148 fala que cada coisa criada louva ao Criador, e esta conexão de que estamos a falar. 

Quando paramos tudo para contemplar um "sunset" com as suas cores alaranjadas, ou simplesmente um flor, o que estamos a fazer? 

Estamos a dar as mãos com aquilo que faz o mesmo que estamos nós a fazer. Que maravilha!

Quando contemplamos os céus, as árvores, os animais, num ato de contemplação não apenas a coisa criada, mas ao Criador, estamos a adorar juntos, no mesmo momento e local. 

É uma congregação reunida num ato de culto. 

Contemple a natureza, cuide dela, promova o seu bem, e ao contemplar não se esqueça de que está diante do Criador e eles também, num ato reconhecimento de Sua majestade. 


domingo, 18 de julho de 2021

Ser abraçado na Solitude

Como tratar do nosso coração? Como enfrentar o sofrimento? Como ser renovado na esperança? Como não permitir murchar completamente? Como ver brotar um ramo numa árvore seca?

Dentre outras possibilidades, cultivar a solitude é um caminho necessário que pode cooperar e sustentar outras ações. 

"O sofrimento traz paciência... e a paciência traz a perseverança, e a perseverança traz a esperança, e essa esperança não engana, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado." (Rm. 5:4-5)

A partir deste texto veja o que comenta Henry Nouwn:

"Na solitude, conhecemos o Espírito que já nos foi dado. As dores e lutas que encontramos em nossa solitude tornam-se assim o caminho para a esperança, porque a nossa esperança não se baseia em algo que acontecerá depois que nossos sofrimentos acabarem, mas na presença real do Espírito curador de Deus em meio aos sofrimentos. A disciplina da solitude permite-nos entrar gradualmente em contato com esta presença esperançosa de Deus em nossas vidas..."

Refletindo a partir destas palavras de Henry Nouwn apreendemos que a solitude está intimamente relacionado com um bálsamo especial que alivia e renova. 

Não podemos lutar sozinhos. 

Precisamos de pessoas queridas, precisamos de amigos, precisamos de boas leituras, precisamos de tempo de convívio, precisamos ouvir especialistas, precisamos ouvir gente do povo, precisamos estar atentos ao que acontece a nossa volta, precisamos trabalhar e honrar nossos compromissos, precisamos comer e beber, e precisamos igualmente de solitude.

Separe um tempo para si, consigo mesmo, e desfrute da doce presença do Pai das Luzes, em quem não há sombra de variação, e que é o galardoador daqueles que O buscam. 


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sábado, 17 de julho de 2021

A Importância da Geografia na Solitude

Quem não gosta de Jardins? Quem não seria atraído a admirar os montes e as montanhas? E eles são ainda mais incríveis quando lá estamos. É onde queremos "tocar". 

Não é incrível caminhar entre plantas e flores, e sentar-se no relvado? As montanhas não são ainda mais fantásticas quando lá de cima os nossos olhos ganham um poder de alcance impressionante? 

Outra particularidade dos jardins e das montanhas é que eles nos lembram que Jesus deles desfrutou. 

Jesus derramou a sua alma no Getsêmani. Jesus foi ao monte não só para pregar, mas fazia parte de sua agenda de oração. 

Todos nós precisamos de um “monte”  para onde possa fugir e de um “jardim” onde possamos chorar as gotas de sangue.
 
O “monte” é o local e tempo em que não é permitida a influência direta de ninguém. O ideal é seja offline. Se vamos ao “monte” conectados, recebemos todas as influências que invadem e bloqueiam a nossa pessoalidade. As conexões precisam ser interrompidas. Aquele tempo é dedicado a oração e auto-reflexão. 

Não pode ser só de oração porque precisamos ficar quietos e ouvir, nem pode ser apenas de reflexão porque derramamos nosso coração.

Este "monte" pode ser o nosso quarto, especialmente quando sozinhos fechamos a sua porta e ali somos vistos pelo Pai que está e nos recompensará em secreto.

E os jardins? Onde podemos encontrar o nosso Getsêmani? Aliás, o nosso “Getsêmani” é o jardim onde a nossa alma será melhor derramada. 

E se vamos online ao “jardim”? Não seremos capazes de “chorar” o nosso choro, as nossas próprias angústias, antes as dos outros.
 
Quantos conflitos, irritabilidade, tensões e percalços porque estamos cheios de coisas que deveríamos ter semeado em nosso jardim mais pessoal.
 
A geografia ajuda muito, mas um lugar e um tempo sem interrupções, ligações, mensagens, precisam ser – intencionalmente – criados por nós.
 
Qual foi a última vez, offline, que você subiu ao “monte” e entrou no “jardim”?

terça-feira, 8 de junho de 2021

Meta-Narrativa

Qual é a história mais importante?

Qual a importância da nossa história diante da História maior? 

A particularidade de nossa história não está desconexa da História que Deus está a escrever, ainda que façamos tudo errado. 

A pena da escrita não sai da mão de Deus em momento algum. Quando tudo dá errado e/ou fazemos até mesmo contra a vontade de Deus, não muda em nada aquilo que Deus decidiu em Seu próprio conselho. 

"Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro?" (Rm. 11.34)

Somos a obra-prima, então o Grande Artista precisa caprichosamente atender aos nossos desejos? De maneira alguma. 

Por que que os amigos/inimigos de Jó quando o foram visitar, tiveram uma postura de juiz? Eles colocaram Deus numa mini-caixa, a caixinha do toma-lá-dá-cá. 

Acontecimentos individuais não revelam com clareza a grande História, necessariamente. É confusão pura querer compreender algumas catástrofes, pandemias, desastres naturais, mortes repentinas e imprevistas.

Nada, nada, e tudo ao mesmo tempo pode servir a meta-narrativa. Soberanamente Deus está a desenrolar o livro. Não o livro do fatalismo onde nada podemos fazer. 

O livro que Ele escreve pode ter a nossa cooperação ou não. 

Não murmurar, submeter a Sua vontade, e nunca julgar porque acontece isto ou aquilo, é uma boa maneira de enxergar uma "pena" maior que a nossa própria. 

Um exemplo? A história pessoal de José do Egito. Não era uma história desconexa da Grande História. O caso de José é fácil de "linkar" porque o seu desfecho é conhecido de todos. 

E aqueles casos em que o silêncio de Deus fica no peito de quem daqueles que sofrem? Esses poderão prosseguir se desfrutam do Emanuel, a presença absoluta de Deus em meio a fragilidade humana. 

Tudo, tudo, tudo haverá "de fazer convergir em Cristo tudo quanto existe" (Ef. 1.10).

Talvez por isso mesmo haverá um Dia em que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor (Fp. 2.10-11).

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quarta-feira, 26 de maio de 2021

A Hospitalidade e o Evangelho no Cotidiano

A hospitalidade deveria ser parte de nosso dia a dia, pois nos permite vivenciar muito do que ouvimos e cantamos no Domingo. 

Aliás, deveria ser uma porta de continuidade de nossa liderança, que ora serve, ora desfruta do servir dos outros. 

"Servi uns aos outros..." (1 Pe. 4.10) é um daqueles mandamentos de mutualidade. O servir propõe ao outro desfrutar, assim tal como o outro também servirá ao desfrute daquele que serviu. 

Stephen Crawford, num artigo da CBMW.ORG fala sobre a tendência da descontinuidade entre um domingo e outro, durante a semana. Ele escreve:

"Como criamos um senso de continuidade entre os cultos dominicais e toda a vida cristã? Ou, dito de outra forma, como podemos lutar contra a sensação de descontinuidade que muitos adoradores de domingo sentem entre o que acontece nos santuários no Dia do Senhor e a "normalidade" do resto da semana? Como nós, como cristãos comuns, permitimos que o sagrado se espalhe para o dia a dia? Uma resposta está na maneira como vemos nossas casas e praticamos a hospitalidade. O ato de hospitalidade permite que a sacralidade da adoração cristã e a realidade da mensagem do evangelho se espalhem no dia a dia, e nos faz ver muitos dos deveres domésticos e da rotina como lugares onde a ética do reino de Deus realmente prevalece de nossos corações e vidas."

A expressão que gostava de pinçar é: "senso de continuidade". A hospitalidade une um domingo e outro. Ela traz a oportunidade do servir mais básico.

Jesus, o nosso Mestre, ao qual devemos ser moldados, lavou os pés dos discípulos (João 13.1-17). O ato de lavar os pés era um ato comumente usado numa atitude humilde em dizer: "És muito bem-vindo!" O "lavar os pés" contextualizado às nossas maneiras de melhor fazer, é um sinal contundente de hospitalidade. 

No preparo da casa, das refeições, do ambiente, sempre haverá um espírito de servo que não pode ser apenas de um. Toda a família que aprende a alegrar-se com a hospitalidade cresce em comunicação, partilha e servir mútuo. 

O servir não acontece sozinho. Ele vem com o fruto do Espírito. É uma rica oportunidade de partilhar o amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl. 5.22-23).

Aqueles que recebem as pessoas em casa sabem o quanto é um ambiente oportuno de cultivo do fruto do Espírito, pois há tensões e bênçãos prévias e posteriores, e quiçá haverá enquanto estamos a receber. 

Que tal "oportunizar" a sua casa, e a casa de outros com a sua visita, a bênção da continuidade não apenas do servir, mas também do desfrutar? 

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Hospitalidade: Lugar de Cuidado e Cura!

A hospitalidade é, sem dúvida, um instrumento da Graça de Deus. Ela aspergi um bálsamo de renovo e cura.

Faz parte da hospitalidade uma boa refeição, feita com amor. Entretanto, é muito mais que comida e uma cama preparada. 

Faz parte da hospitalidade despir-se para ouvir - atentamente - o que o outro deseja dizer. E no falar há partilha, há derramamento, há confissão.

"Confessai as vossas fraquezas uns aos outros para serdes curados..." (Tiago 5.16)

Haveria melhor ambiente para a confissão e o abrir do coração que o aconchego da hospitalidade? 

É muitas vezes ao redor da mesa que as pessoas se desarmam e se derramam, e ainda se tornam vulneráveis. Uma vulnerabilidade positiva de ser que somos. 

Por que acontece assim? Porque um ambiente seguro e confiável promove partilha, e muitas vezes das mais profundas e intocáveis até então.

Quando os temores são partilhados, eles já não assustam tanto.

Quando as alegrias são celebradas, elas se multiplicam. 

Quando os pecados são confessados, eles não têm o mesmo peso.

Quando as desesperanças são divididas, vê-se a luz do amanhã.

Hospitalidade é mais que um prato, é mais uma cama. 

Hospitalidade é um bálsamo, é uma abraço na solidão, é um olhar de esperança, é uma oportunidade de sentir-se o centro de toda atenção. 

Não há mais ninguém além daquele que é recebido, e quem é recebido sente o quanto ele importa.

Importa muito a pessoa em si, independentemente das limitações e dificuldades que ela pode trazer.

Não poderia ser diferente? 

Infelizmente, até pode, se não temos as perspectivas e motivações corretas.

A perspectiva é servir da melhor maneira, a motivação é o que Deus está a fazer na vida de quem recebemos. 

Sendo assim, o bálsamo do cuidado e da cura andam juntos.

O que mais poderia ser bálsamo e cura para além da presença do Espírito Santo sendo ministrada? 

Dentre as várias visitas e atos de hospitalidade na Bíblia, podemos hoje mencionar quando Maria, mãe de Jesus, entra na casa de Zacarias e saúda Isabel. João Baptista saltou em seu ventre e ela foi cheia do Espírito Santo e alegria. A mesma alegria desfrutou Maria que entoou: "Minha engrandece o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador!" (Lc. 1.39-47)

A hospitalidade é uma bênção de mão dupla. A alegria no Espírito pode ser desfrutada tanto por aqueles que recebem como por aqueles que são recebidos. 

Abre as portas e deixe o bálsamo da alegria no Espírito ser derramado, ainda que num primeiro momento haja lágrimas. E permita-se ser recebido por outros também.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Hospitalidade Sutil e Nociva?

Hospitalidade é sinônimo de boa acolhida. É abraçar quem está de fora. Colocar para dentro e incluir no lar. É dizer: seja muito bem-vindo, e faz parte connosco.

Hospitalidade como acolhimento está relacionado com pessoas, por outro lado, podemos dar boa acolhida a coisas também. 

Boa acolhida a coisas boas como um bom livro, uma boa música e um bom filme. 

E a boa acolhida a coisas nocivas?

É sim muito perigoso acolher tudo que vem de fora. E a tecnologia traduzida em redes sociais, e sites disponíveis para o que desejarmos, comumente são acolhidos como parte de nosso lar. 

Avaliamos quem deixamos entrar? 

É também sutil e nocivo não apenas quem e o que deixamos entrar, mas também o quanto eles desagregam. 

Vários aparelhos ligados ao mesmo tempo. A privacidade é boa ao trabalho, aos estudos e ao lazer. Entretanto, devemos acolher a tecnologia como aliada da família e não como instrumento de desagregação.  

Faz parte da boa acolhida, de uma família que assume a bênção da Hospitalidade, preservar-se ao redor da mesa, com todos os aparelhos desligados, e distantes daquele tempo sagrado em família. Aliás, nem uma chamada telefónica é digna de interromper as conversas ao redor da mesa. 

A que distância o seu aparelho fica quando você está a partilhar a refeição com a família? 

A família que cultiva tempo ao redor da mesa, com boas conversas, todos desconectados, estão mais preparados para acolher outros, e consequentemente evitar o perigo da alienação como acolhida a tudo o que desagrega. 

Também não deveria haver a acolhida virtual-tecnológica quando estamos na cama. Aparelhos ligados não nos desliga. Provoca a dopamina, este neurotransmissor que produz uma sensação de prazer e que aumenta a motivação. As horas passam a voar e depois estamos cansados e com menos horas para dormir.

"O uso descontrolado da tecnologia causa prejuízos na vida das pessoas como um todo. Elas perdem o foco das coisas realmente importantes e têm uma qualidade das relações empobrecida. Isso é pouco percebido, principalmente por quem é viciado em jogos. A pessoa perde o foco, fica mais distraída, retém menos informações e tem uma diminuição da memória", observa Dora observa Dora Góes, psicóloga do Programa de Dependências Tecnológicas do IPQ (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas).

Tome a melhor decisão. Não acede nada quando na cama. Não dê boa acolhida as redes sociais. Antes, porém, cultive um tempo de solitude, de gratidão pelo dia, de intercessão. 

E faz de seu lar, um ambiente de hospitalidade, de boa acolhida a coisas boas de maneira a agregar. 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Hospitalidade com Trancas

É uma bênção ter as portas abertas? Sim, sim. É uma bênção, e também um perigo. Perigo? Por que uma bênção também seria um perigo? 

Seria o perigo em receber a visita errada? O perigo em recebermos alguém com carácter duvidoso? Pode até ser assim, este tipo de perigo. Entretanto, há um perigo ainda mais grave. O perigo de não termos o equilíbrio devido entre o convívio com os outros e o viver da família enquanto família.

Ouça o que Edith Schaeffer, esposa de Francis Schaeffer, fundadores de L'Abri - uma casa de hospitalidade, diz sobre hospitalidade:

"Uma família é uma porta com dobradiças e tranca. As dobradiças devem ser bem lubrificadas para abrir a porta nas horas certas; a tranca deve ser firme para que as pessoas saibam que a família precisa estar sozinha parte do tempo, apenas para ser família." (O que é uma Família?)

A família precisa estar sozinha apenas para ser família. O que é ser família? É ser quem somos, sem receios. É derramar-se em liberdade de brincar e sorrir, de sentir e chorar, de pecar os pecados mais básicos do relacionamento, se constranger e confessar com sinceridade, na esperança e no compromisso de que queremos ser melhores que somos. 

Precisamos ser família com privacidade e liberdade, e descobrir que devia fazer parte do ser família abrigar outras famílias.

Abrigar de portas abertas, sem o deslize em nunca fechá-la. 

Quantas visitas são-nos um bálsamo de alegria e cura, e quanto das nossas visitas recebem esta mesma bênção. Por outro lado, precisamos admitir que há trabalho envolvido neste processo. 

Trabalho e investimento provocam cansaço. O que não pode é provocar canseira. O cansaço é parte do trabalho. Então, se descansa e toca a andar. Já a canseira é o cansaço acumulado sem a bênção do descanso devido. 

A hospitalidade que não coloca limites recebe uma invasão que é nociva à qualidade da vida familiar. 

Hoje o convite é para abrirmos as portas com cuidado. Colocar limites a todo e a tudo que invade o tempo de qualidade de nossa família em sua particularidade.

Seja o hospitaleiro! Seja família "out" sem deixar de ser família para dentro.

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Cuide-se! O Perigo do Burnout

"Você sabia que 75% dos pastores já tiveram pelo menos uma vez alguma crise importante relacionada a estresse?"

"E que 80% consideram que o ministério pastoral afeta suas famílias negativamente."

"E ainda, 33% dizem que estar no ministério é claramente um risco para as suas famílias."

"Uma das razões possíveis é que 80% dos pastores dizem que não passam tempo suficiente com a esposa." (Pastors at Greater Risk - Pastores em Risco de H. B. London Jr.)

Wayne Cordeiro partilha em seu livro "Andando com Tanque Vazio" que sofreu uma "Hemorragia Emocional". O que é isto? É quando a serotonina se exaure. Este hormônio que traz bem-estar e que se reabastece especialmente no descanso perde a força e dá lugar a adrenalina. E então, nas palavras de Wayne Cordeiro, acontece uma "fritura interior constante". 

Por que tudo isto acontece? Quais as possíveis razões? 

1. Acumulo de anos seguidos de uma agenda insensível para o descanso intencional. 

2. Ausência de tempo desligado de tudo com a família, ao redor da mesa, sem tecnologia, sem atender chamadas, sem olhar mensagens.

3. Falta de um dia de descanso semanal e férias anuais. 

4. Descuido com o próprio corpo, tanto em exercícios físicos como em alimentação. Aliás, algumas vezes a alimentação torna-se a grande fonte de serotonina, o que não é saudável. 

5. Não seriedade com a vida relacional amorosa. Relacionamento íntimo no automático, apenas como um escape superficial e que não comunica todas as afeições necessárias.

6. Acesso a conteúdos apenas para responder as demandas de trabalho sem o cultivo prazeroso de uma leitura livre. 

7. Suposição enganosa de que todas os desafios, oportunidades e necessidades precisam ser atendidas como prioridades, e cair assim na tirania do urgente.

Não acha que um estilo de vida assim é prejudicial? Veja se está dentro destes sinais de advertência partilhados por Wayne Cordeiro:

1. Sensação de desesperança; 2. Lágrimas frequentes; 3. Dificuldade para se concentrar; 4. Dificuldade para tomar decisões; 5. Irritabilidade; 6. Insônia; 7. Níveis de atividades menores; 8. Sentimento de solidão; 9. Falta de atração conjugal; 10. Distúrbios alimentares; 11. Dores.

E agora? O que fazer? Qual o caminho da restauração? Como não adoecer? Como evitar o burnout

O primeiro e grande passo é re-pensar a si mesmo à luz de nosso Modelo-Jesus. Ele ocupava-se com os discípulos e o ministério, mas sempre numa perspectiva relacional. E dentro ainda do relacional Ele fazia as suas retiradas para estar sozinho e também com o Pai.

Por que a vida com ênfase em relacionamento é mais saudável? Porque ela não anda no ritmo do mercado, do consumismo e do marketing. Ir na contramão significa conectar-se às pessoas, a Deus e a si mesmo. 

É o cultivo da contemplação. É intencionalmente retirar-se. Ter um tempo de solitude. Tempo de não somente falar com Deus, mas de ouvir o pulsar do próprio coração. Tempo de ouvir Deus na natureza, na beleza das coisas criadas, no cantar do pássaro, na exuberância de uma flor, ou simplesmente em sua fragilidade. 

Jesus não falou para olharmos o lírios do campo?

Também é um tempo de descanso. Abrir-se para uma soneca sem compromisso. Permitir-se parar. 

Talvez seja tempo, e de tempo em tempo, precisamos parar de falar sobre o cuidado de Deus, e passar a experimentá-lo em nossa particularidade. 

Nós precisamos de Deus, e Ele sabe que precisamos de pessoas, e também sabe que precisamos de nós mesmos. 

Qual será o seu próximo passo? Como pode recomeçar, ainda hoje?

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terça-feira, 6 de abril de 2021

A Esperança não Elimina o Luto

A coisa mais incômoda quando estamos num processo de luto é ouvir: "Deus está no controle!" 

Quem está de luto precisa do abraço confortante de Deus e das pessoas, e não de retórica insensível. 

Digo: "Insensível", porque quem está do lado da dor não acredita na compaixão de quem traz discurso pronto e clichês. Ainda que eles sejam verdadeiros e até bíblicos. 

O que questionamos não é o conteúdo das palavras, mas sim a sensibilidade em torno das lágrimas. 

Aliás, temos uma promessa: "Ele enxugará de vossos olhos toda lágrima." 

Alguém não sabe que esta é uma promessa apocalíptica? Certamente, todos nós sabemos.

A promessa de que um dia, naquele grande glorioso Dia, ele enxugará - definitivamente - toda lágrima não tem o poder de secar nenhuma das lágrimas que aqui precisamos derramar. 

A esperança que não nos faz entristecer como aqueles que não tem esperança (1 Ts. 4.1-8), não arranca de nosso peito a tristeza. Ela só é diferente porque tem um horizonte. Porém, ela está lá. 

Enfim, precisamos viver cada momento da vida sem máscaras. E um deles é o processo de luto. Precisamos assumir a nossa humanidade, e chorar, chorar e chorar até o dia em que não mais será preciso, nem possível. 

Quem assim age encontra consolo, pois Jesus disse que seriam bem-aventurados aqueles que chorassem porque seriam consolados. 

Ainda que o consolo venha a conta gotas, ele vem e assim teremos mais saúde para reagir e desfrutar dos pequenos oásis que nos ajudam a seguir na caminhada.

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domingo, 21 de março de 2021

Como reagir ao Sofrimento?

Qual o tipo de sofrimento que passamos?

Há o sofrimento circunstancial – todos passam. Graça e desgraça acontecem a todos.

Há também o sofrimento provocado por nós mesmos. Estaria longe de ser a vontade de Deus (1 Pe. 4.15)

E há o sofrimento por causa de Cristo. Este o sofrimento do texto em pauta.

1 Pedro  4.13-19

O texto foca no sofrimento justo, porque este é o contexto a quem Pedro escreve, forasteiros da Dispersão (1 Pe. 1.1-2).

Como agir frente ao justo SOFRIMENTO?

1. ALEGRAR-se  (13)

A conjugação no original requer um regozijo presente, constante. Não é nada circunstancial porque se trata de "regozijo", quem vem lá dentro e do Alto, ao mesmo tempo. 

Não é sorriso, necessariamente. É gratidão. 

Alegria acompanhada de “bem-aventurança” (14).

Repousa o Espírito da glória” – o mesmo Espírito que capacitou a Jesus, o qual diz aos seus discípulos que não são eles maiores que seu Mestre.

 “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a Mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.” (Jo. 15.20)

2. NÃO SE ENVERGONHAR (16)

Capacidade de assumir a quem servimos, ainda que haja constrangimentos e perseguição.

Este não se envergonhar vem com uma atitude de glorificar o nome do Senhor. Glorificar este que é mais que palavras.

3. TEMER (17-18)

Se o julgamento começa pela purificação da Igreja, imagina o julgamento pelos pecados dos ímpios?

Aqueles que estão em Cristo receberão misericórdia. Afinal, a misericórdia triunfará no juízo (Tg. 2.13)

O temor ajuda-nos a viver de maneira a agradar a Deus. Temer mais a Deus que as circunstâncias.

4. DEPENDER (19)

É a ideia é de entregar para que alguém cuide.

Entregar a alma na prática do bem, diz o texto. Foi assim que agiu Martinho Lutero durante a Peste Negra. Ele fazia bem a sua parte, cuidava-se, e ao mesmo tempo socorria os necessitados. E assim, sabia que se Deus o poupasse seria grato, senão partiria tendo cumprido o seu dever.

Enquanto dependemos, não paramos. 

***

Qual tem sido o seu sofrimento?

Qual tem sido a sua atitude?

Alegrar-se e não se envergonhar? Temer e Depender?

***

(Partilha na Igreja OBPC de Calmon Viana aos 21.03.2021)
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segunda-feira, 15 de março de 2021

Dura Realidade, Delicada Revisão

O que se tem dito por aí sobre os dias maus que estamos a sobreviver? 

Vai ficar tudo bem? Para quem? Onde? Como? 

Não seria tempo de voltar as Escrituras, e repensar o triunfalismo teológico suicida e assassino, que não é só de alguns segmentos evangélicos, mas se descobre naqueles que fazem a boa confissão? 

Fazer a boa confissão do Evangelho e reagir ao mal como se fosse uma invasão de um suposto Paraíso na terra é contraditório. 

Deus no comando? Sim. Mas, é uma frase agressiva aos que estão de luto. Quem está de luto não quer ouvir que "Deus está no controle". A dor não se alivia com palavras, mas sim com compaixão. 

Quem sabe que "Deus está no controle" sabe. Quem não sabe, não será convencido na hora da dor. 

E a expressão tosca: "Já deu tudo certo!"? Quem diz isto está a pensar no último capítulo do Apocalipse? Ou é mais um que, levianamente, profere palavras sem o mínimo de respeito pela dor alheia?

Até a expressão "Deus é fiel", se dita fora de hora são palavras jogadas ao vento. Aliás, esta verdade não muda, mas duvido que 30% dos que a dizem, tenham estudado e entendido o atributo da Fidelidade de Deus.

Clichês e jargões evangélicos são agressivos aos que estão de luto. Parem com isto!

"Mil cairão ao lado teu lado, e dez mil a tua direita, e tu não serás atingido" não pode ser usado nestes dias. É abusivo usar este texto, cegamente. 

"Deus é Deus de milagres!" Eu também creio, entretanto, qual é o milagre que Ele deseja fazer? Não sucumbir ao luto é talvez um milagre maior que ser poupado das lágrimas. 

Praga nenhuma chegará a sua tenda? Quando? Aplica-se a esta Pandemia? Por que então há tanta gente de Deus a morrer? 

O que é mais apropriado para estes dias? 

Honestamente? O que queremos? Queremos um Deus que sirva a todos os nossos desejos? Sim. Queremos. Mas, isto não existe. Queremos um "deus da lâmpada mágica".

Que palavras temos para estes dias? O que não queremos ouvir, porém precisamos? 

"Quem pode acrescentar um côvado a sua existência?" (Mt. 6.27) 

"Não depende de quem quer, nem de quem corre, mas de Deus em usar de misericórdia." (Rm. 9.16) 

"Porque dele e por ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém." (Rm. 11.36)

É tempo de clamar para o Senhor sarar a nossa terra sim. Mas também é tempo de assumir que somos "peregrinos e forasteiros" (1 Pe. 2.11)

Quando Pedro chamou a Igreja a olhar para a Pátria celestial, ele também disse "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse." (1 Pe.4.12)

Chegou o tempo, o kairós de Deus, para cada servo de Jesus olhar para dentro de si mesmo, e questionar-se, se realmente está em Cristo. 

Ou a nossa esperança em Cristo, se limita as coisas desta vida? (1 Co. 15.19)

E para que também esta reflexão não fique sem tato, e sem alma, a esta realidade: "Chorai com os que choram..." (Rm. 12.15). Mais do que palavras, precisamos de quem tenha alma e um coração sensível.

A maior mensagem, que ouvimos de uma amiga agora, é: "Emanuel". Bastou esta palavra, porque é mais que uma palavra. É o Deus que habita em nós, na nossa dor. Que consolo! O Deus que faz o milagre de não nos deixar sucumbir, nas dores. Ele é o nosso bálsamo!

"No mundo tereis aflições. Tende bom ânimo. Eu venci." São palavras mais que palavras. É uma referência de vida, de nosso Mestre. 

E o que podemos orar juntos? "Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos de todo mal." 

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sexta-feira, 12 de março de 2021

A Bíblia é... A Bíblia faz...

O que fazer quando a alma está em meio as cinzas? 

O que fazemos em situações onde a escuridão não nos permite enxergar um palmo à frente? 

Como agir quando o coração está sangrando? 

Como portar-se frente as incertezas desta vida? 

Baseados no Salmo 19:7-10 veremos o que a Bíblia é, por definição, e por conta do que ela é, o que ela produz em nós. 

A Lei do Senhor, a Bíblia, é perfeita. E o que ela faz? Ela revigora a alma. Revigorar é mais que um refrigério, é o bálsamo que cura.

Os Testemunhos do Senhor, a  Bíblia, são dignos de confiança. E o que produzem? Tornam os inexperientes, sábios. Quantas vezes nos falta a sabedoria de Deus para agir. E a Bíblia capacita-nos com a sabedoria do Alto.

Os Preceitos do Senhor, a Bíblia, são justos. E o que provocam? Alegria ao coração. Alegria ao coração triste, mas também ao coração apático. 

Os Mandamentos do Senhor, a Bíblia, são límpidos. E o que nos dão? Luz aos olhos. Luz que expulsa as trevas da dúvida e das incertezas. 

O Temor do Senhor, a Bíblia, é puro. E o que nos oferece? A esperança eterna porque dura para sempre. O amanhã é mais palpável e seguro sem o "des-esperar".

Por que a Bíblia tem toda esta capacidade? Porque as ordenanças do Senhor, a Bíblia, são todas elas justas e dignas de confiança. Ela é a Palavra de Deus. 

E por tudo isto a Bíblia torna-se mais desejável que o ouro puro, e mais agradável que os favos de mel. Ou seja, vale muito nela investir e nela buscar prazer. 

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Bênçãos para a Igreja na Pandemia

Bênçãos e Pandemia são em si mesmas realidades incongruentes. 

Como podemos pensar em bênçãos se todos os dias estamos a viver com o luto de pastores, de pessoas ativas e queridas? E como acréscimo da dor, nem podemos dar um abraço apertado no último adeus.

Como pensar em bênçãos se muitas igrejas estão a quebrar? Pastores estão com seus proventos prejudicados, muitos missionários padecem com o aumento do dólar e perda de algum mantenedor, as reuniões são limitadíssimas. 

No entanto, tem acontecido uma volta à essência do Evangelho, de maneira dura. A mensagem que mais nos tem consolado e, em alguns casos, a única que pode ainda nos trazer esperança é a mensagem da vida eterna. 

Não queremos olhar para a vida eterna agora. É algo interessante para "depois de amanhã". Não queremos agora porque frustra os nossos projetos pessoais e sonhos. 

De maneira tão dura, hoje estão mais claras as palavras de Paulo, quando defende a Ressurreição:

"Se a nossa esperança em Cristo se limita a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens." (1 Co. 15.19)

Nunca a mensagem da esperança por vir esteve tão viva da Igreja como um todo. "Nunca" pode ser uma "força de expressão", mas também é aplicável às nossas lembranças. 

Quando foi que a mensagem da Vida Eterna esteve tão próxima da realidade da Igreja? Em tempos de Guerra, de outras Pandemia, e na Igreja Primitiva.

A pergunta que não pode calar é: "Estamos a reagir como a Igreja Primitiva, quando ansiava profundamente pela Segunda Vinda de Jesus?"

O que eles faziam? O que muitas igrejas estão a fazer? 

Dedicavam-se às orações. As circunstâncias clamam por isso. Não mais aquelas orações que determinam, mas aquelas que se sujeitam. 

Uma postura que não mais "depende de quem quer, nem quem corre, mas de Deus em usar de misericórdia." (Rm. 9:16)

O que mais faziam eles, e nós precisamos fazer? 

Perseveravam na sã doutrina e perseverar hoje no Evangelho é um comprometimento profundo com Cristo, a esperança da glória, e enquanto esperamos pelo "ainda não" estendemos as mãos. 

Repartir os bens em forma de pão nunca foi tão oportuno, tão básico e tão necessário. 

Até o pão de casa em casa podemos partilhar, ainda que de maneira online, mas a essência não se perde. O pão continua a lembrar-nos o corpo moído e o vinho segue a chamar-nos ao sangue. Já os outros pães apenas repartimos, e esperamos comer dele juntos, ainda que seja mais tarde.

E o número dos que creem está a diminuir e também a aumentar. Diminui porque são muitos os que estão a serem chamados à glória eterna, e porque alguns estão a desistir da caminhada. Também não deixa de ser uma varredura que deixa a Igreja vulnerável e ainda mais dependente de seu Cabeça. 

Aliás, ainda que algumas igrejas locais sucumbem, a Igreja de Cristo segue porque Ele é o Cabeça dela.

E por que aumenta o número? Por duas razões. A primeira é que há maior alcance por novas estratégias e tecnologias, e a segunda é que tem caído um temor considerável sobre o povo. 

E o temor, que aliás era uma marca na Igreja Primitiva, desenvolve empatia com a dor alheia e também uma postura de alerta sobre a transitoriedade deste mundo. Não foi esta a postura exemplar de Lutero frente a mortandade da Peste Negra? 

É mesmo em meio as lágrimas que ressurge aquela esperança diferenciada: "Não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança." (1 Ts. 4:13). "Os demais" acabam por perceber a nossa esperança em meio as dores, e muitos serão chamados a não mais "des-esperar"..

Enfim, um misto de solidariedade, empatia no sofrimento, altruísmo, e esperança por vir, estão a provocar, de forma dura, uma reflexão mais profunda do papel da Igreja em sua tensão entre "o já e o ainda não".

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quinta-feira, 4 de março de 2021

O que Precisamos, Elas Também Precisam?

Não há nenhuma intenção aqui em defesa da "igualdade-cega" entre homens e mulheres. Somos diferentes. Temos aspirações diferentes. Temos necessidades diferentes. 

Por outro lado, algumas coisas não mudam do homem para a mulher, do marido para a esposa, do líder para a sua companheira de jornada. 

Faz bem ao homem ter um tempo específico para meditar e até de contemplação, sem interferências? À elas também. E, por que não?

É importante ter um dia de folga, onde não repetimos as mesmas tarefas diárias? À elas é igualmente importante.

Nós precisamos de um tempo sem o ruído de crianças? Elas de igual modo precisam. 

Até aqui não há nenhuma novidade. Se perguntarmos qual é o homem que concorda com isso, todos nós diremos que sim. No problem. 

A contradição está em não criarmos as condições adequadas para tanto. O que fazemos para proporcionar esses privilégios à elas?

Serve também para quem é dona de casa, e faz isso com todo gosto. Elas também precisam do seu dia livre. Não parcial. Mas, por completo. Nada de cozinha, nada de crianças, nada de cuidar de ninguém. E, preferencialmente, um dia inteiro por semana.

E também cabe sensibilidade, flexibilidade e ajuda mútua e voluntária, sempre. Não seria também isso o discernimento da vida comum do lar? (1 Pe. 3.7)

E nessa mesma direção precisa acontecer com períodos de Férias. 

Ou, o princípio do descanso, a partir do exemplo do próprio Deus, não lhes serve?

Podemos aplicar o mesmo princípio de privilégios como retiro pessoal, tempo de atividades física, tempo com amigas, e até presentes pessoais. 

Não cabe dar uma panela de presente no dia do aniversário. Talvez eles aceitem um acessório de presente para o carro, mas elas não deviam aceitar um acessório para a casa como se fosse para elas. 

Enfim, precisamos ser mais coerentes com as nossas necessidades mútuas mais básicas. 

Marido, como está a cuidar de sua querida, no quesito Dia de Descanso? 

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quarta-feira, 3 de março de 2021

As Oportunidades Antes. E, agora? (Portugal não é Brasil - XXXIII)

Qual a leitura correta da história? É aquela que não lê o passado, com os óculos pré-concebidos do presente. 

E assim sendo, precisamos ter algum cuidado ao falarmos desde 1822, sobre a Independência do Brasil, até chegamos aos dias entorno de 25 de Abril de 1974. 

O que era o Brasil em 1822? 

O que era Portugal em 1974?

Em 1822 tínhamos um Brasil cheio de potencial, mas castigado pela pobreza. Em 1974 também tínhamos um Portugal cheio de potencial, mas igualmente castigado pela pobreza. 

O que havia por trás das cortinas dos dois lados?

Gente trabalhadora que, amargamente, comia o pão do trabalho penoso de suas próprias mãos. 

Lá e cá também haviam os Governantes que facilitavam aos que dinheiro tinham, e penalizavam os mais pobres com severas exigências tributárias, especialmente quando alguém tinha algum possibilidade de crescimento. 

A "burro-cracia" sempre dificultou aos mais desfavorecidos. 

Seria medo em perder o controle? Seria conluio com aqueles que mais tinham?

Ouvi de um senhor idoso de minha Aldeia. Um senhor que dizia ser um "homem dos 7 ofícios", um "faz-tudo-bem-feito": "Nos anos de Salazar só quem sorria eram os Quinteiros. Os outros trabalham sem recursos, muito duro, só para comer."

Assim foi naqueles tempos. A história conta, os livros revelam. E agora? O que podemos falar das oportunidades lá e cá?

O caminho para a conquista continua a ser muito duro, mas aquele que se qualifica, adequadamente, terá alguma condição. 

E caso não tenha as oportunidades como gostaria, por estar tão qualificado, poderá encontrá-la em países onde os processos são mais igualitários e mais simplificados.

Os nossos países são lindos e valem a pena, mas se alguém desejar sair, precisará estar à altura.

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FOTO: Monumento dos Descobrimentos em Belém, Lisboa.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Se calhar e se der jeito (Portugal não é Brasil - XXXI)

Aprendi essas duas expressões interessantes. Elas trazem um traço cultural que também herdamos, mas usamos outras maneiras de expressar.

"Se calhar" e "se der jeito". 

Vamos fazer isto? Então, alguém nos responder: "Se der jeito podemos fazer." Ou simplesmente, "se calhar". 

"Se calhar" é mais casual, mais "irresponsável" quando se trata de alguma possibilidade de compromisso. 

"Se calhar" também é usado no dia a dia para se referir a algo possível. É como dizer "se pah", ou "de repente", ou ainda "talvez". 

O que está por trás dessas expressões, que são tão diferentes do "sim, sim" ou "não, não" ensinados por Jesus?

É uma maneira de não se comprometer. 

É uma maneira de deixar ao ar. Aquela linha tênue entre o não querer definir e não querer contrariar. 

Esse traço cultural, algumas vezes, pode trazer alguma confusão e falta de clareza, por outro lado, pode ser um subterfúgio interessante a quem não está preparado para se posicionar. 

FOTO: Escadas em frente ao Terreiro do Paço e o Tejo, e Ponte 25 de Abril ao fundo.

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A Musicalidade (Portugal não é Brasil - XXX)

Quando estamos longe de nossa pátria, qualquer coisa que nos remete a ela, tem um forte impacto sobre nós.

E a música tem um especial impacto porque nos remete às nossas raízes mais profundas, de nossa terra, de nossa  cultura, e de momentos em família. 

E sempre estamos a ouvir alguma música brasileira, porque o português aprecia a nossa musicalidade. 

Para além da musicalidade, há um detalhe interessante a respeito do padrão moral-cultural. As palavras feias, parvas, os palavrões, mudam de cultura para cultura. Sendo assim, alguns funks que nos soam mal, profanos e agressivos, eles sabem do que se trata, penso eu, mas ao mesmo tempo eles não enxergam a mesma agressividade que atinge os nossos ouvidos. 

Digo isso, com alguma base? Sim, sim. Funks muito fortes aos brasileiros foram tocados nas Festinhas de Escola do Murilo, nosso filho de 07 anos, naquela altura. Fiquei "escandalizado", mas logo pensei: "Não há o mesmo peso com que os meus ouvidos recebem". 

A musicalidade brasileira é atraente aos portugueses, pois as nossas músicas estão nas "paradas do sucesso". São tocadas para animar os Parques Aquáticos, são ouvidas nos Centros Comerciais. Enfim, estamos por toda parte. 

E a musicalidade portuguesa aos brasileiros?

Aos ouvidos brasileiros é um misto de curiosidade e estranhamento. 

A música portuguesa mais tradicional, mais ouvidas entre os aldeões, ao som da viola portuguesa e da sanfona, é algo típico, que nos lembra aquelas canções caipiras dos interiores do Brasil. Não é o sertanejo. É aquele tipo de voz, que os mais antigos, chamam de "taquara rachada". Um estridente incómodo e interessante, ao mesmo tempo. 

O que é curioso é ver jovens envolvidos nesse estilo, e com grande audiência nos Programas de Domingo. 

E o Fado?

O Fado é uma mescla de atração e afastamento. O Fado serve a alguns momentos. Especialmente, aqueles em que estamos mais pensativos, e com saudades. O Fado é para sentar, ouvir, e chorar. 

Entretanto, sabemos que dá dança, com alguns mais caracteristicamente animados, num tom acima. Aliás, o "tom acima" é contraditório, porque pode dar à dança, bem como pode cortar mais, agudamente, a alma. 

Acho tão bom essa versatilidade cultural que nossas músicas propõem, sem contar que muito há de afro em ambas.

Enfim, há tempo de chorar e sorrir, tempo de abraçar e não o fazer, tempo de reflexões profundas e de extravasar a alma. E a nossa musicalidade, de todos nós, bem serve-nos a isto. 

Boa música.

FOTO: Música a entrada da Vila de Óbidos

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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

A Literatura (Portugal não é Brasil - XIX)

Quando tirei o Curso de Letras, estudamos Literatura Portuguesa, e naturalmente a Literatura Brasileira. 

Transitamos entre Machado de Assis, Gonçalves Dias, Fernando Pessoa e seus Heterônimos, Luís Vaz de Camões e alguns outros.

O que eles têm em comum, para além da "obediência" ao Movimento Literário de quem faziam parte? 

Eles amavam a Língua Portuguesa, e brincavam com ela, com todo respeito e muita elegância. 

Os Lusíadas fizeram-me sonhar com as descobertas, temer e encantar-me com os perigos dos mares, ficar embasbacado com a descoberta e a cultura de outros povos, considerar uma Cristologia e religiosidade impregnada em seus versos, ainda que sua obra tenha cunho antropocêntrico, próprio do Classicismo.

E já em Portugal, descobri José Saramago. Achei intrigante "O Memorial do Convento". Ele traz um misto de religiosidade e ao mesmo tempo um sarcasmo com o divino. Ainda traz nuanças de sexualidade como uma profanação da religiosidade, e não do sagrado necessariamente. 

Conhecer alguns dos principais escritores portugueses e suas obras, é uma aventura a mais, que traz discernimento do inconsciente coletivo. Ler seus pensadores dá-nos uma dimensão a mais da alma portuguesa. 

Fica então a dica de viajar de comboio (trem) com um bom livro em mãos, e os olhos revezando com as lindas paisagens bucólicas.

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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Velharias (Portugal não é Brasil - XVIII)

"Quem guarda tem."
Já ouvi esta frase várias vezes, e de vários lados. 

E aliás, passei por situações em que tive de "deitar fora" (jogar fora) algumas coisas, e via claramente, um desapontamento, um reação de discordância e de susto.

Então, passei a usar o argumento: "É útil? Ocupa espaço desnecessariamente? Seria útil a outros? A reciclagem agradece?" 

O "português raiz" gosta de velharia? Normalmente, sim. E muito comum encontrar Lojas, e Feiras de velharias. 

Duas coisas importantes: 

1. Há velharias muito uteis, e bonitas, que chegam a parecer "novarias" dado a uma decoração adequada.

2. Quem guarda o passado, tende a valorizar mais o presente.

Enfim, tenho aprendido que há um sentimento nobre por trás das velharias. 

E, em caso de exagero e de algo insano e não justificável, o Ministério da Saúde adverte:

"Há muitos perigos em acumular, e pode tornar-se uma doença."

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FOTO: Pedra Cavada em Foz do Arelho