Sinta-se Em Casa

Entre. Puxe a cadeira. Estique as pernas. Tome um café, e vamos dialogar com a alma.



quinta-feira, 25 de abril de 2024

Cola-cola, Religião e 25 de Abril

A censura foi a primeira grande concorrente da Coca-cola em Portugal. Aquela novidade gaseificada e doce, que já circulava nos cafés, foi tida com uma droga pelo governo de Salazar, que se utilizou da incrível frase de Fernando Pessoa para proibi-la. 

"Primeiro estranha-se, depois entranha-se". 

Assim, vivia Portugal com tantas proibições, o que só atrasou o desenvolvimento, até que eclodiu 25 de Abril de 1974. 

Penso que uma das problemáticas das proibições é que os ajuntamentos religiosos eram permitidos, o que gerou a mentalidade errônea de que "Deus e a Igreja" eram subprodutos da Ditadura. 

Sendo assim, infelizmente, há aqueles que se arrogam no direito de denunciar como radical e ultrapassado, os valores básicos da família, e alguns princípios que não deviam ser rejeitados, necessariamente, em nome de uma suposta liberdade.

A Revolução dos Cravos não significa "jogar fora a água suja com o bebê". Até para fazer Festa, nós precisamos saber que tipo de liberdade estamos a construir.

Enfim, a Cola-cola Portugal já entranhou. O que mais Portugal estranha, e que precisa entranhar? 


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terça-feira, 16 de abril de 2024

Habitar o tempo de espera

"Habitar o tempo de espera"

Gostei tanto desta expressão. Ouvi-a de uma worker de L'Abri, e passei a pensar...

Quem falou esta expressão, vive num contexto em que o ritmo de vida adequa-se, ou inspira-se, nas estações. As casas L'Abri trabalham com "termos" onde as estações são referenciadas.

Ouvir esta expressão: "habitar o tempo de espera", de quem trabalha naquele contexto, também é inspirador, porque eles têm uma prática de oração e dependência de Deus que, normalmente, não tomam decisões para ontem. Aliás, o mais natural é deixar para amanhã, a fim de que hajam confirmações.

Pensei mais...

"Habitar o tempo de espera" é diferente de só esperar, porque não há outra opção, como se fosse uma carga pesada e desnecessária. 

"Habitar o tempo de espera" é assumir que o outono nos prepara para o inverno, e a paz de que o inverno também tem o seu fim. 

"Habitar" este tempo difícil da espera, como um tempo importante e necessário, abre os nossos olhos para contemplar e depender dAquele que "muda os tempos e as estações" (Dn. 2:21-22).

Enfim, vamos entrar no processo da espera, como quem habita o lugar onde deve estar, o tempo que for preciso, na dependência do Senhor dos tempos. 


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terça-feira, 26 de março de 2024

A festa da ressurreição

A FESTA DA RESSURREIÇÃO 

Dias atrás, nos primeiros dias de Primavera aqui no "Velho Mundo", fui tratar a terra de um vaso que estava um pouco de canto, esquecido. Queria plantar novas plantas. Quando cheguei perto estava a rebentar uma planta que estava adormecida durante o inverno.

Foi assim com Jesus, ele estava adormecido, e no devido tempo rebentaria para a vida. 

"Virá um descendente do rei Davi, filho de Jessé, que será como um ramo que brota de um toco, como um broto que surge das raízes." (Is. 11:1)

Os horrores da sepultura não puderam contê-lo. 

Depois, da morte e do sábado fúnebre, aconteceu uma nova manhã. Jesus ressuscitou!

"Por isso, celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da maldade e da perversidade, mas com os pães sem fermento, os pães da sinceridade e da verdade." (1 Co. 5:8)

A maior manifestação, portanto, de nossa gratidão e alegria pela ressurreição, por uma fé que não é vã, é a demonstração com uma vida agradável ao Senhor. 

Celebremos a festa! Jesus ressuscitou!


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O silêncio do sábado

Há caminhadas que se tornam ainda mais pesadas, quando os ombros estão carregados de dúvidas e questionamentos, e os pés empoeirados pela desesperança. Elas carregam o nosso sábado fúnebre para o nosso domingo.

"Naquele mesmo dia, dois deles estavam indo para um povoado chamado Emaús, a onze quilômetros de Jerusalém. No caminho, conversavam a respeito de tudo o que havia acontecido." (Lc. 24:13-14)

Jesus já havia ressuscitado e estes dois discípulos ainda estavam assombrados com os pavores da crucificação.

"Ele lhes perguntou: "Sobre o que vocês estão discutindo enquanto caminham? " Eles pararam, com os rostos entristecidos. Um deles, chamado Cleopas, perguntou-lhe: "Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?" (Lc. 24:17,18)

Nós somos estes dois discípulos, entre as promessas e o "ainda não", quando o passado em nosso hoje tem mais peso que as perspectivas do amanhã. 

Será que vai acontecer o que Ele prometeu?

Por que devíamos descansar frente a tantos desafios? 

Como as ondas não agitariam a nossa paz? 

Os nossos dias ruins, a turbulência de nossas incertezas, não muda a presença dele. 

"Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles;" (Lc. 24:15)

E, é exatamente por isso que, o nosso Retiro Sepal será sobre Resiliência, porque cremos que Ele se aproxima de nós quando estamos nas caminhadas mais longas e desanimadoras. 

Sendo assim, vamos caminhar juntos e sentir a presença que cuida da nossa esperança. 


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A Páscoa aponta para a Cruz

A morte e o sangue, numa aparente contradição, trazem a vida. 

Não é assim, no parto? Não é assim com o grão de trigo que precisa morrer para germinar? Não é assim na Páscoa? 

A Páscoa do hebraico “Pessach” é a “passagem do anjo destruidor”, cuja fúria seria impedida com a “passagem do sangue” do cordeiro. 

O rito da Páscoa implicava na “morte do Cordeiro”, morte esta que acontece num contexto de libertação aos israelitas; por isso, Jesus é o nosso Cordeiro Pascal.

"Pois Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado." (1 Co. 5:7)

A Páscoa, portanto, tem uma direta relação com a Cruz, porque ela é sinônimo de morte e de vida ao mesmo tempo. 

A morte que era nossa, foi assumida pelo único que podia trazer a vida por sua própria morte. 

"Ele vos concedeu a vida, estando vós mortos nas vossas transgressões e pecados," (Ef. 2:1)

Então, vamos celebrar a Jesus, o nosso Cordeiro Pascal, que fez germinar a sua vida em nós.


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Evangelização e Cultura

Evangelização e cultura formam duas asas de um mesmo voo, e não se trata de uma asa espiritual e outra meramente humana. As duas são divinas e devem encontrar as suas respectivas e mais adequadas expressões humanas.

A humanidade não é algo a que devemos prontamente combater sob pretexto da espiritualidade e do divino, porque o próprio Jesus se deu como exemplo de quem assumiu a humanidade e as suas implicações.

"De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens;" (Fp. 2:5-7)

A cultura é uma expressão da Criação em toda a sua criatividade. A  Criação aconteceu num ato único de Deus como lemos nos dois primeiros capítulo do "Livro das Origens". E vemos ali, que, depois dos seis dias e do sétimo de descanso, o DNA da Criação expandiu-se em criatividade, que nunca mais estancou. 

As línguas, os povos, a culinária, a adaptação geográfica, enfim, há um constante criar e recriar a partir do potencial legado pela Criação.

"E o nome do seu irmão era Jubal; este foi o pai de todos os que tocam harpa e órgão. E Zilá também deu à luz a Tubalcaim, mestre de toda a obra de cobre e ferro; e a irmã de Tubalcaim foi Noema." (Gn. 4:21,22)

Há algo de divino nas culturas, há na cultura o gene da gênese, do gênesis de Deus. 

Por outro lado, também sabemos que todas as coisas foram afetadas pelo pecado. E aí sim, devemos estar atentos para não submeter as Escrituras e a missão de Deus aos caprichos pecaminosos da cultura. 

"Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas. E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição." (Marcos 7:7-9)

Ainda por um outro lado, devemos transitar, cuidadosamente, de maneira que sejamos bons "camelões culturais" sem comprometer a essência do Evangelho, na prática da Evangelização. 

"Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais. E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivesse sem lei (não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei. Fiz-me como fraco para os fracos, para ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns. E eu faço isto por causa do evangelho, para ser também participante dele." (1 Co. 9:19-23)

Ou seja, tanto a evangelização como a cultura são bênçãos divinas com traços e expressões humanas. Aliás, o próprio Evangelho não escapa a esta conjugação e conjunção, porque Deus falou aos homens na linguagem dos homens. 

Infelizmente, todavia, há uma tendência e um perigo jesuíta nas missões e nos missionários. Os jesuítas são exemplares na obediência ao chamado e até na renúncia, entretanto, eles desconsideraram a cultura que os recebeu. 

Os jesuítas tinham uma postura elitizada e separatista. Não havia a postura de aprendiz da cultura. Não havia a postura de uma criança. Ou seja, quando desrespeitamos a cultura nós estamos desobedecendo o princípio de humildade do Evangelho, porque ele nos ensina a ser tais como as crianças, e também somos discípulos, aquele que aprende.

Os missionários, e todo aquele que evangeliza, precisam ter uma postura e uma atitude de quem está aberto a aprender, e assim virá a adaptação cultural e as oportunidades que daí advêm.

Aqui devemos discernir entre transculturalidade e supraculturalidade. Se a evangelização numa outra cultura é uma missão transcultural, a supraculturalidade do Evangelho não é por causa de nossa boa cultura para com uma cultura inferior, mas porque o Evangelho está acima da cultura, no sentido que haverá de moldá-la, para a glória Deus.~

Moldar-se que, aliás, haverá de acontecer somente quando houver aculturação - a fusão das culturas em pauta. A cultura do missionário na evangelização, a supracultura do Evangelho e a cultura do ouvinte. 

Sendo assim, esperamos que as duas asas, da Evangelização e da Cultura, alimentadas pelo motor do Evangelho, que nortearam o grande missionário Paulo de Tarso, encontre em nós abrigo: "Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus." (2 Coríntios 4:5)


por Vacilius Santos

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Vacilius Santos é missionário da SEPAL em Portugal. Esposo de Mara Regina e pai de Thales, Jamily e Murilo. Ele é autor de vários livros, dentre eles TEOLOGIA DE MISSÕES e PORTUGAL NÃO É BRASIL. Atualmente é Diretor da Associação Evangélica Cascatas, uma casa de hospitalidade e cuidado integral inspirada em L´Abri, e serve como voluntário na área de mobilização para Despertamento Missionário (SIMPLY MOBILIZING) e mobilização para a Janela etária 4/14 (GLOBAL CHILDREN´S NETWORK). 

segunda-feira, 11 de março de 2024

Houve "a-ventura" nas Eleições Portuguesas

Prá já vale a pena salientar que a alternância de poder acaba por fortalecer a democracia. A centralização repetida é cansativa e gera desânimo por não alimentar novas perspectivas. 

Alguns escândalos morais também trouxeram alguma influência bem como a falta de governabilidade em questão básicas do cotidiano do povo. 

E o tão falado Chega? É um misto entre o fantasma da Ditadura e a saudade de bons valores. Muita gente migrou para uma "aVentura" não por plena concordância do que podia vir a ser, mas sim por discordância e protesto daquilo que "já está".

Manuel Alegre disse: "Como homem do 25 de Abril vejo com tristeza o resultado do Chega". O que ele precisa lembrar é que a democracia é exactamente isto, a voz do povo a chega para qualquer coisa que não deseja mais. 

Outro detalhe pertinente é que muita gente apercebeu-se que existe uma tendência nos governos esquerdistas de dar com uma mão e tirar com as duas. Há subsídios e mais subsídios os quais são muito bem-vindos, entretanto, a criatividade de "arrancar" dinheiro em taxas, sobretaxas é cada dia mais ampla. Que o digam os radares de velocidade, os quais - praticamente - nem havia quando cheguei em Portugal, e hoje há aos montes. 

Enfim, não sei o quanto será bom ou mal, o que sei é que a democracia permite ao povo "a-venturar", e cabe aos cidadãos a perseverante cidadania.


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terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

NÃO SOU BOLSONARISTA, NEM EVANGÉLICO!

Conheço gente muito boa, que afirma categoricamente, "Não sou bolsonarista, nem evangélico!", entretanto, eles vestem o mesmo
 verde e amarelo contra a censura e a promiscuidade do Judiciário. 

Uma Avenida Paulista apinhada de gente, aos milhares, esteve acima de um fenômeno político-partidário e da própria religião, embora houvesse lá também os extremistas. 

Temos visto cada vez mais, gente ética, ateus esclarecidos, gente da esquerda que não é esquerdopáta, pastores que não alinham com o messianismo de nenhum tipo, a se levantarem contra as mazelas estúpidas de um governo autoritário. 

A desgovernabilidade do Executivo amalgamada com um Judiciário partidário e vendido, ambos têm empurrado o Brasil para as crueldades de uma Ditadura que tem como discurso a democracia, que fala de liberdade sob ameaças e prisões, que saqueia  o pão dos pobres sob a conversa obsoleta de fazê-los ter as três refeições diárias, e celebram uma gastança milionária consigo próprios. 

O bem do Brasil, portanto, está acima de Bolsonaro e dos evangélicos, e toda gente que tem um mínimo de esclarecimento, não se aliena neste "Call of Duty" que só traz polarização.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Igreja Teocrática ou Cristocêntrica?

A Teocracia aconteceu quando o povo de Deus ainda era Israel. Eles, entretanto, rejeitaram o Seu governo, e elegeram Saul para se tornarem parecidos com as outras nações. 

Ainda assim, num ato de graça, Deus permite esta transição. E a composição do Reino nunca deixou de ter os conselheiros reais, os sacerdotes, e uma "pedra no sapato" dos reis, que eram os profetas. 

Os profetas foram fundamentais para a Teocracia, e depois para que os reis e o Reino, não se desvirtuassem nas contradições dos abusos da autonomia.

A Igreja de Cristo, neo-testamentária, é mais que teocrática. Ela deve ser cristocêntrica, pois Cristo é a cabeça (Cl. 1:18). Ele, o próprio Cristo comprometeu-se a edificar a sua Igreja (Mt. 16:18).

À semelhança do que aconteceu em Israel, para que não houvesse desvios e abusos e nem exclusividade na liderança, o próprio Cristo estabeleceu homens/dons (Ef. 4:11), a fim de que eles equipem o povo. 

E um povo equipado, é um povo maduro em discernimento e ativo na cooperação (Ef. 4:14-16).

Estes homens não devem estar, nem trabalhar sozinhos e por isso, o Corpo de Cristo recebeu do Espírito Santo uma diversidade de dons (1 Co. 12).

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." (1 Pd. 4:10)

E para que haja não uma "pedra profética no sapato", mas sim saúde ativa no Corpo de Cristo, o Novo Testamento estabelece a prática de cerca de 48 mandamentos de mutualidade. Segue um amostra: 

"A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração." (Cl. 3:16)

"Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos aceitou, para a glória de Deus." (Rm. 15:17)

Sendo assim, nenhuma igreja local pode ser madura e saudável se não tiver algumas coisas das mais  básicas:

1. Liderança plural e coparticipativa, não de um "anjo" único que tem todo poder nas mãos, e reivindica "autoridade espiritual";

2. A diversidade dos Dons Espirituais por todos os membros;

3. A prática dos mandamentos de mutualidade;  

4. A consciência coletiva de que Jesus e a Bíblia são as autoridades finais e referenciais para a Igreja; e, 

5. As pregações não são "apenas" bíblicas; elas são cristocêntricas no sentido de que culminam na Cruz, pois giram em torno do pecado, da graça, da justificação, da Segunda Vinda de Cristo, da eternidade e da santificação.

E então? A sua igreja local é uma igreja cristocêntrica e biblicamente saudável? 


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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Que animais podemos comer?

Quais animais podiam ser comidos? O critério estabelecido na Lei Mosaíca era: animais com unhas fendidas, dividida em dois e que ruminava (Lv. 11:2-3). Camelos, coelhos e porcos eram impróprios (Lv. 11:4-8). 

Isto era no Antigo Testamento. Qual foi a alteração no Novo Testamento? 

"E viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra. No qual havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. E segunda vez lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três vezes; e o vaso tornou a recolher-se ao céu." (Atos 10:11-16)

Isto aconteceu para que Pedro, judeu, compreendesse que a comida, e as regras da Lei, estavam abaixo do propósito principal:

"E disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo." (Atos 10:28)

"E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo." (Atos 10:34,35)

Esta foi a experiência de Pedro. E qual é a opinião dos outros apóstolos? 

Novamente, vale a lembrar que a questão maior não é o alimento, mas sim as pessoas e a pregação do Evangelho:

"Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá." (Atos 15:28,29)

E, mais tarde, o apóstolo Paulo ao escrever uma de suas Cartas Pastorais, disse que uma das práticas dos ensinos de demônios seria a proibição que Deus criou para o nosso alimento, todo o tipo de alimentos aliás, é destacado:

"Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada." (1 Timóteo 4:3-5)

Há um peso inquestionável na referência acima porque é um judeu a orientar um jovem judeu pastor, cuja carta é um manual para todos os pastores.

Outro detalhe importante a observar é que até os alimentos sacrificados aos ídolos, nós podemos caso quem oferece não sabe que a gente sabe que foi oferecido, e isto é também é uma questão de testemunho e não da comida em si:

"Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência. Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude. E, se algum dos infiéis vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência. Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude." (1 Coríntios 10:25-28)

Sendo assim, vamos comer de tudo com ações de graças.


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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Perigos em descentralizar?

Descentralizar de nós mesmos e intencionalmente focar em Jesus, a cabeça do Corpo, é um desafio.

A posição que Jesus espera de nós é a de servos, e nenhum servo é tão grande o suficiente que traz um cetro nas mãos no lugar de uma toalha. 

Entretanto, há alguns cuidados em descentralizar a liderança, ou fazer uma liderança partilhada, porque implica riscos que precisamos correr e alguns cuidados a atender:

1) Os pastores, e em especial os mais jovens, nunca devem ser rudes com os mais velhos, e respeitosos com os mais jovens:

"Não repreendas o idoso com aspereza, mas admoesta-o como a um pai; bem como aos jovens, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às jovens, como a irmãs, com toda a pureza." (1 Tm. 5:1)

2) O povo não deveria jamais provocar constrangimentos e tristeza no coração dos líderes a partir da desobediência, anarquia e libertinagem:

"Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil." (Hb. 13:17)

3) As igrejas neotestamentárias tinham uma liderança plural, e naturalmente, sempre havia um coordenador principal como líder, nunca como se fosse um "Papa". Era assim:

"Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros," (Tito 1:5)

4) Embora abrir para a participatividade provoque riscos, a vulnerabilidade é oportuna para manifestar quem é quem:

"Pois é necessário que haja divergências entre vocês para que sejam conhecidos quais entre vocês são aprovados." (1 Co. 11:19)

5) Uma igreja só pode amadurecer quando há oportunidade da prática do dons em suas múltiplas formas, e ainda quando há uma ambiente de relacionamento embasado no princípio da mutualidade.

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." (1 Pe. 4:10)

Enfim, entre erros e acertos é bom ver como as pessoas crescem quando não só assistem.

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Novo ano, nova Missão?

Um ano novo traz desafios novos, ou melhor, desafios antigos que se envelheceram nos quartos escuros de nossas memórias. Daí, queremos resgatá-los só porque eles ainda estão lá. 

Isto acontece com as práticas mais saudáveis, desde o que comer ou não até o plano de leitura bíblica anual. Também pode acontecer com algum ministério, o exercício dos dons, e alguma missão específica.

Não fazemos assim com alguns "desafios missionais"? Tiramos-lhes o pó e pensamos: "Agora, vai!"

A pergunta é: "Precisa mesmo ir?"

Se sim, vem-nos então, uma outra pergunta: "Como?"

O nosso fazer, o nosso "como" missional, precisa estar atrelado aos conceitos de pertinência e relevância. 

Responder à relevância talvez seja mais fácil porque tem a ver com aquilo que é de fundamental importância. Por outro lado, pode ser uma questão capciosa porque tende nos esconder nas generalidades. 

Já a nossa resposta àquilo que é pertinente talvez seja um pouco mais desafiador porque toca em algo que vem a propósito, que é apropriado para aquele momento. Não é só ter um propósito, é saber se é praticável, se é aplicável, se tem fluidez naquele tempo e lugar, e ainda, com aquelas pessoas. 

Qual é a nossa missão para 2024? 

Não vale responder com linhas gerais, com aqueles versículos que cabem a todos. Já sabemos que devemos buscar o Reino em primeiro lugar. Já sabemos que devemos cumprir o nosso ministério, cabalmente. O que, entretanto, podemos não saber é como fazer isto fluir a contento. 

Será que não estamos ultrapassando o limite da perseverança para a teimosia?

A resposta, portanto, precisa ser mais pessoal. O que eu estou a fazer é de fundamental importância? Repito: não em linhas gerais. 

"Ah, estou a evangelizar os meus vizinhos!" Isto sempre será de fundamental importância, entretanto, o tempo que me dedico a eles é o que realmente preciso fazer neste momento da minha vida, ou há outro caminho? Estou a atender com as melhores estratégias?"

Vai aqui um exemplo bem particular. Vivemos numa Aldeia em Portugal, Mouraria, uma antiga Vila dos Mouros. O que se desenvolveu aqui há tantos séculos? A cultura do cultivo, da horta, das galinhas, das cabras etc. Isto explica porque temos galinhas poedeiras, duas cabras e horta. 

Não haveria relacionamento algum neste contexto não fosse por aí. Não haveria assunto, não haveria conversa. 

Por outro lado, gerimos uma Casa de Hospitalidade com ênfase em Cuidado Integral. Então, não podemos passar todo o nosso tempo a cuidar da terra e dos bichos.

Precisamos conjugar o tempo na horta com a nossa própria aorta, e a aorta daqueles que passam por nós. 

Estou a escrever e ao mesmo tempo a pensar: "Se saíssemos de onde estamos, qual a carência do Reino que seria aumentada? Por que, realmente, eu preciso fazer o que faço hoje? Não há nada além? Não há outra coisa? Outra ênfase?"

Se não há outro caminho, resta-nos refletir o quanto temos tornado a nossa missão relevante (fundamental) e pertinente (praticável) onde estamos. 

Não haveria uma outra maneira? O que poderia ser adaptado? 

Talvez o caminho sobremodo excelente, seja começar da nossa vida pessoal? Quais as mudanças pessoais, em minha agenda, em meu "schedule", que teriam um forte impacto em minha missão?

Neste novo ano, esperamos uma nova missão, ou simplesmente, uma antiga/nova missão adaptável às demandas deste novo tempo. 

Graça, misericórdia e paz para encontrarmos a fluidez que jorra do trono da graça, de maneira que inunde aqueles que nos cercam.


Texto publicado originalmente pela Revista Martureo, dia 08 de Janeiro de 2024.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

É urgente descentralizar!

Por que Portugal tem tanta dificuldade em descentralizar a liderança e tende a buscar heróis? 

Algumas igrejas assumem uma releitura vétero-testamentária com ênfase nos heróis, o que esvai a força discipular do N.T.. E "Atos 29" está mais calcado na narrativa de Atos do que nas Cartas.

Talvez a delicadeza da questão esteja no legado cultural.

Até igrejas mais contemporâneas, em nome da cultura da honra, arriscam não viver: "E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra." (1 Co. 12:23-24)

A centralização está entranhada no berço português. Quando ainda no século II, Portugal era apenas uma tribo, já havia um grande líder, Viriato. Depois, com a invasão romana o sistema ditatorial moldou a Lusitânia. "Os Lusíadas" não foge à esta tendência quando enaltece o "peito ilustre lusitano" em nome de Vasco da Gama e dos Reis.

Quais são os nomes mais comuns ainda hoje? Pedro e Inês, Duarte, Catarina, Nuno etc. Há um lado bonito da história, e da supervalorização dos heróis, o que gera um clamor de grandes líderes no "inconsciente coletivo".

Até hoje não são poucos os que flertam com saudades da ditadura salazariana. E nas compras? O cliente, normalmente, não tem razão. 

O resultado a médio-logo prazo é de líderes, teimosamente, adoecidos, e de comunidades  superficiais. 

É urgente denunciarmos este desvio das Escrituras. Neste ponto a igreja bíblica precisa ser contra-cultura. 

"Ora, quando vos reunis, cada um de vós tem um salmo, ou uma mensagem de ensino, uma revelação, ou ainda uma palavra em determinada língua e outro tem a interpretação dessa língua. Tudo seja feito para a edificação da Igreja." (1 Co. 14:26)

Sendo assim, deixo-vos aqui uma sugestão de leitura: "O Pastor Desnecessário" de Eugene Peterson. E também uma referência que sugere a maturidade de uma igreja local: "A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração." (Cl. 3:16)


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segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Ó mar salgado!

Pessoa sabia das lágrimas
que salgavam o nosso pranto, 
o nosso Atlântico

Lançar-se ao desconhecido
Arriscar tudo por algo
algo por tudo

Quanta gente nossa chorou
Quanto chorámos

Desbravámos, provámos novos sabores
já acentuámos o nosso passado

Com o tempo chamamos
nossa Aldeia 
a terra que nos era estranha

Hoje podemos sorrir
Ir e vir

Antigos amores
novos sabores

Novo Mundo
meu velho Brasil
Velho Mundo
nosso novo Portugal

Obrigadíssimo 
Pessoa
Obrigadíssimo 
Tantas pessoas

Pois, vale a pena
se a gratidão não é pequena