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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Os Jardineiros Perdidos

Deus criou todas as coisas e viu que tudo era bom. Ao criar o homem, fê-lo para que fosse o jardineiro de sua criação. E o que somos agora?

Não temos dúvida de que a nossa missão hoje é a Grande Comissão – e faz parte dela pregar todos os desígnios de Deus.

Faz parte da mensagem do Evangelho que todo discípulo seja mordomo e, por isso, cuidar do Jardim.

A Grande Comissão existe porque a nossa primeira missão foi perdida, a de cuidar do jardim. O resgate da comunhão com o Criador implica o cuidado da Criação.

Qual é a problemática? É que pensamos resgatar apenas almas, como se fossem apenas exploradoras deste mundo a favor de um Reino Futuro.

De um lado, estão aqueles cujo mundo criado, caído, promove algum bem ou prazer, mas não passam de “vãos terrestres esplendores”, como eu cantava quando criança. E nesta direção também cantava: “No espaço sideral há um lar sem igual, para quem serve a Deus com alegria.” O que é isto? A criação não passa de um “carma” que precisamos superar?

Por outro lado, há uma tendência de exploradores da Criação a favor da Igreja e da obra missionária. A ordem é ganhar dinheiro, de alguma ou qualquer forma, e investir naquilo que é espiritual e eterno. As coisas criadas jamais fariam parte das coisas eternas, então só esperam o dia que serão queimadas pelo fogo, pensam alguns.

Erroneamente, interpretam 2 Pedro 3:12 como a mensagem final: tudo será queimado pelo fogo. Nem vale a pena agora entrar no mérito de que o “queimado” é “purificado”. O que importa é não parar no texto. Se seguimos, chegamos ao verso 14: “Por isso, amados, enquanto aguardais estes eventos, esforçai-vos para que sejais encontrados por Ele em plena paz, sem mácula e livres de culpas diante dele.”

Uma mácula e uma culpa que os discípulos não deveriam ter é afrontar a Deus ao destruir sua Criação ou simplesmente não cuidar dela.

Imagina um animal em extinção? Quanto do tempo e do amor de Deus foi dispensado no ato da Criação? Sem contar que Deus estabeleceu interdependência em sua Criação. Quando perdemos uma espécie, prejudicamos outras. Ou seja, é como se disséssemos a Deus: “Não precisaria ter investido tanta criatividade nisto.”

Bem disse Peter Harris, fundador de “A Rocha”, que o nosso chamado é para relacionamento com Deus, com as pessoas e com a Criação, e que a gratidão é uma das diferenças que demonstramos.

Como cultivar a gratidão sem o cuidado prévio? Sou muito grato a Deus pela  existência de movimentos nesta direção. Ouvi numa Palestra de Guilherme de Carvalho pela ABC²– Cristãos na Ciência – que estão trabalhando no Projeto Éden, um movimento que envolve a Aliança das Igrejas Evangélicas e outras frentes, gente responsável e visionária que trabalha para que tenhamos música, reflexão e projetos que enalteçam o Criador e que zelam por sua Criação.

A questão da responsabilidade ambiental precisa fazer parte da agenda daqueles que foram alcançados pela Grande Comissão e que agora podem resgatar a sua missão como jardineiros da Criação.

O que comemos? Quais produtos compramos? O que fazemos com os “restos”? Quanto investimos em projetos com estes?

Lembrei-me de minha filha Jamily ao comprar um cosmético. Ela preferiu o produto que não fazia testes em animais. São atitudes como essas que devem nos impulsionar.

E não podemos nos contentar apenas em fazer reciclagem. Precisamos avançar. Fazer compostagem. Comprar alimentos mais saudáveis e investir em projetos que, para além de missionários, dignificam a missão perdida.

Aliás, a começar dos missionários, deveríamos ser os primeiros a enxergar o campo, não apenas como um campo de batalha, mas também como um campo criado, a ser cultivado e cuidado. Os missionários são pessoas de influência que podem abençoar muito à sua volta.

É mais do que fazer alguma coisa para ganhar almas: é fazer da mordomia parte da missão de Deus.

Um alcançado que assume a sua jardinagem glorifica a Deus como mordomo.

E não para por aí, porque ao ser um bom mordomo, num relacionamento satisfatório com o Criador, não cairemos numa espécie de “panteísmo evangélico” que só fica na contemplação, mas que busca trazer um número maior de jardineiros perdidos.

Vamos missionar para resgatar mais do que almas?

Instagram: vacilius.lima