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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

A Lógica de Raciocínio (Portugal não é Brasil - IV)

A nossa Aldeia - Mouraria, no Chão da Parada - tem uma única rua principal, a qual estava em obras. A rua dessa outra "obra".

Estava a subir, e descia um vizinho. Então, parei e perguntei ao vizinho: "Bom dia, vizinho. Lá em cima, os carros estão a passar?" Ele, prontamente, respondeu-me: "Não. Inclusivamente, vi agora mesmo dois carros, dando marcha atrás." Eu, brasileiramente, não me contive: "Vizinho, está bloqueado?" Ao que me alertou: "Não está bloqueado". Daí, avancei: "Então, dá jeito de passar." Ele contestou-me: "Dá jeito, dá jeito, não dá, pois há um buraco." Descontente eu, com a falta de clareza imediata, agradeci-lhe e voltei, porque não queria ser indelicado ao senhor, mas queria ir lá tentar passar. 

O que aconteceu? 

A lógica dele foi responder apenas o que eu perguntei, e eu queria um apoiante para dizer, de primeira: "A passagem está livre, mas cuidado porque o buraco é grande, e já tem gente a não o passar. Mas, se passar com cuidado, talvez seja possível."

Eles raciocinam de maneira diferente, sim. A crítica e a sátira das piadas sobre os portugueses, se baseiam nessa maneira diferente de raciocinar. Apenas diferente. Nem melhor, nem pior. 

Perceber isso, pode evitar problemas, problemas que tivemos, porque eles não nos esclareceram coisas importantes, e depois, descobrimos que, a razão é que não havíamos perguntado, ou feito a pergunta corretamente. Viu a diferença? 

E quando, a nossa intervenção sai do previsto? E quando alteramos o que seria suposto, desde sempre? Coisas que aconteceram em nosso prédio, como ajudar a carregar os sacos de compra até a porta do vizinho, e depois, ainda descer para completar a ajuda.

Os portugueses não são generosos? Não é essa a questão. Eles têm a sua maneira de serem generosos. O que estou a partilhar, é que custa um tanto alterar a rotina, fazer diferente daquilo que já está previsto.

Temos uma lógica diferente, sim. Os brasileiros querem resolver o suposto problema dos outros, e então, prontamente se oferecem para ser a solução. O que algumas vezes, será bem-visto, outras, será invasivo. 

Muitas vezes, tenho ainda que me segurar, para não dar respostas a perguntas que os portugueses não estão a fazer. 

"Não faz sentido, pah!" É uma expressão muito comum entre eles. E, realmente, não faz sentido apresentar-se como uma solução inovadora, de problemas que supostamente não existem. 

Um dia senti tanto a situação, de um "amigo de café", que ofereci-lhe uma boleia (carona), até o Porto. Aliás, nós iríamos até o Porto, e iria para bem mais longe, só para animá-lo a resolver os problemas que ficaram, com o seu pai. Ele agradeceu-me, mas encerrou as conversas sobre o tema. Ele não queria solução, só queria ser ouvido. 

Vamos a um "facto" mais simples, e bem elucidativo. O humorista Ricardo de Araújo simulou a situação de alguém que deseja ir ao Museu, num dia em que ele está fechado. Imagine que aconteceu no Brasil, e com um português que nos visitava. Então, o português pede ao motorista, ou ao amigo: "Por favor, leva-me até o Museu." O que aconteceria em Portugal, comumente? Eles iriam ao Museu, sem objeção. Por quê? Porque ir ao Museu, não significa necessariamente entrar nele. Podia ser para encontrar-se com alguém. No entanto, entra o brasileiro, motorista ou amigo, em cena. Com uma informação importante: "O museu está fechado." O português contesta: "Não há problema. Leva-me ao Museu." E o brasileiro angustiado, e desejo de ser o "salvador da pátria", diz outra vez: "Eu disse que o Museu está fechado. Você não vai poder entrar."

Precisamos de discernimento. Foi o que aconteceu no trânsito. Havia um auto-carro (ônibus), e uma grande fila de carro, que não podia passar porque havia um carro quebrado, a bloquear a passagem. Então, desci do carro, ofereci ao senhor para empurrarmos o seu carro, e colocá-lo de lado. Então, foi feito, e o trânsito fluiu. Ufa! Esta intervenção resultou.

E as ajudas mais simples? Ajuda à fila do Mercado, para que alguém passe à frente, por exemplo, causa um certo espanto, ou incómodo - porque não é previsto - mas deve fazer bem em qualquer lugar do mundo. 

Enfim, algumas vezes, quisemos ajudar, e fomos bem-vistos, outras vezes, vimos ter causado algum "stress", e então, prevalece o cuidado em respeitar como são, e como pensam, e discernir bem cada oportunidade.

Instagram: @vacilius.lima
Foto: Estamos junto com Pr. Ricardo Magalhães, missionário em Portugal

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