Sinta-se Em Casa

Entre. Puxe a cadeira. Estique as pernas. Tome um café, e vamos dialogar com a alma.



sexta-feira, 10 de abril de 2020

Primavera e Ressurreição


Cá em Portugal é Primavera – ressurgir da vida. O sol vence a escuridão. As flores e folhas cobrem as plantas e árvores. Os patinhos da ribeira nascem. A vida é mais presente.

O que isto nos lembra?

RESSURREIÇÃO – esperança, alegria, vitória, novidade.

Mas, E O ANTES DA RESSURREIÇÃO?

Isolamento, reclusão, morte, apatia, desesperança, tristeza, sono profundo, dias de frio, muito frio, tudo escuro e cinzento. 

E, de repente a vida ressurge. CRISTO RESSUSCITOU!

Não é vá a nossa fé, não pregamos em vão. ELE ESTÁ VIVO!

Os dias de reclusão podem lembrar o túmulo, mas a primavera lembra a vida. A morte de Cristo aconteceu, mas TEMOS ESPERANÇA porque Ele ressuscitou.

Então, podemos cantar. Sim, tal como os pássaros. É tão lindo ouví-los nestes dias. Aqui de dentro a escrever, e eles livres confirmam o que escrevo neste tempo de solitude. Anunciam vida e esperança. 

Também nós podemos cantar e celebrar ao Dono da vida nesta vida, Senhor da Vida sobre a Morte para além desta vida.

(escrito com um olho na Janela e outro na Bíblia: 1 Coríntios 15)

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Pastorado e Vida de Igreja a Partir de 2020

Quantas mudanças a partir da Covid-19. O que muda a partir de agora? O que deveria mudar? O que muda é impositivo. Não depende de ninguém. Muitas coisas já mudaram, e nunca mais serão as mesmas. Já o que deveria mudar é pessoal. Decidimos que vamos fazer diferente, ou seguimos descompassados e não seremos ouvidos.

A IGREJA QUE DESAGREGA
Líderes que sempre justificam seu valor a partir do fazer e fazer. São importantes porque estão sempre a mostrar trabalho visível. Aqueles que construíram uma relação "trabalhista" de justificar o pão que recebem à medida em que servem, numa visão utilitarista, agora estão de mãos atadas. Ainda assim podem cair na armadilha em ter de falar com todos, responder a todas as chamadas, produzir "Lives" e enviar meditações como se fossem sozinhos detentores da graça de Deus. 

Para além disto, tem havido o ressurgimento do sacerdócio a partir de casa. Sinais de avivamento? O que para uns será uma extensão da Igreja, e para outros apenas um pretexto para "desigrejar".

A "Multimédia" não pode minar a oportunidade de estar em casa, de rever o ritmo, de descansar o necessário, de aprofundar as conversas em casa sem a intervenção de chamadas. É preciso namorar, é preciso brincar com os filhos, é preciso mais tempo ao redor da mesa, é preciso um bom filme, é preciso um tempo devocional mais alargado com a família, é preciso uma boa leitura, é preciso descansar, e mais tempo de solitude. 

As chamadas devem ser pensadas. As "Lives" devem ser pensadas. Não podemos seguir a alimentar ovelhas insaciáveis de ver seus líderes no trabalho enquanto elas tornam-se obesas. Ainda que seus pastores devem trabalhar, o valor deles não está apenas naquilo que fazem, mas naquilo que representam.

A IGREJA AMADA
E a Igreja? O que o povo mais quer? Toda gente está carenciada de abraço. Os líderes precisarão preparar abraços e palavras de carinho. Eles precisarão dizer o quanto sentiram falta. E isto não apenas do púlpito. Precisam falar pessoalmente, e abraçar, ou "suas ovelhas" encontrarão isto fora como aquela menina que caiu nos braços de um estranho porque seu pai negou-lhe amor. 

O curioso aqui é que líderes com bloqueios de afeto precisarão de terapia porque o povo vai abraçá-los. Não tenha dúvida. Ainda que seja a terapia apenas do abraço. 

A IGREJA LIVRE
O ponto mais agudo é que descobriu-se que ninguém segue ninguém a não ser que queira. Existem centenas e centenas de opção na mesma hora em que você prega. Por que alguém deixaria de ouvir aquele pregador para ouvir você? 

Será preciso reforçar os pontos de conexão. Será preciso pregar de maneira mais profunda porque em tempos de sofrimento há gente a descobrir o valor da exposição da Palavra. O quanto ela conforta e dá esperança. E muita gente que faz bem. 

A IGREJA À DISTÂNCIA
Também será necessário dosear entre o presencial e o "ead". Aliás, é a tendência do mercado e da educação. Quando fiz Letras em 2003 não havia opção de fazer diferente. Depois de alguns anos fiz Pedagogia no sistema "ead" e precisava viajar 3 horas para fazer os testes, hoje qualquer cidade disputa espaço de Curso que podem ser feitos online. Aliás, acessamos a Internet e temos o que queremos a partir de qualquer lugar do mundo e em qualquer Língua. 

A Igreja precisa adaptar-se a esta realidade. O púlpito presencial não será mais apenas o único lugar de partida, bem como o "Gabinete Pastoral". Viajar 30 minutos para ouvir ou falar com o pastor talvez não seja o mais prático, e precisará fazer muito sentido. Por outro lado, algumas visitas poderão ser feitas por vídeo-chamada.

Por outro lado, o contacto pessoal é imprescindível. Será preciso um café juntos. Será preciso olhos nos olhos. Será preciso um abraço. Mas, não com todos e nem a todo tempo, a gosto da demanda que outros impõem.  

A IGREJA FLEXÍVEL
E o lugar de trabalho? Estar fora de casa para justificar o trabalho já não faz sentido, por outro lado, quem não criar um espaço em casa, que seja privativo e respeitado, inclusivamente com algum tempo à parte, talvez precisará continuar a sair de casa todos os dias. O conceito de trabalho associado a um local exclusivo está a fragmentar-se. Cada vez mais desenvolve-se o "conceito WFH" (Work From Home). As pessoas querem ver o produto independentemente de onde foi feito. 

Qual o perigo de estar em casa? Não discernir entre o trabalho e o descanso. Descansar demasiado pode tornar-se em ócio. Trabalhar demasiado pode minar a qualidade no lar. Por isso, ter um lugar específico dentro de casa é recomendável.  

A IGREJA E AS GERAÇÕES
E o uso das tecnologias no Ministério? Não dá mais para ser apenas amador. Ou somos bons ou perdemos espaço. Ou recorremos a uma assessoria paga ou temos gente qualificada que voluntariamente anda conosco. 

Somente os "Baby Boomers" terão problema com isto? Os "Millennials" não terão problema? O problema dos primeiros é confundir antiguidade com espiritualidade ou qualidade, e morrerão orgulhosos e enganados. E o maior problema dos mais jovens é a dependência tecnológica como se o Espírito Santo não fizesse diferente e por outros meios, e mergulharão numa insensibilidade mortal. 

O FUTURO DA IGREJA
Enfim, qual a tendência? A "tendência da mão-dupla". Aconselhamento Presencial sim, Aconselhamento à Distância também. Aula à Distância sim, Aula Presencial também. Ministração Presencial sim, Ministração à Distância também. E ninguém mais suportará mensagens demasiadamente longas, monótonas e não relevantes. 

"E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência." (Jr. 3.15)

terça-feira, 7 de abril de 2020

A Mulher Brasileira para os Portugueses (Re-leitura de 1808 - Parte VIII)

Uma mulher é capaz de transformar o coração de um homem? O óbvio não merece resposta. Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, arquivista real português, que o diga. 

Ele chegou ao Brasil junto com D. João VI e detestou a tudo e a todos. Suas experiências e espírito eram tão amargos que escreveu à família: "Estou tão escandalizado com este país, que dele nada quero, e quando daqui eu sair, não me esquecerei de limpar as botas nas bordas do cais, para não levar o mínimo vestígio desta terra."

Passado algum tempo ele dizia ter sido abençoado por Deus com os benefícios da nova vida no Rio de Janeiro. "O motivo de mudança de Marrocos tinha um nome: Anna Maria de São Thiago Souza, uma carioca de 22 anos que começou a namorar 2 anos depois de chegar ao Brasil." Resultado: nunca mais voltou a Portugal.

E hoje? Como a mulher brasileira é olhada? 

Não cabe nesta reflexão o que toda gente já sabe. Aquele estigma da mulher brasileira fácil e imoral. Nem caberia aqui falar da mulher portuguesa que também tem um estigma caricato no Brasil, mas que parece-nos não ser assim nos dias de hoje.

Então, de que mulher brasileira falamos? Há uma outra mulher brasileira para os portugueses? Ora, esta! Há, há!

"A mulher brasileira é carinhosa, atenciosa, cheirosa, asseada e dedicada." Estas foram as palavras de um Uber português apaixonado por uma brasileira. Eu concordo com ele. Hehehe. E já ouvi de outros portugueses coisas parecidas.

A mulher brasileira tem um perfil de ser cuidadosa com a aparência estética, mas também é cuidadosa com a casa, com os filhos e o marido. 

Obviamente, não estou a falar de toda mulher brasileira. Falo da realidade que me cerca e que salta aos olhos. Estas percepções são empíricas porque tem a ver com a posição de onde olho, como esposo, filho, pai, irmão e também por ter sido pastor no Brasil e ter ouvido inúmeros casais. 

E o que poderia falar das portuguesas? Nada. Agora, passo a ter meus primeiros contatos com elas, e deixo esta tarefa aos próprios portugueses e aos brasileiros que com elas casaram-se. 

A mulher brasileira, para além do asseio e da estética é bem-humorada, alegre, inteligente, criativa, trabalhadeira e leal. 

Já que estou a falar das virtudes delas, não posso deixar de destacar a fidelidade moral contrapondo-me aos palavrórios infames a que definem toda mulher brasileira por culpa não apenas da imoralidade de algumas delas, uma minoria ínfima aliás, mas pela fragilidade moral daqueles que a buscam. 

Numa situação normal a mulher brasileira jamais toma decisão de trair. Aliás, muito custa a uma mulher brasileira romper com a fidelidade. Normalmente, homens brutos, adúlteros, insensíveis jogam-nas fora o tempo todo. Custa até que uma delas dá a retribuição merecida, que jamais será justificada.

Já vi muitas destas permanecerem fiéis as custas de muitas lágrimas.

Hoje estamos aqui para enaltecer mulheres anônimas que lutam por seus casamentos, amam seus maridos, cuidam da sua casa, são lindas e inteligentes, e cheirosas. 

E se abríssemos espaço para falar da mulher temente a Deus, daquela que busca a face do Senhor, que está numa progressiva que lembra a rara Mulher Virtuosa? Descobriríamos mulheres incríveis cuja voz merecia ser ouvida entre as honrarias do Prêmio Nobel. 

segunda-feira, 6 de abril de 2020

"Olhos de Ver" Coisas Boas

"Olhos de ver" não é uma redundância como "subir pra cima". "Olhos de ver" é uma expressão bastante comum cá em Portugal. Seria mais do que um simples "eyes to see". "Olhos de ver" significa "visão, análise mais profunda". Precisamos ter "olhos de ver" coisas boas em tempos de coisas tão ruins. 

Todos já sabemos tanto sobre tantas coisas ruins destes últimos dias. Mas, você seria capaz de enumerar uma lista - "top 10" - de coisas boas? "Top 10" de coisas boas em sua cidade e país, e outra "Top 10" em sua própria vida, dentro de sua casa. 

Por quê? 

Porque as coisas boas existem, e também porque fortalecem nosso sistema imunológico e capacitam-nos a lutar, a vencer.

"Quero trazer a memória o que pode me dar esperança." (Lm. 3.21)

O que traz-me esperança? 

A Primavera que faz a vida renascer depois de tanta penumbra e frio. E do outro lado do Atlântico, o calor que incomoda, mas que pode ser um antídoto nestes dias. 

As chuvas mil de nosso Abril que para além de regar a terra e encher os reservatórios contra secas futuras, também limpa o nosso chão. 

Ah, quanta história linda de ver com "olhos de ver" a partir de gente que está a doar-se - a si mesmo - para o bem do próximo. Quantas histórias de solidariedade. Quanta gente tão humana, que reparte o pão e estende a mão. 

E aquelas histórias raras de patrões que fizeram um acordo consigo mesmos e decidiram apoiar seus empregados, e passar junto deles esta fase?

Não poderia deixar de mencionar a Providência Divina sobre as nossas mesas - seja por reserva planeada, seja por socorro bem presente na angústia.

E aqueles que não deixam o país parar? Obrigadíssimo motoristas, trabalhadores de produtos essenciais, inclusivamente aqueles que estão no anonimato, mas que não podem parar, por eles e por nós. Obrigadíssimo aos que não deixam o Hospital fechar desde o Porteiro até o Doutor, das senhoras da limpeza até as Enfermeiras.

Não podemos deixar de mencionar aqui aqueles que dentro de casa formam uma Equipa. Vencem cada dia. Tornam os dias de reclusão mais leves como se a vida fosse sempre assim. Re-inventam brincadeiras, re-descobrem jogos, provocam boas conversas, cozinham aquele prato especial, dedicam momentos de oração. Gigantes anônimos que fazem um bem enorme ao país, e somente Deus sabe de sua importância. 

Não poderíamos deixar nossos "olhos de ver" sobre aqueles que descobrem não viver tão bem quanto pensavam, mas encontram uma oportunidade de reconciliação. 

É verdade que não dá tempo de "olhos de ver" a todos que estão a dedicar tempo nas "Lives", e em meditações partilhadas, entretanto, sabemos que sempre haverá alguém que nos ouve, e encontra algum conforto a partir daquilo que Deus põe em nosso coração. Alguns atingem milhares, outros apenas alguns, mas na soma de todas as ministrações, muita, muita gente tem sido abençoada. 

Enfim, precisamos ter "olhos de ver" o amanhã. Há esperança para o ferido. Você se lembra de Jó? Ele viu esperança para uma árvore morta como se fosse diferente para o homem mortal. Num tempo tão duro com a sua própria realidade ele poetiza o que mais tarde aconteceu consigo mesmo. Ele "a priori" não tem "olhos de ver" para si mesmo, mas depois de dias longos e sombrios, ele mesmo seria aquela árvore:

"Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e seu tronco morrer no pó, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta." (Jó 14.7-9)

E assim ganharemos a sensibilidade de um "coração de sentir" e "ouvidos de ouvir" a voz de Deus, pois "o essencial é invisível aos olhos" (Antoine Saint-Exupéry). 

domingo, 5 de abril de 2020

Portugal e Brasil, Ontem e Hoje (Re-leitura de 1808 - Parte VII)

"Os treze anos em que D. João VI permaneceu no Rio de Janeiro foram de fome e grandes sofrimentos para o povo português... O príncipe os havia abandonado. O país tinha sido conquistado sem luta ou resistência. Estavam entregues a própria sorte e cabia a cada um cuidar da sua própria segurança."

O arquivista real Luiz Joaquim dos Santos Marrocos decidiu permanecer no Brasil quando D. João VI retornou a Portugal, e para justificar a família disse que Portugal era o passado, o velho, as ideias antigas, o sistema colonial, a decadência. O Brasil era o novo, o futuro, a riqueza, a prosperidade, a transformação.  

Enquanto havia caos em Portugal, havia grande prosperidade - ainda que desigual - nas terras brasileiras. O que a corte portuguesa queria era sustentar-se em todo luxo possível e em troca terras, serviços, e até galinhas e ovos, ela vendia "favores" aos poderosos. 

"Em Portugal, para fazer-se um conde se pediam quinhentos anos; no Brasil, quinhentos contos", escreveu Pedro Calmon.

E, hoje?

O Brasil continua riquíssimo e desigual. E assim que vai seguir mesmo com uma possível quebra no crescimento. Mas, não vai demorar muito e retoma. Quem é podre vai continuar pobre. Os ricos vão perder um pouco, mas logo voltam a ganhar. E há aqueles que estão a driblar e reinventar-se para encontrar uma oportunidade de crescimento, e alguns deles terão sucesso, e outros vão morrer na praia. E ainda há aqueles que não poderia chamar de pobres nem de classe promissora. Eles estão apenas a tentar safar-se e manter os seus empregos.

Portugal também tem um pouco de toda esta gente, mas não podemos dizer que é um país riquíssimo. Portugal sobrevive desde os tempos em que não administrava bem os bens que explorava. 

O  perfil que desenharia do povo português hoje é de três grupos. Um grupo são os visionários. Portugal ficou pequeno para eles. Eles querem explorar outras terras, mas como os navegadores, não estão preocupados com Portugal. Há um outro grupo muito conhecido, do qual muita gente faz parte. É o grupo dos pessimistas e medrosos que chamaria de D. "Joãos". Mas, ainda há um grupo de portugueses e imigrantes que querem o bem de Portugal, e estão bem dispostos a investir nele. Estes querem descobrir novas terras, explorar novas possibilidades, mas desejam permanecer, amar e investir nesta terra. 

Estes são os portugueses. E Portugal? Portugal não é um país rico. É um país frágil e ao mesmo tempo aguerrido. Já sofreu abandono, terremoto, incêndio, recessão e agora sobre os efeitos de uma pandemia. Sofre unido e de cabeça erguida para o futuro. 

Celebrava a pouco 2% de crescimento econômico, e agora sabe que sofrerá uma dura quebra - que lembra a recessão de 2008 - mas, também sabe que será possível retomar o crescimento. 

Enfim, como definiria Brasil e Portugal numa palavra? 

Brasil - ESPERANÇA. Esta não nos deixa nunca.

Portugal - DETERMINAÇÃO. Esta insiste em sobreviver junto com o seu povo desde sempre. 

Jesus, Internet e Quarentena

Jesus e internet são duas boas companhias em tempos de reclusão. Preciso dizer que Jesus é o bem maior, e que sem Ele nem sequer respiramos?

E se faltasse Jesus? Faltaria o amor sacrificial, a comunhão espontânea, a alegria verdadeira, o relacionamento sincero e a esperança por vir. Sem Jesus mergulharíamos na desesperança, na impaciência egoísta, e num pessimismo moribundo.

E se faltasse a internet? Faltariam as séries da Netflix, as inúmeras reuniões por Skype ou Zoom, a bênção de ver o rosto daqueles que estão mais longe, muitas e muitas Lives, e até os Cultos de nossas comunidades. Sem falar das redes sociais. 

Se faltasse Jesus, a internet seria uma fuga da realidade, ou simplesmente mergulharíamos num vício perigoso.

Se faltasse a internet, Jesus poderia ser redescoberto em conversas mais alargadas, reflexões imersas no silêncio, e leituras menos apressadas. 

Ora esta. Sem Jesus não dá, e sem internet também achamos que não. Mas, penso que podemos deixar de acessar mais, e dedicar mais tempo ao que vier sem ela, e descobriremos boas brincadeiras, redescobriremos jogos antigos, daremos mais risadas juntos, ou simplesmente ouviremos nosso grilo interior a cantar ou o nosso grito interior a revelar-nos quem realmente somos. Será bem melhor. 

Com Jesus, a internet e também sem ela, passaremos nossos próximos dias. 

sábado, 4 de abril de 2020

A Sério? Filosofando sobre Isto?

"Uma das primeiras-maiores conquistas que celebramos foi quando nossos pais encheram-nos de elogio e celebraram nossas primeiras experiências na saída da fralda. E o nosso primeiro olhar para o cocô era de alegria. Um sentimento que somos capazes de fazer coisas incríveis." (parafraseando um professor de Literatura na Universidade)

Por que a própria "obra" é celebrada algumas vezes? Por que não toleramos a dos outros? A dos outros sempre cheira mal e é detestável.

Não é assim quando pecamos? Sempre temos auto-justificativas, enquanto classificamos como inadmissível o que os outros fazem.

Ouvi de um menino que achava defecar fosse coisa somente dos pobres. Eis também um papel social do cocô. Assim como o pecado, nivela todo ser humano. Todos. Ricos e pobres. De toda cor e credo. Todos precisam comer e todos defecam. Ninguém o deixaria de fazer ainda que pagasse todo dinheiro que tem. Somos iguais. 

E, por que ouvimos tantas interjeições e xingamentos com a expressão mais chula do cocô? Cai alguma coisa e alguém diz ou pensa: "Que merda!" Vai ao Banco e encontra uma enorme fila, e blasfema: "Shit!". E ainda alguns classificam um próximo qualquer: "Seu merda!" Por que há tanta "merda" na boca de tanta gente?

A Bíblia também fala sobre fezes, algumas vezes. A Lei mandava fazer um buraco e cobrir com terra, depois de evacuar (Dt. 23.13). Cuidados de higiene são fundamentais. 

Comer as próprias fezes são colocadas como sinônimo de juízo severo (Sl. 75.8). 

E entre outros mais, há até um destaque aos complacentes com o pecado, como se Deus nada fosse fazer, e o que Deus diz é que vai procurá-los com "lamparinas", estes que sentam sobre fezes (Sf. 1.12).

Cabe bem aqui o filme "Fé Demais, Cheira Mal". Há muita gente no perfil de Jonas Nightengale (Steve Martin), um falso pregador de fé, que usa truques para atrair pessoas aos cultos. Há sim muita gente a fazer... 

Ah, ainda vale a pena dizer que é deselegante e feio ter a palavra de hoje como se fosse doce na boca. Afinal, ninguém gosta de comer excremento. E o que dizer daqueles que enchem a boca pra dizer: "Vou cagaaar". Há maneiras melhores. Não? Ou então, simplesmente não o diga. 

O que deve sair de nossa boca são palavras agradáveis e que edificam (Pr. 16.24; Ef. 4.29). E o máximo que a Bíblia permite de termos mais pesados e inadequados para o dia a dia tem um propósito confrontativo como aquele em que Jesus chama os fariseus de "raça de víboras".

O que mais dizer? Já cansei-me de dizer "shit" porque estou apenas a "filosofar" sobre a sujeira social, espiritual e bons modos... E que fique por aqui. 

quinta-feira, 2 de abril de 2020

O Poço

Neste dias de reclusão assistir ao filme "O Poço" parece não ser tão boa sugestão. Mas, fui a isto, e mais: vi-nos ali. É a vida dura, de luta e esperança.

Como teólogo teria uma abordagem simplista porque diria que todos nós fazemos o que fazemos por trazermos em nós a essência da Queda Original. E foi lá - nesta condição de fundo de poço - que Jesus nos resgatou. 

Também gostei da ênfase sobre a MENSAGEM. Ela é suficiente em si mesma, ainda que Deus use portadores. E sobre o uso das palavras de Jesus foram muito bem empregadas, porém, totalmente fora de contexto. É natural... Mas, aquela simbiose sobre quem  "bebe do meu sangue e come da minha carne" é fantástica. É mesmo o que acontece com aqueles que um dia creram em Jesus e O tem como se a própria vida não fosse própria. Ufa! Que bom que pude pensar em algo positivo!

Não sou apenas teólogo. Sou gente normal, e como tal vi o filme também a partir de um prisma sociológico. Diferente da Luta de Classes, embora numa certa altura, a personagem principal tenha sido chamada de comunista. Ele deixa claro que o desejo de saciar a fome  alheia e promover justiça é uma questão de humanidade, e não política ou ideológica. Isto é fantástico. A sensibilidade em estender as mãos vem do coração e não da academia. 

Quando o caos está estabelecido e desenvolvido não há "consciência coletiva" para o bem. Há apenas uma disposição animalesca de auto-preservação. É o que já aconteceu inúmeras vezes com pessoas que quase morreram, por comer carne humana para não morrer. 

E os níveis? Os níveis são impactantes. Há níveis tão altos e tão podres que ninguém nem sequer desfruta. Ninguém come tudo o que está sobre a mesa. Aliás, a vida é tão complexa e coloca-se tão desafiadora que ninguém consegue comer tudo o que está disponível. 

Há outros níveis tão baixos, tão chocantes que a morte é o mais provável, e até que ela venha há situações tão deploráveis, que seria melhor morrer a viver de forma tão moribunda. 

Ainda a pensar nos níveis mais baixos caberia voltar a uma abordagem espiritual com implicações sociais: 

"Mas estes, como animais irracionais, que seguem a natureza, feitos para serem presos e mortos, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção," (2 Pe. 2.12).

E afinal, ainda a cuidar para que não haja spoiler, a Mensagem é a mensagem. A Mensagem é de esperança e de justiça ao mesmo tempo, e por isto, é uma mensagem de um futuro.