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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Os negócios desta vida e o pastor

"Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra." (2 Tm. 2.4)

O que são os negócios desta vida? 

Os negócios desta vida são as coisas próprias da vida civil, do cidadão comum. 

Então, os negócios desta vida estão relacionados com moradia, educação, bem-estar e trabalho? 

Como um pastor, um missionário,vão fugir disto?

Estaria Paulo a privar ao seu pupilo Timóteo de que constituísse família e vivesse uma vida normal? 

Vivia Paulo nesta suposta anormalidade? 

Um duplo não ressoa nas Cartas Pastorais. 

Paulo aos pastores Timóteo e Tito recomenda que se envolvam com os negócios desta vida de maneira categórica. Contradição?

A referência que pode englobar muitas outras é: "Que governe bem a sua própria casa..." (1 Tm. 3:5)

Governar a casa é uma temática que passa, necessariamente, pela basicalidade do dinheiro, do tempo, da corpo e da cultura.

Por que mexer com a administração financeira, da agenda, da saúde e da educação? 

Porque são as coisas que mais ocupam as nossas emoções, atenção e foco. Afinal, são elas itens básicos para um cidadão comum.

Como "fazer dinheiro" e como gastá-lo. Comer o mais saudável possível. Ter tempo de qualidade em família o que inclui lazer, tempo ao redor da mesa e, ainda que de maneira frugal, boas refeições.

O que mais? Investimentos. Quantos pastores terminam o seu ministério de maneira muito triste porque envelheceu e já não serve mais. Daí, vive da ajuda de outros, às vezes se torna um peso para a família porque estava tão comprometido com o ministério que não podia se envolver com as coisas desta vida.

A experiência do próprio Paulo como "fazedor de tendas" já seria suficiente para não entendermos que o não envolvimento com os negócios desta vida não está relacionada com os negócios em si, mas sim com a motivação e a sua legitimidade.

Por motivação é só perguntar "Por que vou investir nisto?" E se a resposta for o bem estar da família já seria nobre para começar a considerar.

E por legitimidade é a capacidade de discernir as implicações que envolvem aquele comprometimento. 

Quanto tempo? Onde? Com quem? É justo? É de boa fama? É um desafio que posso levar por quanto tempo? É um socorro presente na angústia? Por que poderia ser uma armadilha? De que forma podia somar com o ministério? 

E se formos mais honestos com o texto, leríamos o versículo anterior: "Suporte comigo os sofrimentos, como bom soldado de Cristo." (2 Tm. 2:3)

A legitimidade, antes de tudo, está relacionada com o sofrimentos a favor do Evangelho. 

As angústias do Evangelho devem ser as minhas, e quantas vezes, estar fora do contexto eclesiástico integral é uma oportunidade de ver estampado as razões porque Cristo sofreu. 

Enfim, é todo investimento e renúncia que contribui com o Evangelho.

Então, "Business as Mission" é mais que bem-vindo, não apenas em países em que trabalhar é obrigatório.

Cada vez mais, o campo missionário precisa de gente que trabalha fora porque em algumas realidades somente assim poderão testemunhar de sua fé de maneira a serem ouvidos, porque antes de ouvirem, viram-no a viver.

Aliás, diga-se de passagem que a ocupação com uma atividade paralela pode ser uma das poucas oportunidades de humanizar um pastor, onde ele será chamado pelo nome, e será tido como um "sujeito normal", gente como toda gente.

@vacilius.lima
Professor, diga-se de passagem