Como falar de saudade entre Portugal e Brasil, sem a lembrança de Fernando Pessoa e Gonçalves Dias?"Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães por nós
Choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!"
Somente aqueles que deixaram os seus mais queridos, podem conhecer quão longínquo é o Atlântico, e quanto do seu sal, são lágrimas.
As 10 horas de voo, não traduzem um sentimento eterno, profundo, agudo, e penetrante como os abraços moribundos de quimera que assusta.
Esses abraços vêm mesclados com abraços de ternura e consolo. Lembranças que provocam dores, e ao mesmo tempo, gratidão.
Gratidão pelos bens vividos. Gratidão pelos amados queridos. Gratidão pela esperança.
A gratidão é tão viva quanto as lágrimas, e as lágrimas quanto a gratidão.
Lágrimas, que ontem à noite caíram dos nossos olhos, do Murilo e de mim. Vi-o mais quieto, e tomei-o ao colo. E ao perguntar-lhe, ele respondeu: "Por que que Adão foi pecar? Agora, temos de morrer, e antes dos meus vovós morrerem eu queria-os perto de mim. Eu quero minha família toda pertinho de mim."
Abraçamo-nos e pude sentir uma dor aguda, e as lágrimas foram inevitáveis.
E o que acontece depois? A vida segue com aquela gratidão e esperança.
As lágrimas partilhadas fizeram bem, e hoje ele estava bem alegre, e sorridente. O bálsamo da Graça nos alcançou mais um dia.
Fernando Pessoa, ameniza a desesperança, ou cultiva a esperança, na continuidade do poema Mar Salgado: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena."
Ainda que tenha "alma grande", quem está do lado de cá, por mais lindo que seja Portugal, algumas vezes sente-se como Gonçalves Dias, em seus dias na Universidade de Coimbra, quando escreveu "Canção do Exílio", em 1843.
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
Em cismar - sozinho - à noite -
Mais prazeres encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
O poema continua, e caminha para o final com um "grito": "Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá!"
Nem que a volta seja apenas para abraçar os nossos queridos, por alguns dias ao menos. Tomar um caldo-de-cana com pastel de vento, e outras "coisitas" mais.
Aguenta, coração!
Instagram: @vacilius.lima
FOTO: Vista do Terraço da Associação Cascatas