Já é a primeira hora da madrugada, minha janela está aberta, e a tela pintada à minha frente é arte do Criador: céu com algumas estrelas, mata fechada, e o reflexo da lua no majestoso rio Abacaxis,e nele um barulho curioso e intrigante de mergulho, asas batendo, grunhidos e a impressão de respirações ofegantes.
Esses barulhos trazem um misto de admiração e espanto, já os que ouço na madrugada de meu quarto em São Paulo são só de espanto, nunca de admiração.
Jovens gritando, se embebedando, muitos palavrões, gritos de mães que perderam seus filhos, carros correndo, polícia passando, xingamentos, cheiro de erva queimando, pó que suja a casa toda e o carro também, e muito do outro pó nas esquinas.
Medo dos bichos? Que bicho? Do bicho que está em seu habitat natural? Ou medo do bicho homem que desestabiliza o habitat natural de outros homens?
Que habitat? O meu tem só uma árvore no meu quintal e mais um pequeno limoeiro e um aceroleiro menor ainda.
Aqui no Amazonas um grande gramado, lá ruas movimentadas por caminhões, carros e motos que não respeitam.
Aqui estou ilhado de rios, lá afogado num bairro industrial.
Como estão os pulmões de meus filhos? Por eles eu preciso mudar? Mas, o chamado não sou eu quem escolhe.
Que selva é mais perigosa? Que bicho é mais cruel?
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