Até que acontecesse a
oficialização da Reforma aos 31 de Outubro de 1517 muito sangue foi derramado.
Depois de seis Cruzadas aconteceu um dos episódios
mais triste da história quando as crianças francesas e germânicas, lideradas
por dois garotos, saíram contra os mulçumanos sob a suposição de que venceriam
porque eram puras. Aquelas que não morreram foram mantidas como escravas no Egito.
O que houve de contribuição desse período para uma
reforma futura foram os movimentos monásticos (franciscanos,
domicianos, cavaleiros templários etc).
O perfil dos monges, de todas as
ordens, tinha em comum uma vida ascética e a dedicação aos estudos e a vida de
oração.
Essa disciplina toda não foi suficiente para resolver a
carência espiritual, inclusive de Lutero séculos mais tarde, o qual se refugiou
num monastério.
Também houve Movimentos Leigos que precederam a
Reforma: os albigenses tornaram o Novo Testamento a expressão legítima de
sua fé e rejeitavam a autoridade papal como infalível, e por isso, foram
perseguidos por uma Cruzada (1208).
Os valdenses puritanos que pregavam
como leigos e o papa os proibiu (1184). Eles defendiam a Bíblia na mão de todo
o povo e com autoridade final. Até hoje se reúnem no norte da Itália com mais
de 35.000 crentes (registro dos anos 80).
Logo em seguida aos movimentos o escolasticismo ganhava
força no desenvolvimento dos estudos e no surgimento da Universidade, o poder
papal entrava em declínio (1309-1439), inclusive por conta da moralidade dos
clérigos.
A queda do prestígio papal foi tão grande que houve um cisma:
o norte da Itália, grande parte da Germânia, a Escandinávia e a Inglaterra
seguiram o papa romano; a França, a Espanha, a Escócia e o sul da Itália
preferiram se submeter ao papa de Avignon, na França.
A Reforma era evidente a essa altura, não só por questão
de liderança, mas por finanças também: os impostos papais estavam se tornando
um fardo para o povo europeu.
Houve também uma contribuição política, pois surgiram nações-estados,
que se opunham a uma soberania universal do papa.
Os movimentos do Misticismo também deram a sua
colaboração para a Reforma porque se levantou contra aquela postura mais
racionalista e ao mesmo tempo se colocou como uma solução e alívio frente a
tantos tempos atribulados: Peste Negra (1348-49) que dizimou um terço da
população europeia; e a Revolta dos Camponeses (1381) na Inglaterra que era uma
evidência de insatisfação social associada com as ideias de Wycliffe.
Somente após séculos e muitos movimentos é que vieram
aqueles que consideramos os precursores mais diretos da Reforma:
João Wycliffe (c. 1328-1384), o estudante e professor de Oxford, desafiou o papa e os
dogmas romanos defendendo que Cristo e não o papa é o líder da Igreja e tornou
a Bíblia acessível ao seu povo, traduzindo-a para o inglês popular.
João Huss (c. 1373-1415) leu e adotou as ideias de Wycliffe. Huss foi queimado
vivo numa fogueira, mas seu livro, De
Ecclesia, foi salvo. Ele tentou reformar a Igreja da Boêmia
(Tchecoslováquia).
Os discípulos de Huss (Taboritas) foram ainda
mais radicais. Rejeitaram tudo o que não estivesse na Bíblia. Deles vieram os Unitas
Fratum (Irmãos Unidos) ou Irmãos Boêmios no século XV, de onde mais
tarde veio a Igreja Morávia que teve uma reunião de oração que durou 100 anos
acompanhada de envios constantes de missionários pelo mundo.
Savonarola (1452-1498) se dedicou a Reforma da Igreja em Florença (Itália) e se
levantou contra todo o tipo de vida desregrada. E o papa o condenou ao
enforcamento.
Além desses movimentos e precursores também houve os Concílios
Reformadores (1409-1449).
O Concílio de Pisa (1409) depôs o Papa
Benedito XIII e Gregório XII, os quais não aceitaram o novo papa Alexandre V,
ficando assim a inconsistência de três papas.
O Concílio de Constança (1414-1418)
estabeleceu um outro papa, Martinho V, que passou a ser o único, mas nesse
concílio substituiu o absolutismo papal pelo controle conciliar. O poder agora
estava dividido e distribuído.
O Concílio de Basiléia (1431-1449) e Ferrara-Florença
(1438-1449) foram concílios rivais. O primeiro foi reformista e
pretendia dar continuidade ao movimento de John Huss, no entanto se enfraqueceu
diante de Florença que trouxe o ressurgimento do poder papal.
Foi nessas idas e vindas, vitórias e aparentes derrotas,
muitas controvérsias, mortes... que o poder papal se enfraqueceu e aos poucos
homens de Deus, verdadeiros mártires, foram sendo levantados ao longo de séculos.
Afinal, o que foi a Reforma?
Um historiador católico romano a define como uma revolta,
para um historiador secular ela foi um movimento revolucionário, mas para um
protestante significa o retorno aos princípios do Novo Testamento.
Esse retorno se levantou defendendo o “sacerdócio
universal dos crentes” contra o clericalismo (hierarquia engessada), o
simonismo (venda de cargos eclesiásticos) e as indulgências (venda do perdão e
da salvação).
O “sacerdócio universal dos crentes”
se estabeleceu sob as seguintes bandeiras:
“Sola Scripture” – a suficiência plena das Escrituras.
“Sola Fides, Sola Gratia, Solo Christus e Soli Deo
Gloria” – a glória de Deus a partir da exclusividade da fé e da graça na pessoa
de Jesus somente.
A partir daí – de uma boa base – veio João Calvino como
um pós-reformador, que muito e mais escreveu sobre a Teologia, lançando
consistência e amplitude a compreensão das Escrituras.
O que dizer frente a essas coisas? Que o nosso Deus
escreve a História. Ele mesmo vai tecendo cada decisão e se utilizando de cada
confusão na instrumentalidade de servos entregues. Somente “A ele seja a glória
pra sempre! Amém. Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas". (Rm. 11.36)
(Obs.: Esse texto foi desenvolvido a partir do Livro "O Cristianismo Através dos Séculos" de Earle Cairns)INSTAGRAM: @vacilius.lima
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