A terra pra
eles sempre será “a Terra” porque nela está a história do povo. A história é o
maior legado, e ela não se encontra nos livros, nem nos contos, primeiramente.
A história
está escrita na terra, a vida está nela, por isso, “voltar ao pó” é um
encontro, não uma tragédia.
Estou
debaixo de uma mangueira bem grande e alta e acabou de cair uma manga bem lá de
cima. Foi uma pancada. Caiu mais uma agora. Acho que vou tirar meu “not” daqui.
Olhei pra um Terena e disse: “Olha o perigo!” Ele respondeu: “Olha o lanche!” Essa
brincadeira reforça outra diferença: a terra pra eles não é uma ameaça, é
providência.
Claro que
estou tecendo impressões. Não é uma tese. E outra forte consideração é o que
preguei na primeira noite de Congresso: “Sai da sua terra... E vai para a terra que mostrarei (Gn.
12.1)”. Trocar o que conhecia pelo que não conhecia... o que ele
sabia pelo que
Deus sabia...
Eles não ouviram naquele momento o que um “homem branco” ouviria. A
cosmovisão deles não permitiria olhar como uma mera mudança. Eles podem trocar
e negociar tudo, mas a terra é o chão da vida, ali.
O maior problema pra nós é assumir o desconhecido, pra eles
é deixar o conhecido.
Agora, somente agora, eu comecei a entender a “retomada” próximo a Aldeia de Água Azul. Aí eu entendi o Cacique Alberto, um pastor que luta não
pela invasão, nem por assentamento, mas pela retomada da terra – onde marcos
antigos testemunham a favor deles.
Só agora entendi que o chamado de sair da terra é muito mais
sério pra eles, que estão indo depois de mais de cem anos de evangelização entre os Terenas,
como missionários para outras etnias, e a Funai não pode impedí-los. Aleluia!
“Sai da sua terra!” se o chamado é de Deus, mesmo que a terra pra você seja um
terreno a ser vendido.
Terra, mãe terra para nós! Ao contrário do que tentam fazer-nos acreditar de que não podemos dar importância a essa terra e sim aquela celeste, amamos essa terra, território, que é a nossa casa, nosso lar que por diversas vezes foi e continua sendo violado. Amamos essa terra que pisamos sem deixar de ansiar pela terra celeste. Ituko'oviti (Deus) nos deu essa terra, podemos sair, estudar, conhecer outro mundo, alegrarmos em outro território com diversas etnias, mas é sempre gostoso retornar ao lar e mais eloketi, eloketi (feliz) ainda, depois de partilhar do Grande Amor revelado a nós com outros povos!
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