Ouvimos Deus quando lemos a Bíblia? Será? A dúvida não recai sobre a suficiência e inerrância das Escrituras. Será que, realmente, eu ouço a voz de Deus ao ler a Sua Palavra?
Afinal, prostro-me frente as Escrituras e aqui no meu peito continuam as vozes dos meus dilemas, e pior, a voz de um coração enganoso. Coração que está a ser re-feito conforme a imagem do Filho de Deus, entretanto, ainda encontra-se fortemente abraçado por um filho de homem.
Ouvimos Deus na contemplação da natureza? Talvez aquela voz mais geral, que revela Seus atributos e eternidade. A Sua sabedoria revelada no Ecossistema, a beleza de Sua criatividade nas muitas cores, na variedade das espécies, o Seu amor que a tudo sustenta, tal como fá-lo com os pardais e lírios do campo, e Sua grandeza e força subentendida nos dentes das feras e na fúria do mar. Mas, isto é uma voz programada. Nós fomos treinados para ouvir esta voz. É uma voz geral. Quem a aprende a "ler", pode ouvi-la.
Será que seríamos capazes de ouvir a voz de Deus, para nossa particularidade, a partir da criação? Não achar alguma, não simplesmente aplicar algumas verdades bíblicas, mas discernir uma voz mais específica, para um momento específico que estamos a passar.
Aquela voz que Deus não fala com mais ninguém. É coisa dEle para mim. Não a ouço para sair partilhando. Até poderia ouvir numa Live, mas elas são muitas, e podem deixar-me ainda mais perturbado.
A correria priva-nos desta voz? Não necessariamente. É mandatário parar tudo, subir o monte e aquietar-se no jardim? Nem essas reclusões garantem que ouviremos a voz de Deus. Pode acontecer. E se Ele não falar?
Não existe um manual intocável que ensina como ouvir Deus. A Bíblia não é um manual escrito para ensinar como ouvir Deus, necessariamente. Ela é a boca de Deus, cuja voz nem sempre é clara.
Se Ele não falar, ouvimos a sua voz no silêncio. Ouvimos? Quantas vozes gritam dentro de mim, quando encontro-me em silêncio, e penso que ali encontrarei Deus.
A única voz que posso ouvir agora é: "Aquieta minh'alma." Simplesmente, "aquieta minh'alma", sem a implicação em ouvir a continuação da poesia: "vai ficar tudo bem". Vai ficar tudo bem?
O que é ficar bem? Que vozes são essas? Quem disse que vai ficar tudo bem? Mas, o que é não estar bem? O que é ficar bem? Quantas vozes, quanto engano. Deus é livre para falar e para calar. E nós somos presos aos paradigmas do "Deus disse".
Dá trabalho ouvir a voz de Deus? Então, vou descansar, e ouvir a voz dos pássaros.
Os pássaros cantam, a alma agita-se, o coração aspira, a mente confunde-se, e finalmente ouço uma voz: "És meu filho, eu te gerei, tomo-te pelas minhas mãos, não teme." Esta voz parece fazer sentido.
"Aquieta minh'alma."
Nenhum comentário:
Postar um comentário