"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."
Ele na verdade cantou o medo do medo.
O amor está escondido e o ódio já não existe. O que é real é o medo que esteriliza os abraços, o medo geográfico (dos mares ao deserto), o medo daqueles que deveriam proteger-nos e amar-nos (soldados e mães), o medo daquela que deveria ser um instrumento de Deus para tirar-nos o medo (a igreja), o medo de que qualquer possibilidade e esperança política (ditadores e democratas), o medo de morrer e do que se sucede a morte, e a única certeza: ser minguado pelo medo.
O amor está escondido e o ódio já não existe. O que é real é o medo que esteriliza os abraços, o medo geográfico (dos mares ao deserto), o medo daqueles que deveriam proteger-nos e amar-nos (soldados e mães), o medo daquela que deveria ser um instrumento de Deus para tirar-nos o medo (a igreja), o medo de que qualquer possibilidade e esperança política (ditadores e democratas), o medo de morrer e do que se sucede a morte, e a única certeza: ser minguado pelo medo.
Não precisa ser assim. O medo cantado assim não procede de Deus. Talvez o poeta tenha feito apenas uma sondagem do que viu, mas nós não precisamos viver com tantos medos e até de ter medo. A esperança, a fé e o amor confrontam o medo.
A esperança é contrária ao medo porque alimenta e promove vontade do amanhã (sem flores amarelas e medrosas).
A fé é oposta ao medo porque não cogita a possibilita de intimidação.
E "o amor (perfeito) lança fora todo medo" (1 Jo. 4.18) porque quem ama acredita, entrega-se, confia.
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