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sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Igreja Teocrática ou Cristocêntrica?

A Teocracia aconteceu quando o povo de Deus ainda era Israel. Eles, entretanto, rejeitaram o Seu governo, e elegeram Saul para se tornarem parecidos com as outras nações. 

Ainda assim, num ato de graça, Deus permite esta transição. E a composição do Reino nunca deixou de ter os conselheiros reais, os sacerdotes, e uma "pedra no sapato" dos reis, que eram os profetas. 

Os profetas foram fundamentais para a Teocracia, e depois para que os reis e o Reino, não se desvirtuassem nas contradições dos abusos da autonomia.

A Igreja de Cristo, neo-testamentária, é mais que teocrática. Ela deve ser cristocêntrica, pois Cristo é a cabeça (Cl. 1:18). Ele, o próprio Cristo comprometeu-se a edificar a sua Igreja (Mt. 16:18).

À semelhança do que aconteceu em Israel, para que não houvesse desvios e abusos e nem exclusividade na liderança, o próprio Cristo estabeleceu homens/dons (Ef. 4:11), a fim de que eles equipem o povo. 

E um povo equipado, é um povo maduro em discernimento e ativo na cooperação (Ef. 4:14-16).

Estes homens não devem estar, nem trabalhar sozinhos e por isso, o Corpo de Cristo recebeu do Espírito Santo uma diversidade de dons (1 Co. 12).

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." (1 Pd. 4:10)

E para que haja não uma "pedra profética no sapato", mas sim saúde ativa no Corpo de Cristo, o Novo Testamento estabelece a prática de cerca de 48 mandamentos de mutualidade. Segue um amostra: 

"A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração." (Cl. 3:16)

"Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos aceitou, para a glória de Deus." (Rm. 15:17)

Sendo assim, nenhuma igreja local pode ser madura e saudável se não tiver algumas coisas das mais  básicas:

1. Liderança plural e coparticipativa, não de um "anjo" único que tem todo poder nas mãos, e reivindica "autoridade espiritual";

2. A diversidade dos Dons Espirituais por todos os membros;

3. A prática dos mandamentos de mutualidade;  

4. A consciência coletiva de que Jesus e a Bíblia são as autoridades finais e referenciais para a Igreja; e, 

5. As pregações não são "apenas" bíblicas; elas são cristocêntricas no sentido de que culminam na Cruz, pois giram em torno do pecado, da graça, da justificação, da Segunda Vinda de Cristo, da eternidade e da santificação.

E então? A sua igreja local é uma igreja cristocêntrica e biblicamente saudável? 


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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Que animais podemos comer?

Quais animais podiam ser comidos? O critério estabelecido na Lei Mosaíca era: animais com unhas fendidas, dividida em dois e que ruminava (Lv. 11:2-3). Camelos, coelhos e porcos eram impróprios (Lv. 11:4-8). 

Isto era no Antigo Testamento. Qual foi a alteração no Novo Testamento? 

"E viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra. No qual havia de todos os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro disse: De modo nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma comum e imunda. E segunda vez lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três vezes; e o vaso tornou a recolher-se ao céu." (Atos 10:11-16)

Isto aconteceu para que Pedro, judeu, compreendesse que a comida, e as regras da Lei, estavam abaixo do propósito principal:

"E disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo." (Atos 10:28)

"E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo." (Atos 10:34,35)

Esta foi a experiência de Pedro. E qual é a opinião dos outros apóstolos? 

Novamente, vale a lembrar que a questão maior não é o alimento, mas sim as pessoas e a pregação do Evangelho:

"Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação, das quais coisas bem fazeis se vos guardardes. Bem vos vá." (Atos 15:28,29)

E, mais tarde, o apóstolo Paulo ao escrever uma de suas Cartas Pastorais, disse que uma das práticas dos ensinos de demônios seria a proibição que Deus criou para o nosso alimento, todo o tipo de alimentos aliás, é destacado:

"Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças; porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças. Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada." (1 Timóteo 4:3-5)

Há um peso inquestionável na referência acima porque é um judeu a orientar um jovem judeu pastor, cuja carta é um manual para todos os pastores.

Outro detalhe importante a observar é que até os alimentos sacrificados aos ídolos, nós podemos caso quem oferece não sabe que a gente sabe que foi oferecido, e isto é também é uma questão de testemunho e não da comida em si:

"Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência. Porque a terra é do Senhor e toda a sua plenitude. E, se algum dos infiéis vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que se puser diante de vós, sem nada perguntar, por causa da consciência. Mas, se alguém vos disser: Isto foi sacrificado aos ídolos, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; porque a terra é do Senhor, e toda a sua plenitude." (1 Coríntios 10:25-28)

Sendo assim, vamos comer de tudo com ações de graças.


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sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Perigos em descentralizar?

Descentralizar de nós mesmos e intencionalmente focar em Jesus, a cabeça do Corpo, é um desafio.

A posição que Jesus espera de nós é a de servos, e nenhum servo é tão grande o suficiente que traz um cetro nas mãos no lugar de uma toalha. 

Entretanto, há alguns cuidados em descentralizar a liderança, ou fazer uma liderança partilhada, porque implica riscos que precisamos correr e alguns cuidados a atender:

1) Os pastores, e em especial os mais jovens, nunca devem ser rudes com os mais velhos, e respeitosos com os mais jovens:

"Não repreendas o idoso com aspereza, mas admoesta-o como a um pai; bem como aos jovens, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às jovens, como a irmãs, com toda a pureza." (1 Tm. 5:1)

2) O povo não deveria jamais provocar constrangimentos e tristeza no coração dos líderes a partir da desobediência, anarquia e libertinagem:

"Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso não vos seria útil." (Hb. 13:17)

3) As igrejas neotestamentárias tinham uma liderança plural, e naturalmente, sempre havia um coordenador principal como líder, nunca como se fosse um "Papa". Era assim:

"Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam, e de cidade em cidade estabelecesses presbíteros," (Tito 1:5)

4) Embora abrir para a participatividade provoque riscos, a vulnerabilidade é oportuna para manifestar quem é quem:

"Pois é necessário que haja divergências entre vocês para que sejam conhecidos quais entre vocês são aprovados." (1 Co. 11:19)

5) Uma igreja só pode amadurecer quando há oportunidade da prática do dons em suas múltiplas formas, e ainda quando há uma ambiente de relacionamento embasado no princípio da mutualidade.

"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus." (1 Pe. 4:10)

Enfim, entre erros e acertos é bom ver como as pessoas crescem quando não só assistem.

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Novo ano, nova Missão?

Um ano novo traz desafios novos, ou melhor, desafios antigos que se envelheceram nos quartos escuros de nossas memórias. Daí, queremos resgatá-los só porque eles ainda estão lá. 

Isto acontece com as práticas mais saudáveis, desde o que comer ou não até o plano de leitura bíblica anual. Também pode acontecer com algum ministério, o exercício dos dons, e alguma missão específica.

Não fazemos assim com alguns "desafios missionais"? Tiramos-lhes o pó e pensamos: "Agora, vai!"

A pergunta é: "Precisa mesmo ir?"

Se sim, vem-nos então, uma outra pergunta: "Como?"

O nosso fazer, o nosso "como" missional, precisa estar atrelado aos conceitos de pertinência e relevância. 

Responder à relevância talvez seja mais fácil porque tem a ver com aquilo que é de fundamental importância. Por outro lado, pode ser uma questão capciosa porque tende nos esconder nas generalidades. 

Já a nossa resposta àquilo que é pertinente talvez seja um pouco mais desafiador porque toca em algo que vem a propósito, que é apropriado para aquele momento. Não é só ter um propósito, é saber se é praticável, se é aplicável, se tem fluidez naquele tempo e lugar, e ainda, com aquelas pessoas. 

Qual é a nossa missão para 2024? 

Não vale responder com linhas gerais, com aqueles versículos que cabem a todos. Já sabemos que devemos buscar o Reino em primeiro lugar. Já sabemos que devemos cumprir o nosso ministério, cabalmente. O que, entretanto, podemos não saber é como fazer isto fluir a contento. 

Será que não estamos ultrapassando o limite da perseverança para a teimosia?

A resposta, portanto, precisa ser mais pessoal. O que eu estou a fazer é de fundamental importância? Repito: não em linhas gerais. 

"Ah, estou a evangelizar os meus vizinhos!" Isto sempre será de fundamental importância, entretanto, o tempo que me dedico a eles é o que realmente preciso fazer neste momento da minha vida, ou há outro caminho? Estou a atender com as melhores estratégias?"

Vai aqui um exemplo bem particular. Vivemos numa Aldeia em Portugal, Mouraria, uma antiga Vila dos Mouros. O que se desenvolveu aqui há tantos séculos? A cultura do cultivo, da horta, das galinhas, das cabras etc. Isto explica porque temos galinhas poedeiras, duas cabras e horta. 

Não haveria relacionamento algum neste contexto não fosse por aí. Não haveria assunto, não haveria conversa. 

Por outro lado, gerimos uma Casa de Hospitalidade com ênfase em Cuidado Integral. Então, não podemos passar todo o nosso tempo a cuidar da terra e dos bichos.

Precisamos conjugar o tempo na horta com a nossa própria aorta, e a aorta daqueles que passam por nós. 

Estou a escrever e ao mesmo tempo a pensar: "Se saíssemos de onde estamos, qual a carência do Reino que seria aumentada? Por que, realmente, eu preciso fazer o que faço hoje? Não há nada além? Não há outra coisa? Outra ênfase?"

Se não há outro caminho, resta-nos refletir o quanto temos tornado a nossa missão relevante (fundamental) e pertinente (praticável) onde estamos. 

Não haveria uma outra maneira? O que poderia ser adaptado? 

Talvez o caminho sobremodo excelente, seja começar da nossa vida pessoal? Quais as mudanças pessoais, em minha agenda, em meu "schedule", que teriam um forte impacto em minha missão?

Neste novo ano, esperamos uma nova missão, ou simplesmente, uma antiga/nova missão adaptável às demandas deste novo tempo. 

Graça, misericórdia e paz para encontrarmos a fluidez que jorra do trono da graça, de maneira que inunde aqueles que nos cercam.


Texto publicado originalmente pela Revista Martureo, dia 08 de Janeiro de 2024.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

É urgente descentralizar!

Por que Portugal tem tanta dificuldade em descentralizar a liderança e tende a buscar heróis? 

Algumas igrejas assumem uma releitura vétero-testamentária com ênfase nos heróis, o que esvai a força discipular do N.T.. E "Atos 29" está mais calcado na narrativa de Atos do que nas Cartas.

Talvez a delicadeza da questão esteja no legado cultural.

Até igrejas mais contemporâneas, em nome da cultura da honra, arriscam não viver: "E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra." (1 Co. 12:23-24)

A centralização está entranhada no berço português. Quando ainda no século II, Portugal era apenas uma tribo, já havia um grande líder, Viriato. Depois, com a invasão romana o sistema ditatorial moldou a Lusitânia. "Os Lusíadas" não foge à esta tendência quando enaltece o "peito ilustre lusitano" em nome de Vasco da Gama e dos Reis.

Quais são os nomes mais comuns ainda hoje? Pedro e Inês, Duarte, Catarina, Nuno etc. Há um lado bonito da história, e da supervalorização dos heróis, o que gera um clamor de grandes líderes no "inconsciente coletivo".

Até hoje não são poucos os que flertam com saudades da ditadura salazariana. E nas compras? O cliente, normalmente, não tem razão. 

O resultado a médio-logo prazo é de líderes, teimosamente, adoecidos, e de comunidades  superficiais. 

É urgente denunciarmos este desvio das Escrituras. Neste ponto a igreja bíblica precisa ser contra-cultura. 

"Ora, quando vos reunis, cada um de vós tem um salmo, ou uma mensagem de ensino, uma revelação, ou ainda uma palavra em determinada língua e outro tem a interpretação dessa língua. Tudo seja feito para a edificação da Igreja." (1 Co. 14:26)

Sendo assim, deixo-vos aqui uma sugestão de leitura: "O Pastor Desnecessário" de Eugene Peterson. E também uma referência que sugere a maturidade de uma igreja local: "A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração." (Cl. 3:16)


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segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

Ó mar salgado!

Pessoa sabia das lágrimas
que salgavam o nosso pranto, 
o nosso Atlântico

Lançar-se ao desconhecido
Arriscar tudo por algo
algo por tudo

Quanta gente nossa chorou
Quanto chorámos

Desbravámos, provámos novos sabores
já acentuámos o nosso passado

Com o tempo chamamos
nossa Aldeia 
a terra que nos era estranha

Hoje podemos sorrir
Ir e vir

Antigos amores
novos sabores

Novo Mundo
meu velho Brasil
Velho Mundo
nosso novo Portugal

Obrigadíssimo 
Pessoa
Obrigadíssimo 
Tantas pessoas

Pois, vale a pena
se a gratidão não é pequena