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quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Crianças para Cristo - Casal Schaeffer


Conheci Francis Schaeffer ainda no Seminário, através dos livros, e nestes últimos anos com a visita a L'Abri Inglaterra. As pesquisas sobre a sua obra e teologia continuam, e uma das coisas mais incríveis que descobri vem antes de L'Abri. 

Quando Schaeffer era pastor de uma pequena Igreja na cidade de Grove City, Pennsylvania, eles começaram a trabalhar com as únicas 4 crianças matriculadas na Escola Bíblica Dominical. Dentro de pouco tempo eles chegaram a reunir 170 crianças na Escola Bíblica de Férias. 

A partir desta experiência tornaram-se líderes do Movimento Crianças para Cristo. Um movimento que despertava a evangelização, não apenas das crianças, mas que desafiava pastores e igrejas.

Susan Schaeffer Macaulay, uma dos filhos do casal, escreve o livro "For the Children's Sake", no qual desafia crianças, pais e professores a viverem o significado da vida humana e da vida cristã. Ela também deixou um Tributo a sua mãe Edith Schaeffer:

"Minhas primeiras lembranças mais claras estão em St. Louis, durante a Segunda Guerra Mundial. Minha mãe fez um lar aconchegante e segura para nós... cozinhando refeições maravilhosas em uma cozinha, onde eu ficava curtindo rajadas de música enquanto cantávamos no rádio. Alguns dos refrões que cantamos então, e nas aulas para crianças que davam em nosso porão depois da escola, cantamos juntos até o fim verão. Naquela cozinha de infância, lembro-me da atmosfera calorosa e alegre enquanto cantávamos e ela até girava em uma dancinha! Na igreja, ela sempre apontava as palavras do hino livro... e ela e eu, quando juntos, ou ao telefone ao longo de sua longa vida, continuaríamos cantando ao Criador, Salvador e Senhor. Uma de suas favoritas, cantada com gosto, ela lideraria as sessões da Escola Bíblica de verão em St. Louis. Lembrei-me daquele entusiasmo contagiante pego por todos os 500 de nós, crianças lá, enquanto cantávamos “Quando os santos vão marchando ... Senhor,quero estar nesse número, quando os santos entrarem marchando."

O que podemos aprender deles?

1) Era uma família alegre que desfrutava de um clima aconchegante.

2) A vida comum do lar estendia-se para a vida de Igreja.

3) A vida de Igreja não ficava lá. Ela vinha para casa em forma de cânticos e temor.

4) Havia um investimento de evangelismo e discipulado nas crianças do Bairro. 

5) Possivelmente, a filosofia de "Respostas Honestas a Perguntas Honestas" de L'Abri, tiveram sua origem do relacionamento com as crianças. Por quê? Porque são elas que nos fazem perguntas honestas, e das mais complexas. E mesmo aquelas que parecem simples e desnecessárias, fazem-nos pensar naquilo que ainda não pensamos. 

Enfim, antes da vida na Igreja, há a vida do lar. Antes das elubrações filosóficas e das questões mais delicadas da teologia, o nosso coração devia ouvir as crianças. 

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quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Ilusão Construtivista? Herman Dooyeweerd - V

Tive uma professora de Linguística na Universidade, que argumentava de maneira tão convincente, que era difícil não passar a pensar como ela. Uma de suas teses era que tudo o que vivemos, não passa de uma construção social, inclusivamente condições biológicas, como amamentar. 

Também foi muito desenvolvido a ideia de que só existe alguma coisa a partir da projeção que eu faço dela. Ou seja, o significado de qualquer coisa depende da resignificação que eu atribuo a cada coisa.

Dooyeweerd, por outro lado, defende que o sentido das coisas não depende desta resignificação ou projeção que fazemos delas. 

O significado das coisas não é definido pelas próprias coisas, nem da projeção que o sujeito faz. Todo sentido vem de Deus, e na relação com Ele e com as coisas é que descobrimos o sentido que ali já existe.

O nosso papel e a função das ciências no geral, não é formular e dar significado a nada, mas descobrir o que é intrínsico, o que já existe.

Por quê? Porque Deus criou todas as coisas perfeitas, e com com um propósito bem claro e definido. 

(Obs.: considerações feitas a partir de uma Palestra de Guilherme de Carvalho, de L'Abri Fellowship Brasil, sobre Dooyeweerd)


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terça-feira, 22 de setembro de 2020

A Relação entre Filosofia e Teologia - Herman Dooyeweerd - IV

A relação entre a Teologia e a Filosofia, para muita gente, não traz conflito de pensamento, porque a tendência são as polarizações. Ou a Teologia será mestra, ou será rejeitada. 

Que vê a Teologia acima, olha para Filosofia como um serva da Teologia, ou simplesmente como desvios heréticos.

Afinal, qual o lugar da Teologia?

Herman Dooyeweerd e Cornelius Van Til que eram editores da Revista "Philosophy Reformata", a qual defendia os princípios do neocalvinismo, pensavam de forma um pouco diferente.

Embora Van Til tenha sido influenciado por Herman Dooyeweerd, ele diverge sobre o lugar da Teologia. 

Dooyeweerd defendia que a Teologia e a Filosofia têm a mesma raiz, e uma não se sujeita a outra. 

Van Til acreditava que embora a Teologia e a Filosofia estivessem misturadas, a Teologia estaria num grau acima da Filosofia. 

Bem, não é tão simples assim. Não podemos concordar ou discordar de Dooyeweerd, sem antes entender a sua linha de raciocínio. 

E antes de mais nada, precisamos distinguir entre Teologia e Bíblia. A Bíblia é a Palavra de Deus, a Teologia é uma área do conhecimento, um objeto de estudo.

Por que a Teologia e a Filosofia estariam em "pé-de-igualdade relacional"? Porque para Dooyeweerd a base de todo conhecimento e de toda ciência é o conhecimento religioso, em seus pressupostos, no que diz respeito a busca existencial de Deus. 

Qual é o ponto de partida de Dooyeweerd? 

Há uma inclinação natural para Deus. Faz parte da essência humana inclinar-se para Deus. "Deus fez tudo apropriado e a seu tempo, e por a eternidade no coração do homem." (Ecl. 3.11).

O que é isto? Tudo está afetado por esta inclinação, e todo saber humano é por isso afetado. Este é o saber religioso, que a tudo serve de base. 

Neste sentido, a base do saber religioso é que abarca todo conhecimento, inclusivamente a Teologia e Filosofia. 

Sendo assim, a Teologia e a Filosofia trazem em sua base as inquietações e limitações do saber religioso. Eles relacionam-se entre si. 

Nenhuma é mais importante, porque cada qual está designada ao seu propósito, o qual não foge a criação de Deus. 

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segunda-feira, 21 de setembro de 2020

A Influência sobre Schaeffer - Herman Dooyeweerd - III


Há muita coisa em L'Abri que lembra Dooyeweerd? Há sim. A resposta positiva não é uma referência aos que o estudam hoje, como Guilherme de Carvalho do L'Abri Brasil e Josué Reichow do L`Abri Inglaterra, dos quais eu mesmo tenho "bebido", com muita gratidão. 

A nossa referência vai para Hans Hookmaaker (1922-1977), o qual tornou-se membro de L'Abri Suiça, e mais tarde com sua esposa Anky começam o L'Abri Holanda, depois de fundar o Departamento de História da Arte na Universidade Livre de Amsterdã.

Qual é a relação entre Francis Schaeffer, fundador de L'Abri, Hans Hookmaaker e Herman Dooyeweerd? 

Schaeffer bebeu de Hookmaaker, Hookmaaker havia bebido de Dooyeweerd, e Dooyeweerd de Abraham Kuyper. Ou seja, o neocalvinismo holandês foi fundamental para o desenvolvimento da cosmovisão de Francis Schaeffer. 

Penso que isto explica, em parte, porque Schaeffer resolve romper com uma linha mais radical do calvinismo, que pouco dialogava com as outras áreas. Aliás, pouco tolerava as tendências diferentes pós-iluministas. 

Schaeffer, então por influência de Hookmaaker, passa a olhar para as Artes, não como uma afronta a Deus, mas sim como uma expressão do que ainda resta de Deus no ser humano. 

A humanidade não precisa ser anulada, mas precisa ser liberta e reorientada. 

"A Arte não deve ser usada para mostrar a validade do Cristianismo; deveria ser o contrário. A Arte é uma forma de mostrar o seu júbilo diante da face de Deus." (Hans Hookmaaker)

"A Arte é o reflexo sobre a criatividade de Deus, uma evidência de que somos feitos na Imagem de Deus." (Francis Schaeffer) 

Esta cosmovisão da Arte, e das Ciências em geral, está intimamente ligada com a "Soberanias das Esferas" de Dooyeweerd, a qual nivela todos os campos do conhecimento com base numa razão religiosa. 

"O coração do homem rebelou-se contra a sua origem divina; a humanidade imaginou ser algo em virtude de si mesma. A humanidade buscou a si mesma e, com isso, buscou a Deus dentro da temporalidade." (Herman Dooyeweerd)

O que podemos concluir?

Tudo que o homem faz de bom, não poderia vir senão do Pai das Luzes, de onde emana toda boa dádiva.

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sábado, 19 de setembro de 2020

O Beijo a Partir de Herman Dooyeweerd? - II

Dooyeweerd bebeu de Abraham Kuyper. A cosmovisão cristã do neocalvinismo de Kuyper, influenciou fortemente a Herman Dooyeweerd. 

A convicção de que todas as coisas são "dEle, por Ele e para Ele", influenciou todas as áreas do conhecimento. Cristo tem o governo sobre todas elas.

E por isso mesmo, todas as áreas são transversais. Elas estão relacionadas entre si, em pé de igualdade. Nada é mais importante, a não ser o próprio Cristo. 

Vamos ilustrar com o beijo, conforme ouvi na Lecture I sobre Dooyeweerd, de Josué Reichow in L'Abri. Imagine se o beijo fosse analisado somente a partir de uma perspectiva química e anatômica. O que seria? Seria a troca de saliva entre duas pessoas, quando os músculos da língua se exercitam. 

Acho que o beijo dentro desta leitura não é nada interessante. 

Aliás, vale a pena ouvir as Lectures de Josué. Na terceira sobre Dooyeweerd ele transita sobre o café, e quanta coisa o envolve. 

Por que estes exemplos são pertinentes? Porque tudo o que acontece está atravessado por tudo. Nada acontece de maneira completamente singular. Tudo depende de tudo. É assim que Cristo exerce o seu Governo, sobre todas as coisas.

Por que fragmentamos? Porque parece dar mais jeito para estudar. Entrentanto, cada vez mais sabemos que todas as coisas tocam uma nas outras. Por quê? Por que Cristo as criou para sua glória, e refletem o seu caráter. 

Uma Pitada de Abraham Kuyper e o NeoCalvinismo

Abraham Kuyper (1837-1920) foi um estadista holandês, muito respeitado e influente, diga-se de passagem, para além de teólogo e filósofo. Ele fundou, em 1880, a Universidade Livre de Amsterdã.

Ele é considerado o "pai do neocalvinismo". O que isto significa? Ele rompeu com os princípios da Reforma Protestante? De maneira nenhuma. 

O que ocorreu é que precisava ser relevante para a sua geração na Europa. Uma geração pós-iluminista, após a Revolução Francesa. 

As questões de sua época, precisamente na Europa, já não tinha a mesma configuração que na época dos reformadores. Seria adaptar as mesmas verdades para outras perguntas, ou as mesmas respostas a perguntas que estavam a ser feitas de maneira diferente. Adaptação!

O que Kuyper faz, é manter os princípios da Reforma Protestante, mas já não de forma a protestar, no sentido de "meter o dedo no nariz". Ele seguia a protestar, mas numa postura mais argumentativa e dialógica. 

Ele foi fundamental para desenvolver uma "cosmovisão cristã" cuja convicção era:

"Não há um centímetro quadrado em todo o domínio de nossa existência humana, sobre a qual Cristo não clama: "É Meu!"

O que aprendemos com Kuyper? 

Precisamos discernir o nosso tempo, a nossa geração. 

O caminho é manter a mensagem, mas contextualizá-la, no sentido de transmiti-la com a relevância e pertinencia que tem. 

A nossa preocupação é com os falsos profetas sim, mas nem sempre o problema são os falsos profetas. 

Grande parte do insucesso da Igreja fica no mérito de pregadores que não comunicam de maneira clara e relevante. 

Talvez outro grande problema é a falta de cosmovisão cristã. Aquela postura de que o Domingo é do Senhor e a Segunda-feira é minha. O dízimo é do Senhor, e o restante é meu. A Igreja é do Senhor e a casa é minha. A Bíblia é do Senhor, mas os livros são humanos. Há músicas sacras, e as outras são do diabo. O prazer no Culto é do Senhor, e os outros prazeres não cultuam a Deus. 

Enfim, Abraham Kuyper desafia-nos a ver todas as áreas da vida sob o domínio de Cristo. 

A vida assim fica mais completa.Viva a vida toda para a glória de Deus! 

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sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Uma Pitada de Herman Dooyeweerd - I

Herman Dooyerweerd (1894-1977) foi um jurista holandês, de vocação filosófica, que defendia o diálogo nivelado entre todas as esferas do conhecimento, das artes à economia, da igreja às empresas, da cultura à justiça, das relações sociais ao governo.

Todas as áreas são igualmente importantes, porque foram criadas por Deus, e requerem o governo de Cristo, igualmente. 

Dooyerweerd defendia que todo pensamento filosófico é fundamentado em pressuposições teológicas, ainda que inconscientemente. Há uma direção concêntrica, fora do próprio pensamento. 

Conforme Dooyerweerd, Emanuel Kant na Crítica da Razão Pura, quis lançar a base da transcendência entre o "conhecimento a priori" e o "conhecimento empírico". Dooyeweerd diz que este "conhecimento a priori" está relacionado com o impulso religioso. Ou seja, há um "conhecimento a priori" antes do suposto "conhecimento a priori".

O que é isto? É o "ego pensante" que transcende a si mesmo em busca de Deus, e vai achá-lo no próprio Deus ou em outro deus qualquer.

O "ego pessoal" em conexão com outros egos é governado por um espírito, ou a "dynamis" do Espírito, ou um espírito apóstata. As duas humanidades estão em guerra o tempo todo, em todas as áreas.

Sendo assim, podemos dizer que Dooyerweerd defende a visão holística de toda criação, e que a queda não tirou do homem o anseio pela eternidade. E que em resposta a esta inclinação, ou ele perde-se em si mesmo, ou encontra o governo de Cristo. 

sábado, 12 de setembro de 2020

Adiafa - um Pentecoste Português

Adiafa, do árabe, "hospitalidade, banquete" tornou-se uma festa tipicamente portuguesa, que acontecia depois das vindimas, e que se estendeu aos trabalhadores da apanha de pêra, maça e outros frutos. 

Lá andei com meu filho Thales por alguns dias, e no final o convite para a Adiafa.

Lembrei-me do Pentecostes, porque a razão cultural do ajuntamento é a mesma: celebrar os dias da Colheita. 

Não pára por aí. Assim como no Pentecostes, havia várias Línguas: Francês, Inglês, Português, Criolo, e o Brasileiro (como dizem eles), que não podia faltar. 

O que mais haveria de comum entre o Pentecostes narrado por Lucas, e a Adiafa narrada por mim?

Havia muita gente boa, cheia de muitas coisas de Deus, mas que não o reconhece em seus caminhos, necessariamente.

Também havia cá e lá, gente com um coração ardente por partilhar o Evangelho.

O que mais? Gente que parecia embriagada por razões diferentes. Algumas de tão cheia de Deus, e outras de tão cheia do fruto da videira.

Algum coração disposto a pregar Jesus? Sim. Entretanto, bem disposto a respeitar a cultura, ouvir e aprender, criar conexões, andar no caminho da pré-evangelização, e a marcar um comportamento que brilha nas trevas, que deixa perguntas por onde passa. 

O Espírito Santo não foi derramado como no Pentecostes, mas certamente estava lá na Adiafa, da terra do Bom Vento em Carvalhal, sutilmente, a iniciar ou dar continuidade na obra que veio fazer.

Ora, no Pentecostes, ora, na Adiafa, mudam-se os trabalhadores, mas o Espírito é o mesmo.