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segunda-feira, 6 de abril de 2020

"Olhos de Ver" Coisas Boas

"Olhos de ver" não é uma redundância como "subir pra cima". "Olhos de ver" é uma expressão bastante comum cá em Portugal. Seria mais do que um simples "eyes to see". "Olhos de ver" significa "visão, análise mais profunda". Precisamos ter "olhos de ver" coisas boas em tempos de coisas tão ruins. 

Todos já sabemos tanto sobre tantas coisas ruins destes últimos dias. Mas, você seria capaz de enumerar uma lista - "top 10" - de coisas boas? "Top 10" de coisas boas em sua cidade e país, e outra "Top 10" em sua própria vida, dentro de sua casa. 

Por quê? 

Porque as coisas boas existem, e também porque fortalecem nosso sistema imunológico e capacitam-nos a lutar, a vencer.

"Quero trazer a memória o que pode me dar esperança." (Lm. 3.21)

O que traz-me esperança? 

A Primavera que faz a vida renascer depois de tanta penumbra e frio. E do outro lado do Atlântico, o calor que incomoda, mas que pode ser um antídoto nestes dias. 

As chuvas mil de nosso Abril que para além de regar a terra e encher os reservatórios contra secas futuras, também limpa o nosso chão. 

Ah, quanta história linda de ver com "olhos de ver" a partir de gente que está a doar-se - a si mesmo - para o bem do próximo. Quantas histórias de solidariedade. Quanta gente tão humana, que reparte o pão e estende a mão. 

E aquelas histórias raras de patrões que fizeram um acordo consigo mesmos e decidiram apoiar seus empregados, e passar junto deles esta fase?

Não poderia deixar de mencionar a Providência Divina sobre as nossas mesas - seja por reserva planeada, seja por socorro bem presente na angústia.

E aqueles que não deixam o país parar? Obrigadíssimo motoristas, trabalhadores de produtos essenciais, inclusivamente aqueles que estão no anonimato, mas que não podem parar, por eles e por nós. Obrigadíssimo aos que não deixam o Hospital fechar desde o Porteiro até o Doutor, das senhoras da limpeza até as Enfermeiras.

Não podemos deixar de mencionar aqui aqueles que dentro de casa formam uma Equipa. Vencem cada dia. Tornam os dias de reclusão mais leves como se a vida fosse sempre assim. Re-inventam brincadeiras, re-descobrem jogos, provocam boas conversas, cozinham aquele prato especial, dedicam momentos de oração. Gigantes anônimos que fazem um bem enorme ao país, e somente Deus sabe de sua importância. 

Não poderíamos deixar nossos "olhos de ver" sobre aqueles que descobrem não viver tão bem quanto pensavam, mas encontram uma oportunidade de reconciliação. 

É verdade que não dá tempo de "olhos de ver" a todos que estão a dedicar tempo nas "Lives", e em meditações partilhadas, entretanto, sabemos que sempre haverá alguém que nos ouve, e encontra algum conforto a partir daquilo que Deus põe em nosso coração. Alguns atingem milhares, outros apenas alguns, mas na soma de todas as ministrações, muita, muita gente tem sido abençoada. 

Enfim, precisamos ter "olhos de ver" o amanhã. Há esperança para o ferido. Você se lembra de Jó? Ele viu esperança para uma árvore morta como se fosse diferente para o homem mortal. Num tempo tão duro com a sua própria realidade ele poetiza o que mais tarde aconteceu consigo mesmo. Ele "a priori" não tem "olhos de ver" para si mesmo, mas depois de dias longos e sombrios, ele mesmo seria aquela árvore:

"Porque há esperança para a árvore que, se for cortada, ainda se renovará, e não cessarão os seus renovos. Se envelhecer na terra a sua raiz, e seu tronco morrer no pó, ao cheiro das águas brotará, e dará ramos como uma planta." (Jó 14.7-9)

E assim ganharemos a sensibilidade de um "coração de sentir" e "ouvidos de ouvir" a voz de Deus, pois "o essencial é invisível aos olhos" (Antoine Saint-Exupéry). 

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