Quantas mudanças a partir da Covid-19. O que muda a partir de agora? O que deveria mudar? O que muda é impositivo. Não depende de ninguém. Muitas coisas já mudaram, e nunca mais serão as mesmas. Já o que deveria mudar é pessoal. Decidimos que vamos fazer diferente, ou seguimos descompassados e não seremos ouvidos.
A IGREJA QUE DESAGREGA
Líderes que sempre justificam seu valor a partir do fazer e fazer. São importantes porque estão sempre a mostrar trabalho visível. Aqueles que construíram uma relação "trabalhista" de justificar o pão que recebem à medida em que servem, numa visão utilitarista, agora estão de mãos atadas. Ainda assim podem cair na armadilha em ter de falar com todos, responder a todas as chamadas, produzir "Lives" e enviar meditações como se fossem sozinhos detentores da graça de Deus.
Para além disto, tem havido o ressurgimento do sacerdócio a partir de casa. Sinais de avivamento? O que para uns será uma extensão da Igreja, e para outros apenas um pretexto para "desigrejar".
A "Multimédia" não pode minar a oportunidade de estar em casa, de rever o ritmo, de descansar o necessário, de aprofundar as conversas em casa sem a intervenção de chamadas. É preciso namorar, é preciso brincar com os filhos, é preciso mais tempo ao redor da mesa, é preciso um bom filme, é preciso um tempo devocional mais alargado com a família, é preciso uma boa leitura, é preciso descansar, e mais tempo de solitude.
As chamadas devem ser pensadas. As "Lives" devem ser pensadas. Não podemos seguir a alimentar ovelhas insaciáveis de ver seus líderes no trabalho enquanto elas tornam-se obesas. Ainda que seus pastores devem trabalhar, o valor deles não está apenas naquilo que fazem, mas naquilo que representam.
A IGREJA AMADA
E a Igreja? O que o povo mais quer? Toda gente está carenciada de abraço. Os líderes precisarão preparar abraços e palavras de carinho. Eles precisarão dizer o quanto sentiram falta. E isto não apenas do púlpito. Precisam falar pessoalmente, e abraçar, ou "suas ovelhas" encontrarão isto fora como aquela menina que caiu nos braços de um estranho porque seu pai negou-lhe amor.
O curioso aqui é que líderes com bloqueios de afeto precisarão de terapia porque o povo vai abraçá-los. Não tenha dúvida. Ainda que seja a terapia apenas do abraço.
A IGREJA LIVRE
O ponto mais agudo é que descobriu-se que ninguém segue ninguém a não ser que queira. Existem centenas e centenas de opção na mesma hora em que você prega. Por que alguém deixaria de ouvir aquele pregador para ouvir você?
Será preciso reforçar os pontos de conexão. Será preciso pregar de maneira mais profunda porque em tempos de sofrimento há gente a descobrir o valor da exposição da Palavra. O quanto ela conforta e dá esperança. E muita gente que faz bem.
A IGREJA À DISTÂNCIA
Também será necessário dosear entre o presencial e o "ead". Aliás, é a tendência do mercado e da educação. Quando fiz Letras em 2003 não havia opção de fazer diferente. Depois de alguns anos fiz Pedagogia no sistema "ead" e precisava viajar 3 horas para fazer os testes, hoje qualquer cidade disputa espaço de Curso que podem ser feitos online. Aliás, acessamos a Internet e temos o que queremos a partir de qualquer lugar do mundo e em qualquer Língua.
A Igreja precisa adaptar-se a esta realidade. O púlpito presencial não será mais apenas o único lugar de partida, bem como o "Gabinete Pastoral". Viajar 30 minutos para ouvir ou falar com o pastor talvez não seja o mais prático, e precisará fazer muito sentido. Por outro lado, algumas visitas poderão ser feitas por vídeo-chamada.
Por outro lado, o contacto pessoal é imprescindível. Será preciso um café juntos. Será preciso olhos nos olhos. Será preciso um abraço. Mas, não com todos e nem a todo tempo, a gosto da demanda que outros impõem.
A IGREJA FLEXÍVEL
E o lugar de trabalho? Estar fora de casa para justificar o trabalho já não faz sentido, por outro lado, quem não criar um espaço em casa, que seja privativo e respeitado, inclusivamente com algum tempo à parte, talvez precisará continuar a sair de casa todos os dias. O conceito de trabalho associado a um local exclusivo está a fragmentar-se. Cada vez mais desenvolve-se o "conceito WFH" (Work From Home). As pessoas querem ver o produto independentemente de onde foi feito.
Qual o perigo de estar em casa? Não discernir entre o trabalho e o descanso. Descansar demasiado pode tornar-se em ócio. Trabalhar demasiado pode minar a qualidade no lar. Por isso, ter um lugar específico dentro de casa é recomendável.
A IGREJA E AS GERAÇÕES
E o uso das tecnologias no Ministério? Não dá mais para ser apenas amador. Ou somos bons ou perdemos espaço. Ou recorremos a uma assessoria paga ou temos gente qualificada que voluntariamente anda conosco.
Somente os "Baby Boomers" terão problema com isto? Os "Millennials" não terão problema? O problema dos primeiros é confundir antiguidade com espiritualidade ou qualidade, e morrerão orgulhosos e enganados. E o maior problema dos mais jovens é a dependência tecnológica como se o Espírito Santo não fizesse diferente e por outros meios, e mergulharão numa insensibilidade mortal.
O FUTURO DA IGREJA
Enfim, qual a tendência? A "tendência da mão-dupla". Aconselhamento Presencial sim, Aconselhamento à Distância também. Aula à Distância sim, Aula Presencial também. Ministração Presencial sim, Ministração à Distância também. E ninguém mais suportará mensagens demasiadamente longas, monótonas e não relevantes.
"E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência." (Jr. 3.15)