As demandas impunham que eu fosse um profissional da Bíblia. Precisava estudá-la porque o servir era técnico. O domínio de temáticas, ora complexas, ora "fast-food", definia a agenda.
Ser um excelente comunicador do texto sagrado, era um trabalho mais interessante que a vontade divina, que ele propunha.
Havia ali um "bichinho" que buscava "maquiar" isto. Aliás, ele estará em toda esta confissão, dizendo: "Olhe o lado bom. Não foi bem assim".
Os livros eram lidos porque eu precisa dar respostas. O sabor das palavras era a possibilidade em reproduzi-las.
O campo missionário é uma graça que me tirou o púlpito, mas presenteou-me os vizinhos. A oratória deu lugar a escutatória, sem agenda.
Estou a aprender "fazer amigos" sem precisar ser a solução. Sei que antes, muitos foram engendrados nas dores de parto, os quais muito estimo-lhes. Entretanto, é diferente ser socorro, quando não esperam isto de você.
Eu era o "homem que Deus usa", hoje sou apenas aquele servo que Deus usa, quando quer.
A família também ganhou, porque aprendi a dizer "não" para os outros. "Jogar conversa fora", sorrir, brincar, e descobrir que a culinária é arte, culto e servir.
Quando ganhava um salário, ainda que a igreja não cobrasse, sentia que devia trabalhar x horas por dia. Uma imposição tecnocráta, que engessa a liberdade no Espírito.
Os pastores deviam conjugar responsabilidade consciente de servo, com liberdade e direção do Espírito. A minha agenda era mercantilista. Fazia o que a igreja local ganhava com aquilo.
E a natureza ao redor de mim? Era para curtir em dias de Férias. Era aquela dose de oxigênio mais puro, que precisava cheirar, por ano. Até a cadelinha que tínhamos sofreu a falta de carinho, de uma cosmovisão que limitava Deus a um calhamaço de letras.
Não havia "tempo" para dar uma olhadela na natureza. Contemplar? Devia ser programado. Observar uma flor? Coisa para vovózinha.
Tudo remete-me ao que disse nosso mentor Transcultural, Oswaldo Prado: "O missionário não foi chamado só para pregar o Evangelho, antes também para viver o Evangelho".
Meu Deus! Salve os pastores de uma vida mesquinha. Senhor, torne-os mais parecidos com Jesus, que tinha tempo para a viúva, para as crianças, e para olhar os lírios do campo.
Dê-nos um coração cheio da compaixão, que enxerga as ovelhas sem pastor, e que não seja mandatório serem elas "nossas".
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Hoje estamos a servir em Portugal
A Associação Evangélica Cascatas é um Centro de Hospitalidade, Serviço e Reflexão
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