Líderes robustos e de caráter indelével remetem-nos aos jequitibás, árvore que demora 50 anos para estar pronto para o corte em contraposição ao eucalipto que já está pronto com 5 anos. Gosto desta metáfora usada por Rubem Alves, quando fala da diferença de entre os educadores formados pela vida e os professores feitos em breves cursinhos de verão.
Entretanto, estive em Coruche neste final de semana, a capital mundial da Cortiça, e pensei ser mais apropriado falar sobre o Sobreiro, a árvore de onde se extrai a cortiça. Alguns só conhecem a sua utilidade para as rolhas das garrafas de vinho, outros já a viram em sapatos e bolsas, e até em acústica que é o caso da igreja que pastoreio.
O Sobreiro demora 25 anos para a “desboia” que é a primeira colheira, de sua casca grossa e esponjosa. O que se faz com um sobreiro depois de tira-lhe a casca grossa? Deixa-o descansar e trabalhar ao longo de 9 anos para a “secundeira”, e assim sucessivamente, até ao fim de sua vida útil que é em média de 150 a 200 anos, cerca de 15 colheitas de cortiça ao longo da vida.
O que seria então, um líder sobreiro?
Ele não está pronto tão cedo, até porque, se for uma espécie de "bispo", é bom que “não seja neófito, a fim de que não caia em laços” (1 Tm. 3:6), os quais somente com tempo ele será capaz de ter casca suficiente para amortecer os ruídos da adversidade.
Por que temos tantos pastores e líderes com “mil” lições do que não fariam outra vez? Será por que todo início inexperiente e prematuro provoca tantos erros e desencontros?
Criar casca é muito importante. O vento, a chuva e sol golpeam o sobreiro dia e noite. Assim, também Paulo orienta ao jovem pastor Timóteo, “sofre as aflições como bom soldado” (2 Tm. 2:3). Há coisas que temos de passar, é mesmo “ser sóbrio e suportar as aflições” (2 Tm. 4:5).
O que fazer com toda a casca criada? Não é somente criar a casca, é criar uma casca flexível e útil, o que para tanto, é preciso despir-se dela, a fim de que haja renovação e oportunidade de um melhor servir. O que aliás, caracteriza um líder ensinável em todas as áreas da vida (1 Tm. 3:1-7).
O descortiçamento que acontece, praticamente a cada década, sugere-me algo. Gosto de pensar em ciclos. Mudança de lugar, de ministério, de ênfase, de posicionamento, de igreja, de relacionamentos, podem fazer muito bem a todos, depois de "quase uma década".
Aquela casca que criamos, que é tão útil para servir, que será entregue para abençoar, é para que venha um novo tempo, uma nova oportunidade ao próprio sobreiro, de melhor produzir.
A rolha da garrafa, os quadros, os enfeites, os sapatos e as bolsas, ficam para contar e testemunhar a história do sobreiro, e ele ganha espaço para criar novas potencialidades.
Enfim, oramos por líderes sobreiros, que não têm pressa de ver o processo natural de Deus, que não tombam diante das circunstâncias, que engrossam com flexibilidade, e servem de matéria-prima da obra que Deus está a fazer, em Cristo Jesus.
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