O cantar do galo ecoa no fundo do quintal. Ele empina-se imponente a olhar ao redor.
Passarinhos pousam na macieira, alguns piam outros "assobiam". Posso ouvir o bater de suas asas.
Ouve-se as asas das codornizes em pequenos saltos como quem fossem alçar voo.
O cão da vizinha ladra, ladra e logo fica em silêncio. Um silêncio invadido por tantos cantos e encantos.
O canto do rabi-ruivo, o canto do melro, o canto da rola, o canto onde ainda estão as derradeiras flores, o canto onde está o viçoso abacateiro, o ressurecto pessegueiro e a nespereira em ares de florir.
E num recanto crescem com um verde tão vivo o alface, o brócolis e a beterraba. Cresce com estética oval a papaia e espalha as ramas a batata-doce.
O vento anuncia o fim do verão. Os eucaliptos dançam e os pinheiros mexem-se levemente. E já o frescor do outono a incomodar sugere que os casacos estão quase de volta.
O buzinar do peixeiro não me deixa esquecer que a vida urbana tira as pessoas do jardim no qual fomos criados.
O jardim deu lugar aos prédios sem verde, sem esperança. A vida antinatural é camuflada pela beleza das faixadas das lojas e dos carros bonitos.
Os encantos da cidade roubam as pessoas do jardim, e quando lá apinhadas o jardim é-lhe roubado, e tornam-se vidas que, conforme Carlos Drummond de Andrade, "cantam o medo da morte e de depois da morte, depois morremos de medo e sobre os nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas".
Precisamos, urgentemente, voltar ao jardim, desligar tudo e de tudo, respirar fundo e voltar ouvir os sons que foram criados para marcar as batidas do coração.
Coração que precisa encontrar o Criador destes compassos.
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