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terça-feira, 19 de setembro de 2023

Ouve os sons da natureza

O cantar do galo ecoa no fundo do quintal. Ele empina-se imponente a olhar ao redor. 

Passarinhos pousam na macieira, alguns piam outros "assobiam". Posso ouvir o bater de suas asas. 

Ouve-se as asas das codornizes em pequenos saltos como quem fossem alçar voo. 

O cão da vizinha ladra, ladra e logo fica em silêncio. Um silêncio invadido por tantos cantos e encantos. 

O canto do rabi-ruivo, o canto do melro, o canto da rola, o canto onde ainda estão as derradeiras flores, o canto onde está o viçoso abacateiro, o ressurecto pessegueiro e a nespereira em ares de florir. 

E num recanto crescem com um verde tão vivo o alface, o brócolis e a beterraba. Cresce  com estética oval a papaia e espalha as ramas a batata-doce. 

O vento anuncia o fim do verão. Os eucaliptos dançam e os pinheiros mexem-se levemente. E já o frescor do outono a incomodar sugere que os casacos estão quase de volta. 

O buzinar do peixeiro não me deixa esquecer que a vida urbana tira as pessoas do jardim no qual fomos criados. 

O jardim deu lugar aos prédios sem verde, sem esperança. A vida antinatural é camuflada pela beleza das faixadas das lojas e dos carros bonitos. 

Os encantos da cidade roubam as pessoas do jardim, e quando lá apinhadas o jardim é-lhe roubado, e tornam-se vidas que, conforme Carlos Drummond de Andrade,  "cantam o medo da morte e de depois da morte, depois morremos de medo e sobre os nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas". 

Precisamos, urgentemente, voltar ao jardim, desligar tudo e de tudo, respirar fundo e voltar ouvir os sons que foram criados para marcar as batidas do coração. 

Coração que precisa encontrar o Criador destes compassos.


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