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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

"Des-igrejar" acelerado com a Pandemia

Por que a Pandemia acelerou a tendência do "desigrejamento"?
 
Os olhos de muitos abriram-se a igrejas mais bem equipadas, tecnologicamente. Especialmente, no caso de jovens, e dos mais informatizados, tem havido uma empatia natural por aqueles que fazem um bom trabalho. 

Também podemos ser honestos, e admitir que a facilidade em ouvir bons pregadores, tornou-se uma opção a considerar. Quem disse que não é possível estar no Culto local, e ao mesmo tempo no culto vizinho?

E a questão da relevância da Igreja local? A pergunta que não quer calar: "Por que eu preciso de uma igreja local?"

As pessoas têm descoberto que podem ser ministradas, e contribuir à distância. Até Jesus fez milagres virtualmente. Curou o filho do Centurião mesmo à distância (Mt. 8.13). Jesus não está limitado ao toque físico. Então, porque as pessoas necessitam da "fisicalidade"? 

Quem disse que não posso olhar "olho no olho" por vídeo conferência?

Então, não cabe mais o coronelismo em proibir de que não "assistam" a outros cultos. Não cabe mais dizer que o que vale é físico, somente.

O que pode reverter, tratar, amenizar, essa tendência? Há caminhos técnico, ético e ministerial.

Assumir um modelo híbrido funcional, e cada vez mais aperfeiçoado tecnologicamente. 
Parar de "proibir" e até criticar que as ovelhas "visitem" outros cultos, porque é o que inevitavelmente acontece.

Penso que apenas uma coisa seria suficiente, ou altamente eficaz.

Ter um pastor e uma comunidade, que não se encontram somente online. Um pastor que liga, ora junto, não impõe, mas ama. E cuja prática essa, seja partilhada por outros.

Um pastor que ama tanto, que chega a ser vulnerável. Mostra-se gente, mostra-se ovelha também.

Somente essa relação encurtada é que pode "constranger" a ovelha a permanecer arrebanhada. E ainda que ela se vá, e não valorize, quando chegar o "dia mal" é possível que sinta falta, e saudades. 

Se ela for, o pastor deve permanecer sem criticá-la e demonstrar que as portas estão abertas para a volta, porque o dia que ela quiser voltar, sabe que será abraçada. Afinal, o que mais ela sentiu foi a falta daquele abraço. 

C. S. Lewis escreveu: "A amizade é o instrumento no qual Deus revela para a cada um de nós, a beleza dos outros."

Uma beleza que traz a força do amor: "Devemos amar com todo o nosso coração, mesmo que não haja garantias. Isso não nos torna vulneráveis, nos torna vivos." (Brené Brown)

Não dá mais para ser igreja, senão de forma relacional. 

Hoje as pessoas não estão em busca de sermões. Elas só estarão dispostas a ouvirem um bom "sermão", se antes perceberem que são amadas. 

Há aqueles que estão em busca de uma boa música, mas nem isso seria capaz de manter a ovelha por perto, especialmente em dias onde sorrir e pular não seja o mais convidativo. 

Bem já dizia o sumo-pastor: "O bom pastor dá a vida por suas ovelhas." 

Pastores que dão a sua vida, colherão os frutos de ovelhas que permanecem. E se dentre essas, algumas se forem, ficará a boa consciência de que fizeram-no como para o Senhor. 

Somente um engajamento mais comprometido, e cheio da graça do Bom Pastor, é que pode haver um combate à tendência do "desigrejamento". 

Instagram: @vacilius.lima

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Maneira mais direta? (Portugal não é Brasil - XVII)

Quem já andou (participou) na apanha da pera, sabe tanto da generosidade como da maneira mais rude de seus Senhores.

Os portugueses são tais como os Senhores da Apanha de Pera? Não. 

Eles têm uma maneira mais direta de responder, o que não significa ignorância. 

Há portugueses mais rudes e brutos, assim com alguns brasileiros o são. Aliás, em qualquer parte do mundo há quem não tenha boas maneiras.

Em todos esses anos de Portugal, tive apenas duas experiências mais negativas. Uma com uma a atende escolar, e outra com líder religioso. Ambos em instituições, onde as pessoas deviam ser mais humanas, e polidas.

No entanto, normalmente, os portugueses são amistosos e gentis, mas à sua maneira. Os brasileiros que compreendem esse traço cultural, assusta-se, mas não critica, nem critica. 

Não podemos confundir pessoas que se portam mal, com uma maneira mais direta de dizer as coisas, e responder. 

Responder mal é uma questão de carácter. Responder de maneira mais direta é uma questão cultural. 

Instagram: @vacilius.lima

FOTO: Vista entre Salir do Porto e São Martinho do Porto

Tremores, Resiliência e Esperança (Portugal não é Brasil - XVI)

Estava numa Reunião Online, por volta das 22 horas, do dia 12 de Fevereiro, na Região Centro de Portugal, quando senti o chão tremer. Aliás, sentimos, também a família que estava no Piso acima.

Esse "leve" tremor, ainda que tenha metido medo, seu protagonismo no texto, é só para nos remeter a 1969 quando o sismo atingiu 8 na escala Richter. 13 vítimas mortais, e muitos prejuízos na infraestrutura, para além do pânico. 

E ainda mais chocante foi o terremoto de 1755, provocado por um maremoto que se aproximou a 20 metros, e em seguida um incêndio, que fez 10.000 mortos. Uma destruição total e impiedosa, do centro de Lisboa.

Quem anda hoje na Praça do Comércio, não pode imaginar, que toda aquela beleza ressurgiu das cinzas. Se a praça fosse chamada Fênix, não teria problema.

 O que aprendemos com o povo português? Resiliência. Aquela capacidade divina de reorganização e adequação, frente aos desafios que se impõem circunstancialmente. 

Essa capacidade de reerguer-se é uma virtude. Se caminhássemos na linha do tempo, Portugal passou por inúmeras possibilidades de deixar de existir, sem contar quantas vezes já "quebrou".

E agora, depois de um ano de Pandemia, terá a oportunidade e o dever de se levantar novamente. 

Nessa direção foram as palavras do Presidente Marcelo Rebelo no dia 11 de Fevereiro, quando sabiamente destacou a esperança. 

Esperança e resiliência andam juntos. 

Permite que elas sejam parte de sua vida, e Portugal, e também o Brasil, ganharão mais força.

Instagram: @vacilius.lima

FOTO: Praça do Comércio, no Dia 25 de Abril

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Saudades (Portugal não é Brasil - XV)

Como falar de saudade entre Portugal e Brasil, sem a lembrança  de Fernando Pessoa e Gonçalves Dias?

"Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães por nós

Choraram,

Quantos filhos em vão rezaram! 

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!"

Somente aqueles que deixaram os seus mais queridos, podem conhecer quão longínquo é o Atlântico, e quanto do seu sal, são lágrimas. 

As 10 horas de voo, não traduzem um sentimento eterno, profundo, agudo, e penetrante como os abraços moribundos de quimera que assusta. 

Esses abraços vêm mesclados com abraços de ternura e consolo. Lembranças que provocam dores, e ao mesmo tempo, gratidão. 

Gratidão pelos bens vividos. Gratidão pelos amados queridos. Gratidão pela esperança.

A gratidão é tão viva quanto as lágrimas, e as lágrimas quanto a gratidão.

Lágrimas, que ontem à noite caíram dos nossos olhos, do Murilo e de mim. Vi-o mais quieto, e tomei-o ao colo. E ao perguntar-lhe, ele respondeu: "Por que que Adão foi pecar? Agora, temos de morrer, e antes dos meus vovós morrerem eu queria-os perto de mim. Eu quero minha família toda pertinho de mim." 

Abraçamo-nos e pude sentir uma dor aguda, e as lágrimas foram inevitáveis. 

E o que acontece depois? A vida segue com aquela gratidão e esperança. 

As lágrimas  partilhadas fizeram bem, e hoje ele estava bem alegre, e sorridente. O bálsamo da Graça nos alcançou mais um dia.

Fernando Pessoa, ameniza a desesperança, ou cultiva a esperança, na continuidade do poema Mar Salgado: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena."

Ainda que tenha "alma grande", quem está do lado de cá, por mais lindo que seja Portugal, algumas vezes sente-se como Gonçalves Dias, em seus dias na Universidade de Coimbra, quando escreveu "Canção do Exílio", em 1843. 

"Minha terra tem palmeiras, 

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.


Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida, 

Nossa vida mais amores."


Em cismar - sozinho - à noite -

Mais prazeres encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá."


O poema continua, e caminha para o final com um "grito": "Não permita Deus que eu morra, sem que eu volte para lá!"

Nem que a volta seja apenas para abraçar os nossos queridos, por alguns dias ao menos. Tomar um caldo-de-cana com pastel de vento, e outras "coisitas" mais.

Aguenta, coração!


Instagram: @vacilius.lima

FOTO: Vista do Terraço da Associação Cascatas



Questão de Segurança (Portugal não é Brasil - XIV)

Nos últimos anos, Portugal foi destacado entre os Países mais seguros do mundo, para se viver. Os critérios levam em conta até a possibilidade de atos terroristas, e índice de assassinato. 

Não é somente uma questão de estatísticas e ranking. 

Andar em Portugal é, drasticamente, leve. Sair, parar o carro, caminhar pelas ruas e praças, sem a tensão de que a qualquer momento, você pode ser abordado, por um criminoso qualquer, é uma experiência inexplicável para quem vivia numa cidade, Poá, perto da Zona Leste de São Paulo.

Saber que sua cidade está nas estatísticas, entre os Municípios onde mais se matou, em São Paulo, é angustiante. Mais angustiante agora. Porque enquanto lá, desenvolvemos comportamentos preventivos.

Comportamentos esses que ao repetirmos cá, sorrimos. Não há mais sentido esconder o Telemóvel (celular), por exemplo.

Depois de alguns anos em Portugal, parece-me um pesadelo lembrar-me de que num fim de noite, 3 de colegas foram alvejados por atiradores, a sangue-frio, dos quais 2 morreram ali, ao pé de casa. 

É inimaginável, triste, chocante, e terrivelmente inadmissível que coisas assim fazem parte da vida de muita gente querida.

Com esse histórico fui viver numa das Zonas mais perigosas de Portugal. Agualva-Cacém. Confesso-lhe que sorria quando alguém dizia: "Isto não é mais como dantes. Está muuuuito perigoso." 

Muito perigoso porque de tempo em tempo, alguém era roubado, e levavam-no o Telemóvel. 

Então, vivemos num Paraíso?

Quem tem aquele histórico, que partilhei, pensa sim estar num Paraíso, tendo em vista que, Paraíso nos remete a um lugar de paz.

Por outro lado, não há Paraíso em sua totalidade, porque ainda assim há um perigo ou outro, porque o "mundo que jaz no maligno", e ele permite-se ser conhecido, de outras maneiras.

Não há perigos nas ruas, mas há grande número de assassinato dentro de casa, e também de suicídio. 

É também chocante quanta gente toma anti-depressivos.

Outro mal que mata os portugueses é a nicotina. É um país de fumantes. 

Enfim, ainda num Paraíso, se não se sabe viver, ele pode ser um inferno. Daí a necessidade do Paraíso começar dentro de cada um, dentro de cada lar.

Instagram: @vacilius.lima
FOTO: Jardim do Palácio de Queluz, onde nasceu e morreu D. Pedro I, o Imperador do Brasil.

Monsanto - a Aldeia Mais Portuguesa (Portugal não é Brasil - XXIII)

Monsanto, enquanto tradição e simbologia, é a "Aldeia mais Portuguesa de Portugal", título oficial desde 1938. 

Tudo foi construído em pedras. A vista do horizonte é de tirar o fôlego, a mais de 700 metros de altura. 

A aventura é raríssima com vestígios deixados pelos bárbaros,  visigodos e árabes. 

A História é também riquíssima. A Aldeia foi doada ao primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, em 1165. E muito tempo depois, foi reconquistada do Reino de Leão pelos Cavaleiros Templários, e reconstruída.

Vale a pena conhecer. Se for no Verão, o Sol escaldante dificulta muito a subida. Por outro lado, a recompensa pode vir em seguida, com alguma piscina natural, da região, como Penha Garcia. 

Novamente, a beleza e o valor da História devem ser enaltecidos.

Um detalhe riquíssimo é pensar, como conseguiram construir tudo aquilo, em pedras, e  naquela época. 

E os túmulos? Eram feitos em pedra, e sob medida. Encaixava-se com exatidão o corpo, e até o desenho da cabeça, o que faz com que não serviria a outro. Ainda alguns desses "caixões" estão lá, intocáveis. 

É um tipo de visita que fazemos com a "pulga atrás da orelha", e com uma gratidão enorme pela capacidade que a humanidade tem. 

Instagram: @vacilius.lima

FOTO: Escadaria de um Castelo em Monsanto