A polarização também chegou nos arraiais evangélicos. As correntes do "Brasil Ungido", do "Brasil Amigo" e do "Brasil Umbigo" não fizeram um bom trabalho.
O que foi de bom é que a Igreja Brasileira se posicionou o que é muito importante dos dois lados, e até de um terceiro. Houve posicionamento. Isto faz parte do espírito da Democracia.
É verdade que a nossa Pátria está nos céus, somos peregrinos, e mais do que orar pelas autoridades somos chamados a "...viver no presente século de maneira justa, santa e piedosa..." (Tt. 2:14-15).
Não somos seres apolíticos. Desde os Reformadores, os Puritanos e os movimentos avivalistas promoveram ações políticas e transformação social impactante que foram frutos do Evangelho e da sã doutrina somados a um estilo de vida piedoso. E, diga-se de passagem, que as suas ações políticas em muito nos reportam aos profetas do Antigo Testamento e a João Batista que denunciavam a corrupção.
O primeiro grupo dos evangélicos atrapalhou a laicidade do Estado. Aonde Bolsonaro ia lá estavam eles a forçá-lo a declarar que o Brasil é de Jesus.
Parecia a todos que ele governaria para os evangélicos. Fez falta que o Presidente estivesse mais com outros grupos e outras confissões. O que podia ser um risco porque este grupo é tão sensível que podiam interpretar como um desvio espiritual.
Acho que este grupo, o do "BRASIL UNGIDO" gerou antipatia, acirrou os ânimos contra os evangélicos, transmitiu uma aparência caricata de nós como se todos fôssemos contra tudo e contra todos.
Infelizmente, a postura deste grupo alimentou aqueles que já tendenciosamente sempre nos denegriram. Oferecemos lenha grátis para sermos queimados vivos.
E o outro lado? O outro lado criticou tanto o discurso de ódio que se nivelou. Tornou-se tão intolerante quanto.
Mais que isto. Este segundo grupo flertou com a Teologia da Libertação, e definiu como critério para votação os mais pobres e as minorias. Usavam versículos bíblicos para justificar um viés que mais lembrava a Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire que o próprio Evangelho.
Este grupo, "BRASIL AMIGO" esqueceu-se das maiorias trabalhadoras, arriscou princípios básicos em nome de um discurso de paz e amor, e parece-me ter relativizado a corrupção em nome de um suposto "mal menor".
E o terceiro grupo? Foi um grupo amargurado e desesperançado. Um grupo que tomou decisões como se a questão não fosse o bem do Brasil. Foi uma decisão unilateral, ora produzida pela dor da perda na Pandemia, ora porque queria agradecer algum favor recebido no passado. O que, notadamente, compreendemos devido as fragilidades emocionais e estruturais envolvidas.
Ambos colocaram suas questões pessoais acima do interesse na Nação. Foi como se o futuro Presidente fosse só deles, ou simplesmente porque queriam vingança. Este grupo podia ser chamado de "BRASIL UMBIGO".
Todos estes grupos não foram apolíticos de um lado, mas foram politiqueiros, militantes à beira da alienação.
O que fazer agora?
Primeiro passo, reconsiderar os maus caminhos.
O "Brasil Ungido" precisa redescobrir a sua vocação eterna. Somos peregrinos que veem a implicação da eternidade da vida, no Meio Ambiente etc, mas somos sempre seremos forasteiros em terra estranha que jaz no maligno.
O "Brasil Amigo" precisa redescobrir a sua vocação na terra de maneira mais holística do que pensa ser. O tema da corrupção não pode ser amenizado porque alguém age como Robin Hood. Dar aos pobres precisa respeitar e contemplar princípios inegociáveis, e ações concretas não-paternalistas e imediatistas apenas.
O "Brasil Umbigo" precisa redescobrir o perdão das suas feridas e a gratidão ao Senhor acima dos homens na instrumentalidade que o Pai das Luzes faz de qualquer Governo.
Onde estamos?
A omissão não é o caminho. Quero fazer parte daqueles que intercedem e denunciam, com respeito, amor, verdade e criatividade.
Somos todos a única Igreja de Jesus, a nossa Pátria está no Céus, e enquanto aqui somos chamados a "viver santa, justa e piedosamente" pois "a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens" (Tt. 2:14-15).
E viver assim não é contraditório com as manifestações públicas passivas. Como bem partilhou a Professora Eugênia Luz: "há uma diferença muito grande entre ser pacífico e ser passivo... diante tudo o que está acontecendo no Brasil..."
Então, vamos sim nos posicionar, especialmente a favor da liberdade e da justiça porque são a base de um povo, de maneira "santa, justa e piedosa".
Instagram: @vacilius.lima