Sinta-se Em Casa

Entre. Puxe a cadeira. Estique as pernas. Tome um café, e vamos dialogar com a alma.



terça-feira, 8 de outubro de 2019

Casa Portuguesa

Boa parte dos meus 19 anos de pastorado foi enclausurado num Gabinete. Aconteceram coisas lindas ali, inclusivamente muitos relacionamentos significativos. Entretanto, gastei muito tempo em Reuniões intermináveis, e mais prolongadas ainda foram muitas conversas que não chegaram algures. 

Muitas horas de livros, leitura, pesquisa, que o púlpito sempre agradece, mas que tornaram a alma pastoral mais desumana e seca. Por quê? É o que acontece quando queremos conhecer Deus alienado aos livros, sem pisar no chão empoeirado de todos nós. 

Precisei decidir portar-me diferente cá nas terras de Camões (sem abandonar os livros), pois desejo que ao final de uma década ou mais, a pintura de um quadro com mais gente, mais colorido, mais mesa, mais partilha e mais jardim. 

Quem sofreu por um pastorado à beira da tecnocracia? A Igreja, a família e afinal eu mesmo. Ninguém sai a ganhar quando os papéis, as paredes, o planeamento saem mais importante que um café com tempo e sem presa.

Hoje há mais espaço para conversas, aparentemente tolas e sem propósito. Assim são algumas tardes da minha nova vida. E olha que achava que já fazia! E, naturalmente, tem todo sentido quando acontece com os portugueses.

Vou ao Café e não quero apenas os sabores maravilhosas desta terra. Quero saber os nomes dos pastéis e doces que peço. Hoje apetece-me uma "meia-de-leite" com uma "tosta-mista", e outro dia um "jesuíta" com um "galão" no pequeno-almoço. Ah, e hoje no almoço calhou de alguém oferecer-me um bife chamado "Naco", e outro dia uma salada estranhamente boa de "polvo". 

O segredo é tornar-se como criança. Parece que Alguém já falou sobre a arte de voltar a ver as pessoas e o mundo num olhar ingênuo e ao mesmo tempo curioso de uma criança.

Antes de ensinar cheguei para aprender, ouvir, perguntar, observar, admirar, e viver outra vida à moda deles. A família agradece imenso. Tudo é mais leve e mais consciente. Ainda que seja participar de uma "apanha de pera".

Afinal, celebramos um dos mais belos resultados de algumas almoçaradas, e longas conversas até  mesmo sobre Geringonça política, pois começamos a estudar a Bíblia com um casal muito querido. 

Vale muito ser mais gente desta gente!

Instagram: @vacilius.lima

3 comentários:

  1. Muito bom o texto! Podemos sentir o seu amor pelo pastorado e pelos portugueses ao ler essas linhas! :) Um grande abraço.
    Thiago da IECI

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  2. Lindo, lindo meu querido pastor, esta coisa de desbravar campos que pareciam intocáveis, mexe muito comigo, sempre preferi discipular pessoas que não entendem nada da palavra de Deus a pregar para os entendidos, mas que muitas vezes não valorisam seu conhecimento.
    Se tornar como criança, descer à altura dessas crianças espirituais para poder olhar em seus olhos sem causar espanto, heis a estratégia!
    Que Deus abençoe ricamente seu ministério aí juntamente com sua amada família.
    Abraço!

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  3. Isto posto, identifica a realidade de muitos que assumem um ministério longo e que muitas vezes a correria e o engajamento com as tarefas, faz perder o sentido do que é realmente belo, mas hoje tenho me permitido desfrutar da simplicidade das coisas, assim como sorrir e admirar o sorriso dos meus pequenos ( crianças do meu ministério). Não só quero cumprir com meu trabalho, mas quero poder desfrutá-lo com alegria! Me identifiquei maninho!Bela explanação!

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