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quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Round 6 - Qual o seu número?

Aconselho? Não. Por quê? Porque não gosto de ver sangue e sinto-me desconfortável com algumas cenas, especialmente de suicídio. Por outro lado, se tivesse que definir em alguns adjetivos diria: eletrizante, inteligente, sagaz, inquietante e metafórico. Vi a cada jogo a realidade da vida estampada ali.

Vamos a algumas considerações bem pessoais: 

1. Por que tanto sucesso? É porque resgatou as memórias de infância com os jogos e as brincadeiras, as quais revelam os mesmos sentimentos que estavam em nós quando criança, no entanto, agora de maneira potencializada e desenvolvida no mal. Também ficávamos com raiva e queríamos vingança, mas logo passava. Já na série as mesmas brincadeiras e jogos estão lá, e com os mesmos sentimentos de antes. O que mudou é que a diversão assume a confissão da ganância, do poder e da necessidade.

2. Um ambiente lúdico não combina com atrocidades. Entretanto, não é isto que acontece em algumas escolas e lares? Lugares que deviam ser de proteção e diversão, acabam por se tornarem macabros. 

3. Em meio ao caos é possível encontrar gestos de graça e generosidade o que demonstra uma "fagulha" daquilo que foi perdido por causa do pecado. Foi perdido totalmente na perspectiva de que o homem em si mesmo não soluciona o problema, e não foi perdido totalmente porque a graça deixa algo lá, que nos remete ao original da nossa criação.

4. Quando a vida chega no nível do "não tenho nada a perder", aceita-se qualquer proposta, ainda que a própria morte venha no pacote. Aliás, há propostas nas quais a morte é o que há de mais certo. 

5. Quando se está no fundo do poço faz-se necessário enrijecer-se e conviver com o caos. Assumi-lo como parte da vida é uma maneira de reagir.

6. Vidas valem dinheiro. Não é o que fazemos quando sufocamos o que traz vida em nome daquilo que é transitório? Temos muitas dessas trocas no dia-a-dia. Qual é a sua?

7. No caos, o caos aumenta. E a desesperança assume dimensões "inescapáveis" em si mesma.

8. O embrulho da morte, um caixão envolto em fitas, revela que ela é um presente quando a vida já foi perdida - na perspectiva dos manipuladores e dos impiedosos.

9. Quem consegue manter a calma e raciocinar, vai mais longe. O desespero na hora do desespero diminui a ponta da esperança.

10. Triste. Muito triste é quando a vida precisa ser decidida entre duas vidas. Acontece todos os dias.

Quando olhamos o sistema de saúde não seria um jogo que envolve morte? Não foi exatamente isto que assistimos na Pandemia? Não é isto o que acontece todos os dias quando Hospitais limitados de capacidade atendem alguns em detrimento de outros? Aliás, os milhares que estão na fila de espera por um órgão, ou simplesmente para uma consulta ou tratamento, não estão dentro de um jogo de vida ou morte? 

11. Aquela "fagulha" de graça e misericórdia mesmo no caos, em situação de risco é capaz de dar lugar a atrocidades desumanas, quando a ganância toma o seu lugar.

12. O dinheiro não resolve os problemas mais essenciais, antes porém, a falta dele potencializa-os. 

13. Os poderosos em sua ganância não veem o seu próximo como gente, mas simplesmente como um número que pode ser eliminado a qualquer momento, enquanto eles assistem e se divertem. 

14. Um ponto à parte seria um positivo. Tem coisa boa? Sim, sim. Tem, tem. Esta série tem provocado um retorno às brincadeiras antigas. Meu filho Murilo não assistiu, mas brinca de Greenlight Redlight ou Batatinha Frita 1, 2, 3.  E nós entramos na brincadeira. É bem divertido. 

Vamos parar de demonizar o que é bom porque alguém usou mal. Brincar faz parte da essência do ser humano. Deus nos criou assim, com esta veia lúdica.

15. Outro ponto bastante positivo é que existe uma conexão fortíssima com a família. A família faz parte da espinha dorsal. Inúmeras vezes, os jogadores estão a buscar suas memórias, e aliás, os jogos acontecem porque os jogadores querem resolver, basicamente, problemas familiares. 

Ainda que a família esteja mal e destruída a vida sempre estará ligada a suas origens.

16. Mais um ponto positivo? Quanta sabedoria naquele velhinho simpático. Sabedoria que se demonstra, inclusive quando se abre a aprender, ou simplesmente a responder a partir do silêncio. Sabedoria que lhe foi acrescentada através dos anos, das vivências e da reflexão.  Fala sério, como o 001 (Oh Il-nam) é uma das melhores personagens.

Ah, não podia deixar de mencionar que há muitas cenas que a mentalidade Ocidental não consegue entender ou aceitar. Uma série feita na Coréia do Sul não tem nada a ver com Hollywood em termos de cosmovisão, e é por isso que nos desaponta algumas vezes. 

E termino com um agradecimento ao produtor e diretor Hwang Dong Hyuk, e também ao Apóstolo Paulo que disse: "Examinai tudo. Retende o que é bom." (1 Ts. 5.21)

Instagram: @vacilius.lima