Servos bem dispostos querem promover a alegria e o consolo aos que choram. Este seria o natural. O que seria antinatural? Estes servos não se permitirem sorrir para suas próprias alegrias, enquanto servem para a alegria dos outros, e ainda o perigo de não encontrarem oportunidade de chorar as suas próprias dores e perdas.
Qual seria a razão de vivermos somente a alegria e a tristeza dos outros? Vejo algumas:
Primeiramente, o nosso "olhar tristonho" para Jesus, enquanto um ser humano que viveu entre nós, limita o nosso sorriso, porque normalmente, Ele é retratado de modo cabisbaixo, reflexivo e triste, o que não é mal em si, sentimentos que tem o seu lugar, mas que não pode ser apenas assim.
A Bíblia registra que Ele chorou (Jo. 11.35) e também destaca que Ele transformou a água naquilo que é símbolo de alegria, o vinho (Jo. 2.1-12 cf. Sl. 4.7; Jr. 48.33), com o detalhe que Ele estava num ambiente em que os sorrisos são característicos, uma festa, ambiente de abraços, de danças, de sorriso.
E, diga-se de passagem, que a promessa messiânica dos efeitos e das bênçãos do Evangelho destaca a alegria, na profecia de Isaías 61:1-2: "A apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; a ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado"
Há um espaço, portanto, para sorrir no Evangelho.
Em segundo lugar, há o perigo de trabalharmos em "produção em série", ou seja, sorrimos com quem está alegre, e sem muita atenção, porque precisamos correr para abraçar os que choram, e como sempre há quem chora, choramos o choro dos outros, e ficamos anestesiados com o nosso próprio choro.
Então, há o perigo de adiarmos o nosso luto. Não temos "tempo a perder" com o nosso choro, e nos esquecemos que nem sempre é choramingo leviano. E se fosse? Não haveria problema de nos permitir sentimentos aparentemente pequenos e insignificantes, porque se os sentimos são importantes, porque falam sobre nós.
Precisamos ter "olhos de ver" a nós mesmos. Os nossos sentimentos são importantíssimos.
Qual é a maior problemática de não atentarmos para os nossos sentimentos?
Se não atentarmos aos nossos sentimentos adoecemos e já não teremos a sensibilidade devida aos outros.
Se a alegria que sorrimos é sempre a dos outros, e as nossas lágrimas sempre é o choro dos outros, somos desumanizados num processo de auto robotização. Perdemos assim, a bênção de nos identificar com Jesus, que sendo Deus/homem, chorou e sorriu.
Vamos relembrar que a nossa principal chamada é de sermos conformes a imagem de Jesus (Rm. 8:29), o que nos desafia a viver também os nossos sentimentos, com os quais Ele nos criou.
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